LEMBRAR O ZECA
LEMBRAR
O ZECA
Neste dia 23 de
Fevereiro de 1987, desapareceu de entre nós Zeca Afonso com apenas 57 anos de
idade.
Era um homem simples e
solidário, pois poucos devem saber que em 1969 rejeitou um convite do espanhol
Joaquim Diaz, para participar num festival em que estariam presentes Joan Baez
e Bob Dylan entre outros, mas o Zeca preferiu estar com os estudantes em
Coimbra em plena crise académica.
Nunca aceitou ser
medalhado pelos coveiros de Abril.
Primeiro pelo
Presidente da República, general Ramalho Eanes, que lhe atribuiu a Ordem da
Liberdade, mas o cantor recusa-se a preencher o formulário, e em 1994, Mário
Soares, tentou condecorá-lo com a mesma medalha (já a título póstumo), mas a
mulher Zélia, recusou, alegando que se José Afonso não desejou a distinção em
vida, também não seria após a sua morte que seria condecorado.
Parte final do concerto no Coliseu em Lisboa |
As últimas aparições ao
vivo de José Afonso, montam ao ano de 1983.
Primeiro num concerto
no coliseu em Lisboa no dia 29 de Janeiro, gravado pela RTP.
No entanto o último
concerto do Zeca foi o que se realizou no dia 25 de Maio de 1983 na cidade do
Porto, organizado por Avelino Tavares, promotor musical da revista “MC” Mundo
da Canção. Pena foi que este concerto não tivesse direito a filmagem ou
simplesmente a um registo sonoro.
No dia seguinte ao
concerto Zeca Afonso e sua mulher Zélia seguem de comboio para Coimbra, para
este receber a medalha de honra da cidade.
O autor da proposta de
atribuição da medalha de ouro da cidade ao cantor José Afonso, foi António
Portugal e aceite por unanimidade pela Assembleia Municipal de Coimbra.
Entre guitarras de fado
e estudantes de Coimbra, no dia 27 de Maio no Jardim da Sereia, Zeca agradece a
homenagem e o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Fernando Luís Mendes
Silva, no final da sua intervenção diz o seguinte:
“A
cidade de Coimbra, a tua cidade, em momento de gratidão bem alto, concedeu-te a
medalha de ouro com que distingue os seus vultos mais ilustres.
Bem
a mereceste, pois fazes parte da sua história por direito próprio.
Perdoa
o meu orgulho e o meu desvanecimento, mas nem imaginas a felicidade que vai em
mim.
Obrigado
Zeca
Volta
sempre. A casa é tua”.
Não quero converter-me
numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem,
respondeu José Afonso.
Desta última aparição
em público, e à revelia do autor, é publicado pelo Foto Sonoro o maxi-single
“Zeca em Coimbra”, disco raro e que por vezes nem consta de algumas discografias
da obra do autor.
Este disco “Zeca em
Coimbra” conta com a participação dos cantores Luis Marinho, António
Bernardino, dos guitarristas António Portugal, António Brojo e dos violas
Aurélio Reis, Luis Filipe e Rui Pato, e fazem parte as canções: “Trás Outro
Amigo Também”, “Tenho Barcos Tenho Remos”, “Dueto Concertante” e “Saudades de
Coimbra” cantada pelo Zeca Afonso, e é com ela que vamos ficar neste domingo.
Para terminar, só
queria dizer que José Afonso foi um símbolo vivo de luta contra o fascismo, e um
homem de uma verticalidade ímpar em defesa de Abril, usando como arma a palavra.
Bem sei que este texto
não é por vezes o politicamente correcto, pelo que haverá quem goste e quem não
goste, porque ontem, hoje e amanhã, os desalinhados sempre causaram incómodo.
- Bom domingo!
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