EÇA DE QUEIROZ EM PENAFIEL
EÇA
DE QUEIROZ EM PENAFIEL
José
Maria de Eça de Queirós, mais conhecido por Eça de Queiroz, além
de escritor, também foi diplomata português.
Eça
de Queiroz, nasceu na Póvoa de Varzim, no dia 25 de Novembro de
1845, vindo a falecer em Neuilly-sur-Seine, a 16 de Agosto de 1900,
sendo na altura Cônsul de Portugal em Paris, tendo estado
anteriormente nos consulados de Havana em Cuba e em New-Castle na
Inglaterra.
Foto - Penafiel Alerta |
Penafiel,
está-se a tornar numa Havana, fazendo parte do cenário, onde está
a ser rodada uma nova série para a RTP (Rádio Televisão
Portuguesa), sobre a vida de Eça de Queiroz em Cuba.
Talvez
muitos penafidelenses não saibam, mas este grande romancista esteve
em Penafiel, no dia 23 de Maio de 1892.
Eça
de Queiroz, veio propositadamente a Portugal para fazer as partilhas
por morte da sua sogra, a Condessa de Resende, ficando em Paris a sua
esposa D. Emília Resende e seus filhos.
Nessas
partilhas, foi adjudicada a esta filha, D. Emília, a Quinta de Santa
Cruz do Douro, em Baião, a célebre Tormes de “A Cidade e as
Serras”, e à filha D. Benedita a Quinta da Torre, sita na
freguesia de Beire do concelho de Paredes.
Eça
de Queiroz e a sua cunhada D. Benedita, resolveram fazer uma viagem a fim
de conhecerem as propriedades que lhes couberam por herança.
Assim,
no dia 23 de Maio de 1892, abalaram de comboio do Porto para
Penafiel, a fim de seguirem para Beire.
Na foto vê-se o Hotel central onde mais tarde foi sede do Sindicato dos Caixeiros |
Chegados
a Penafiel, vão-se hospedar no Hotel Central, mais conhecido pelo
Hotel da D. Rita, onde se encontravam também hospedados alguns
oficiais do Regimento de Artilharia 4, aquartelado nesta cidade.
D.
Benedita escreve uma carta à sua irmã D. Emília a narrar esta
hospedagem no Hotel Central que diz o seguinte:
“ Foi-nos
recomendado como muito bom o Hotel Central, Lá fomos bater. Depois
de várias discussões, a dona da casa arranjou-nos dois quartinhos
nas águas furtadas visivelmente desabitados.
Ceamos
muito bem e deitamo-nos ás 11 horas.
Mal
a luz apagada...não lhe digo nada! Resolvi passar a noite sobre duas
cadeiras. Por volta da 1 hora ouvi a dona da casa mexer-se.
Chamei-a
e contei-lhe logo o que sucedia. Ela decidiu logo a questão: A
senhora vem para baixo e deita-se sobre a mesa de jantar! Assim fiz.
Deitou-se um colchão sobre a mesa, passaram roupa lavada, mas tudo
foi debalde. Atacaram-me as pulgas e era dia claro quando consegui
dormir umas horas. O José (Eça de Queiroz) entretanto não tinha
sido mais feliz, e entre a má cama e a repugnância pouco dormiu.
Ainda tivemos coragem para almoçar.
Partimos
então de carruagem para Beire.”
No
caminho admiramos Penafiel que é lindíssimo, é cheio de árvores,
de vegetação e tem um terraço de onde se gozam léguas em redor.
Do livro “Eça de Queiroz entre os seus”.
Eça
também retrata esta sua estadia por Penafiel no seu livro “Os
Maias” da seguinte maneira:
“...
e falou de Penafiel, onde chovera sempre tanto que ele vira-se
forçado a ficar em casa, estupidamente, a ler...
Uma
maçada! Ainda se houvesse ali umas mulheres para ir dar um bocado de
cavaco... Mas qual! Uns monstros. E eu, lavradeiras, raparigas de pé
descalço, não tolero... Há gente que gosta... Mas eu, acredite
Vossa Excelência, não tolero..”
Depois
de visitarem a Quinta da Torre, em Beire, meteram-se no comboio na
estação de Paredes, rumo a Santa Cruz do Douro.
Passados
muitos anos e com a morte de D. Benedita, esta quinta coube por
herança ao seu filho Dr. Luís Osório.
Um
dia, o Padre Américo, passou por lá e vendo o estado em que se
encontrava a quinta, mandou-lhe um bilhete postal, que rezava assim:
" Sr. Dr. Luís Osório:
Passei hoje à sua Quinta da Torre que encontrei abandonada. Se precisa dela para viver, guarde-a. Se não precisa deite-a para cá”
Passei hoje à sua Quinta da Torre que encontrei abandonada. Se precisa dela para viver, guarde-a. Se não precisa deite-a para cá”
Assinava
Padre Américo
No
dia 24 de Junho de 1954, foi lavrada escritura no Cartório Notarial
de Paredes, da doação da Quinta da Torre, em Beire, Paredes, à
Obra da Rua, representada pelo Padre Américo e com a presença do
generoso Dr. Luís Osório.
Uma
vez senhor da Quinta da Torre, o Padre Américo transformou-a por
completo e deu-lhe o nome de Calvário. Destinou-a, sobretudo a
doentes incuráveis, dando-lhes por assim dizer um lar onde nada lhes
falte.
Segundo
li na imprensa, nos dias que correm, há problemas sobre a gestão
desta casa e a Segurança Social, mas isso são contas de outro
rosário, que não vêm ao caso. No entanto, faço votos que tudo se
resolva, e este Calvário siga o rumo que o Padre Américo lhe
traçou.
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