01 maio 2019

BODAS DE PRATA DAS TROPAS ESPECIAIS


BODAS DE PRATA

DAS TROPAS ESPECIAIS
 


Continuando o tema anterior das Tropas Especiais em Penafiel, no dia 5 de Setembro de 1965, os instruendos do Curso de Sargentos Milicianos de 1940, cujo Centro de Instrução N.º 2, funcionou no quartel de Penafiel, vieram de vários recantos do país, festejar, na cidade de Penafiel, as suas Bodas de Prata.

Apesar de terem passado 25 anos, esta rapaziada, nunca mais esqueceu o seu quartel, e a hospitalidade destas gentes a quando da sua passagem por Penafiel, no início da sua vida militar. 


Vieram matar saudades, relembrar velhas histórias, reviver as reminiscências de um passado, revestido de mocidade, alegria, satisfação de um dever cumprido.



Consoante vão chegando, ao Campo do Conde de Torres Novas, vão-se trocando abraços, revive-se tempos passados, onde a camaradagem vivida dentro das paredes do velho quartel, desaguou numa amizade que não se esquece. 


Cerca das 10 horas, uma coluna com algumas dezenas de automóveis entra na Avenida Egas Moniz buzinando, parando em frente ao quartel.



Lá os espera o Sr. Coronel Castilho, Comandante do R,A,L, 5, que dava as últimas ordens que eram transmitidas pelo sr. Tenente Amado aos seus subalternos e prontamente executadas.



A Fanfarra dava os retoques finais na indumentária dos dias de Grande Gala e as tropas ali aquarteladas preparavam-se para receberem os seus irmãos de armas que há vinte e cinco anos tinham passado pelo quartel de Penafiel. 

Coronel Fontes - Presidente da Câmara de Penafiel


Ás 11horas chegou o sr. Comandante da 1.ª Região Militar, Brigadeiro Pires Nunes, que era aguardado pelo Comandante do R.A.L. 5, Coronel Castilho, oficiais e pelo Presidente da Câmara de Penafiel, Coronel Cipriano Alfredo Fontes, que depois dos cumprimentos de boas-vindas, passou em revista ás tropas formadas em frente ao regimento. 


Em altar montado no Campo do Conde de Torres Novas, vulgarmente chamado de Campo da Feira, foi celebrada uma missa campal, pelo Reverendo Cónego Dr. Isaías da Rosa Pereira, que também fez parte daquele grupo de Sargentos Milicianos, em acção de graças por todos aqueles que fizeram parte do Centro de Instrução N.º 2. 


Após a missa, as tropas marcharam em direcção ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra. Aí os antigos Milicianos, entregaram ao sr. Presidente da Câmara de Penafiel um ramo de cravos que por sua vez o entregou ao sr. Comandante da 1.ª Região Militar que o depôs no sopé do Monumento. 

Juntos à Igreja da Misericórdia.



Regressados ao quartel, foi descerrada uma placa comemorativa, tendo antes o Reverendo Cónego Dr. Isaías proferido algumas palavras. A placa que ficará, sem dúvida, a marcar para sempre esta festa, tem os seguintes dizeres:

“O Curso de Sargentos Milicianos de 1940, comemorando as Bodas de Prata – Responde à chamada”. Penafiel 5-9-65”

Depois desta cerimónia, foi promovida uma visita guiada ao quartel.





Num dos parques da unidade, foi servido depois um magnífico almoço que serviu à maravilha para um melhor convívio entre todos aqueles, que há vinte e cinco anos, pela primeira vez, ultrapassaram a porta de armas para o cumprimento do Serviço Militar Obrigatório.



Aos brindes falaram os senhores Dr. José Horta que teceu um hino de louvor a Penafiel, fazendo referência ao grande Egas Moniz, aio do nosso primeiro rei, sepultado no Mosteiro de Paço de Sousa. De seguida usou da palavra o sr. Pinheiro da Rocha, que agradeceu ao Comandante do R.A.L. 5 as facilidades concedidas para que esta manifestação tivesse lugar e cumprimentou o Presidente da Câmara o Coronel Fontes, que honrou com a sua presença aquela festa de recordações e saudade.



O sr. Eugénio Paiva Freixo Guedes da Silva leu aos presentes com a seguinte poesia:



PENAFIEL



Mal nos avistamos, tudo foi de pronto?

De braços abertos, de olhos rebrilhantes,

Tu, Penafiel, correste ao nosso encontro,

Para ti corremos como há anos antes?



Ai! o louco abraço! Ai! a emoção sentida!

Ai! O que dissemos sem falar um só!

Voltaram os netos da vida perdida

Ao regaço quente da Fidalga Avó!



Voltaram os netos a entrar o portão

Do velho solar, tão belo e tão manso

Para um dia apenas de meditação

Sobre a longa ausência, sem par, nem descanso…



Voltaram os netos com o mesmo alvoroço

Para recordar, e reviver ainda!

Cada qual, as horas de menino e moço,

Sempre sob afaga de uma Avó tão linda!



Lá estava tudo como fora outrora

Os buxos as flores, as áleas do Jardim…

Até aquela árvore, já crescida agora,

Que nós plantamos… Tudo, tudo, enfim





Com igual pureza e a mesma suavidade

Das coisas que o tempo, não gasta jamais!

Nós te bendizemos, barco da Saudade,

Que foste buscar-nos a todos os cais!



Falaram ainda o sr. António Grácio, o Comandante do  RAL 5, Coronel Castilho, que terminou a sua alocução com um brinde à Artilharia e, por fim, o Comandante da 1.ª Região Militar Brigadeiro Pires Nunes.



Muitos ainda percorreram as ruas da cidade, antes de regressarem ás suas terras.





Em 1990, alguns ainda vieram comemorar as Bodas de Ouro, visitando o CICA 1. 



Geralmente, quando falamos de “Tropas Especiais”, logo nos vem à ideia, pessoas que se transformaram em autênticas máquinas de guerra, mas estas que aqui trouxe ao blogue, são de outra categoria.



Se fossem vivos, seriam centenários, pelo que o normal é já terem terminado a sua missão na Terra, mas porque a sua passagem por esta cidade deixou marcas no coração das suas gentes, de tal maneira, que ainda hoje merecem serem lembrados.



Afinal de contas, estas vivências, também fazem parte da história da nossa terra.

Fernando Oliveira – Furriel de Junho