A HISTÓRIA DA CASA E DO SEU BRASÃO
A
HISTÓRIA DA CASA
E
DO SEU BRASÃO
Nos meus passeios
matinais, muitas vezes calcorreio a Rua do Cavalum, rumo ao Parque da Cidade, e
deparo com uma pequena casa de aspecto rural com um brasão voltado para a rua na
esquina da mesma.
Andava-me a
matraquilhar na cachimónia, como uma casa tão humilde ostentava um bonito
brasão.
A resposta foi-me dada
pelo historiador penafidelense Simão Rodrigues Ferreira, nos seus apontamentos
para a história topográfica de Penafiel.
Este brasão estava
colocado no prédio que serviu de Paço quando Penafiel tinha bispado, e que
pertencia a uma senhora da família dos Beças d’Arrifana.
Casando esta senhora
com um dos de Barbosa, colocaram as suas armas no cunhal da casa, a banda do
poente.
Quando foi comprada a
casa para residência do bispo, as armas desta família foram apeadas, e o sr. dr.
José Pereira Monteiro, alegando parentesco com os tais Beças, e obtendo-as, as
colocou na sua quinta do Cavalum onde existem no cunhal da casa.
Esta quinta,
presumivelmente por questões de partilhas, foi dividida, e a parte
correspondente à casa onde se encontram as armas de Beças e Barbosa, é
actualmente chamada de Quinta do Laranjal.
Interpretação destas
armas:
Partidas de Beça e de
Barbosa. Timbre do primeiro apelido. Elmo de grade.
Beça – De oiro, com
três faixas de vermelho, bordadura do mesmo carregada de dez crescentos de
prata.
Timbre – De um lobo
sainte de vermelho, carregado dum crescente de prata na espádua.
Barbosa – De prata com
uma banda de azul carregada de três crescentos de oiro, e ladeada de dois leões
afrontados e trepantes de púrpura.
Timbre: Um leão sainte
de púrpura.
António de Azevedo Melo e Carvalho |
Segundo ainda Simão
Rodrigues Ferreira, nesta casa, nasceu em 11 de Maio de 1795, o conselheiro
António de Azevedo Melo e Carvalho, que foi de facto, uma notável figura
pátria.
Formou-se em direito na
Universidade de Coimbra em 1817.
Exerceu vários cargos
da magistratura no Brasil e o de juiz da Relação de Lisboa, sendo depois
presidente da mesma.
Antes de ser ministro
do reino, teve igual cargo na justiça e, ainda antes, juiz de fora de Coimbra.
Pertenceu também ao Supremo Tribunal de Justiça.
António de Azevedo Melo e Carvalho notabilizou-se pela emissão da
Portaria de 8 de Novembro de 1847, que determinou que em todos os concelhos as respectivas Câmaras Municipais elaborassem um livro especial, denominado "Anaes do Município".
Teor da portaria:
“Sua majestade a Rainha há por bem ordenar
que, em cada uma das câmara municipais dos concelhos do reine, e ilhas
adjacentes, haja um livro especial com a denominação de “Anaes do Município”, no qual anualmente se
consignam os acontecimentos e os factos mais importantes que ocorrerem, e
cuja memória seja digna de conservar-se; as descobertas de riquezas,
substâncias e combustíveis minerais; o aumento ou diminuição da produção
agrícola e as causas; a longevidade das pessoas de que houver notícia, com a
declaração do modo de vida que tiveram e do seu alimento habitual; as acções
generosas e os nomes de seus autores, que mereçam ser transmitidas às gerações
futuras; e, finalmente, tudo quanto possa interessar às tradições locais. Para
este fim quer sua majestade, que os presidentes das municipalidades, nomeiem
comissões compostas de alguns vereadores e vogais de concelho municipal que
forem julgados mais aptos, a qual, em todos os anos no princípio do mês de
Março, e depois das reuniões necessárias, redigirá uma memória que contenha as
notícias e esclarecimentos acima indicados; e sendo lançada em letra bem
legível no referido livro, que se guardará cuidadosamente no arquivo da Câmara.
Será assinada por todos os vogais da comissão. O que a mesma Augusta senhora
manda pela secretário de estado dos negócios do reino participar ao governador
civil de Viana para seu conhecimento, e para que, expedindo, nesta
conformidade, as convenientes ordens às câmaras municipais do distrito a seu
cargo, fiscalize a execução dela por intervenção dos administradores
respectivos”.
Palácio
das Necessidades, 8 de Novembro de 1847.
António
de Azevedo Melo e Carvalho.
(Idênticas a todos os
governadores civis).
Hoje podemos ver o alcance de tal documento para os vindouros.
Poderíamos saber como foram os remédios para muitos males, em relação à crise
do comércio, na indústria, na agricultura, na guerra, doenças nos animais e
vegetais e o remédio que lhes foi aplicado.
Claro que ninguém ligou patavina à
portaria, e hoje pouco ou nada se sabe sobre as vivências dos nossos
antepassados.
No concelho de Penafiel apenas se registou a moléstia dos castanheiros
nas margens do Rio Sousa.
Como estamos num sítio chamado Portugal, ontem como hoje, as coisas não
são para levar a sério.
- Foi pena!... Mas que lhe havemos de fazer?
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