14 dezembro 2018

EÇA DE QUEIROZ EM PENAFIEL

EÇA DE QUEIROZ EM PENAFIEL



José Maria de Eça de Queirós, mais conhecido por Eça de Queiroz, além de escritor, também foi diplomata português.



Eça de Queiroz, nasceu na Póvoa de Varzim, no dia 25 de Novembro de 1845, vindo a falecer em Neuilly-sur-Seine, a 16 de Agosto de 1900, sendo na altura Cônsul de Portugal em Paris, tendo estado anteriormente nos consulados de Havana em Cuba e em New-Castle na Inglaterra.

Foto - Penafiel Alerta

Penafiel, está-se a tornar numa Havana, fazendo parte do cenário, onde está a ser rodada uma nova série para a RTP (Rádio Televisão Portuguesa), sobre a vida de Eça de Queiroz em Cuba.

Talvez muitos penafidelenses não saibam, mas este grande romancista esteve em Penafiel, no dia 23 de Maio de 1892.

Eça de Queiroz, veio propositadamente a Portugal para fazer as partilhas por morte da sua sogra, a Condessa de Resende, ficando em Paris a sua esposa D. Emília Resende e seus filhos.

Nessas partilhas, foi adjudicada a esta filha, D. Emília, a Quinta de Santa Cruz do Douro, em Baião, a célebre Tormes de “A Cidade e as Serras”, e à filha D. Benedita a Quinta da Torre, sita na freguesia de Beire do concelho de Paredes.



Eça de Queiroz e a sua cunhada D. Benedita, resolveram fazer uma viagem a fim de conhecerem as propriedades que lhes couberam por herança.



Assim, no dia 23 de Maio de 1892, abalaram de comboio do Porto para Penafiel, a fim de seguirem para Beire.

Na foto vê-se o Hotel central onde mais tarde foi sede do Sindicato dos Caixeiros



Chegados a Penafiel, vão-se hospedar no Hotel Central, mais conhecido pelo Hotel da D. Rita, onde se encontravam também hospedados alguns oficiais do Regimento de Artilharia 4, aquartelado nesta cidade.

D. Benedita escreve uma carta à sua irmã D. Emília a narrar esta hospedagem no Hotel Central que diz o seguinte:



Foi-nos recomendado como muito bom o Hotel Central, Lá fomos bater. Depois de várias discussões, a dona da casa arranjou-nos dois quartinhos nas águas furtadas visivelmente desabitados.



Ceamos muito bem e deitamo-nos ás 11 horas.



Mal a luz apagada...não lhe digo nada! Resolvi passar a noite sobre duas cadeiras. Por volta da 1 hora ouvi a dona da casa mexer-se.



Chamei-a e contei-lhe logo o que sucedia. Ela decidiu logo a questão: A senhora vem para baixo e deita-se sobre a mesa de jantar! Assim fiz. Deitou-se um colchão sobre a mesa, passaram roupa lavada, mas tudo foi debalde. Atacaram-me as pulgas e era dia claro quando consegui dormir umas horas. O José (Eça de Queiroz) entretanto não tinha sido mais feliz, e entre a má cama e a repugnância pouco dormiu. Ainda tivemos coragem para almoçar.



Partimos então de carruagem para Beire.”





No caminho admiramos Penafiel que é lindíssimo, é cheio de árvores, de vegetação e tem um terraço de onde se gozam léguas em redor. Do livro “Eça de Queiroz entre os seus”.




Eça também retrata esta sua estadia por Penafiel no seu livro “Os Maias” da seguinte maneira:



... e falou de Penafiel, onde chovera sempre tanto que ele vira-se forçado a ficar em casa, estupidamente, a ler...

Uma maçada! Ainda se houvesse ali umas mulheres para ir dar um bocado de cavaco... Mas qual! Uns monstros. E eu, lavradeiras, raparigas de pé descalço, não tolero... Há gente que gosta... Mas eu, acredite Vossa Excelência, não tolero..”



Depois de visitarem a Quinta da Torre, em Beire, meteram-se no comboio na estação de Paredes, rumo a Santa Cruz do Douro.

Passados muitos anos e com a morte de D. Benedita, esta quinta coube por herança ao seu filho Dr. Luís Osório.



Um dia, o Padre Américo, passou por lá e vendo o estado em que se encontrava a quinta, mandou-lhe um bilhete postal, que rezava assim:

" Sr. Dr. Luís Osório:
Passei hoje à sua Quinta da Torre que encontrei abandonada. Se precisa dela para viver, guarde-a. Se não precisa deite-a para cá”

Assinava Padre Américo

No dia 24 de Junho de 1954, foi lavrada escritura no Cartório Notarial de Paredes, da doação da Quinta da Torre, em Beire, Paredes, à Obra da Rua, representada pelo Padre Américo e com a presença do generoso Dr. Luís Osório.



Uma vez senhor da Quinta da Torre, o Padre Américo transformou-a por completo e deu-lhe o nome de Calvário. Destinou-a, sobretudo a doentes incuráveis, dando-lhes por assim dizer um lar onde nada lhes falte.

Segundo li na imprensa, nos dias que correm, há problemas sobre a gestão desta casa e a Segurança Social, mas isso são contas de outro rosário, que não vêm ao caso. No entanto, faço votos que tudo se resolva, e este Calvário siga o rumo que o Padre Américo lhe traçou.