23 janeiro 2019

MUSEU SOBRAL MENDES

MUSEU MUNICIPAL DE PENAFIEL
TEM OU TINHA O NOME DE
SOBRAL MENDES



Na reunião de Câmara do dia 17 de Abril de 1948, estando presente o SR. Presidente Afonso Henrique de Sobral Mendes,o Vice-presidente, o Tenente António de Carvalho Sampaio e os vereadores os Srs. Dr. Adriano Pinto Lopes, José Adelino Carneiro Geraldes de Noronha e Menezes, António Pinto Lopes de Amorim e Manuel Barbosa Rodrigues Moreira.

A proposta apresentada pelo Sr. Presidente da Câmara e aprovada por unanimidade, para a criação do Museu Municipal de Penafiel, dizia o seguinte:

Proposta
Atendendo a que considero da máxima utilidade a existência junto da Biblioteca de um museu de arte, arqueologia e etnografia, venho propor para que a Comissão Municipal de Cultura, seja autorizada a proceder à sua criação.

Consultando a Acta da reunião da Comissão Municipal da Cultura, realizada no dia 30 de Março de 1949, verifiquei que o secretário da mesma Abílio Pinto Soares de Miranda propôs o nome de Sobral Mendes para o Museu, o que foi aceite por unanimidade. 

Abílio Miranda no Museu Sobral Mendes


A intervenção de Abílio Miranda é tão importante para os penafidelenses compreenderem como vieram parar as peças por ele coleccionadas ao nosso museu, que não resisti em publicá-la.

Vejamos:

Aos 30 dias do mês de Março de 1949, sob a presidência da Ex.ma Senhora D. Maria Luísa Sobral Mendes de Araújo, estando presentes todos os seus membros excepto o Ex.mo Senhor Presidente efectivo por se encontrar doente, reuniu na Biblioteca Pública, a Comissão Municipal de Cultura, que entrando a tratar dos assuntos que lhe são inerentes, deliberou o seguinte:

a) Autorizar o bibliotecário a contratar, com a gratificação que entender, como auxiliar dos serviços da Biblioteca, o sr. António Carlos Moreira.

b) Pelo secretário (Abílio Miranda) da referida comissão foi dito:

“Meus Ex.mos Confrades.
Desde bastante novo que trabalho para a organização de um Museu de Etnografia e História, que, estabelecido aqui, na cidade, ficaria sendo o repositório de valores a testemunhar de maneira inequívoca o nobre e venerando o passado de toda a terra de Penafiel. Para tal fim, fui arrecadando em minha casa variadas achegas, algumas de grande valor arqueológico.

Perdida a esperança da criação do museu penafidelense, principiava a inquietar-me a ideia de que à minha morte iria aniquilar tão apreciável património histórico, o que constituiria uma falta grave para o engrandecimento tradicional da terra que guardou como extremosa Mãe no seu seio, durante milénios e séculos, tão valiosos elementos da sua vida de nobre antanho.

Convidado para fazer parte, da comissão organizadora do museu Provincial de Etnografia e História, aí depositei todos os objectos que possuía e alguns mais, que, nessa ocasião, consegui obter, objectos que foram conseguidos com a máxima honestidade.

Agora, como o Ex.mo Presidente da Câmara deu início ao museu referido, por sua proposta em sessão camarária de 17 de Abril de 1948, é com grande júbilo para a minha alma de Penafidelense que ofereço ao município todos os objectos depositados em meu nome, no Museu Provincial de Etnografia e História, com sede no Porto.

Ponho, porém, a condição destes objectos só regressarem a Penafiel, quando deixar de ser director efectivo do alusivo museu da Província o Ex.mo Senhor Dr. Augusto César Pires de Lima, porque desejo, assim, prestar homenagem de respeito ao inteligente esforço deste querido amigo e companheiro de trabalho no arroteamento da história da Sagrada Vinha Pátria!

No meio em que a nossa terra assenta na região mais rica das acções do passado ancestral, com a boa vontade da nossa Comissão e de todos os Penafidelenses, depressa tomará apreciável vulto o nosso museu, de modo a honrar o concelho e o município que o criou e que continuará como uma necessidade perdurável.” 

 
c) Pelo mesmo secretário foi proposto que o museu criado por deliberação camarária de 17 de Abril de 1948 ficasse a chamar-se “Museu Sobral Mendes”, proposta esta entusiasticamente aprovada por unanimidade.

d) O referido secretário propôs ainda o seguinte:

Atendendo à necessidade que há de um nosso representante perante o município, que seja nomeado Presidente desta Comissão Municipal de Cultura, o Ex.mo Senhor Dr. Francisco da Silva Mendes, nosso inteligente e valioso confrade, enquanto durar o impedimento do respectivo Presidente titular, o Ex-mo Senhor Dr. Pinto Lopes, o que foi igualmente aprovado por unanimidade.

Não havendo mais nada a tratar a Ex.ma Senhora Presidente deu por encerrada a sessão, e eu, Abílio Pinto Soares de Miranda, secretário da Comissão Municipal da Cultura, lavrei esta acta que também vou assinar.

(seguem-se as assinaturas)


A lista dos objectos pertença de Abílio Miranda que se encontravam à guarda no Museu Provincial de Etnografia e História, com sede no Porto.

Fotografia do antigo «Mosteiro de Paço de Sousa»
Um anel de fíbula, romano
Folheto do «Privilégio concedido aos Boticários de Portugal» (D. Afonso III)
Um exemplar da Pharmacopeia Tubalense Chimico - Ga lenica
Um anel de bronze com duas caras gravadas (romano)
Um anel de azeviche (romano)
Um estilo de bronze, (romano)
Uma estatueta romana, de bronze, de «Deus Marte»
Dois cestos de ferro (fachos)
Uma lucerna romana de barro
Fragmento de vidro de um vaso (romano)
Nove vasos romanos de diversos formatos e tamanhos
Um fragmento de vaso romano
Um vaso de barro
Cinco vasos de barro (romano)
Um fragmento de ampula (romano)
Duas ampulas de barro (romano)
Um tinteiro de terra sigilata (romano)
Um prato de terra sigilata (romano)
Duas olas de barro—uma grande com asas e a pequena com uma asa (romanas)
Um prato de barro (romano)
Fragmento de prato, romano (terra sigilata)
Urna ampula (romana)
Uma ampula
Duas regras de S. Bento, encadernadas em carneira, metidas numa saca de chita
Carta de cirurgião em pergaminho, passada a Teodoro Gonçalves, do lugar da Matança, freguesia de Mugueia, Comarca de Lamego —1791
Peso de tear procedente do •Monte Mózinho», Penafiel (romano)
Peso de tear, de barro, procedente do «Monte Mózinho• Peso de tear de barro procedente do »Monte Mózinho• (romano)
Lucerna romana com legenda, procedente do «Monte Mózinho»
Redução de peça de olaria romana, procedente do «Monte Mózinho»
Pedra trabalhada (arte castreja) procedente do «Monte Mózinho»
Pedra trabalhada (arte castreja) procedente do «Monte Mózinho»
Pedra de Gonzo trabalhada . (arte castreja) procedente do «Monte Mózinho»
Frasco de vidro romano, (mutilado) procedente do «Monte Mózinho.
Um almofariz de farmácia, de marfim, sem pisão.
Um batente (aldraba) representando um cão
Padieira castreja, procedente de Mesão Frio «Monte Mózinho.-Penafiel
Pedra com decoração castreja, procedente do «Monte Mózinho »-Penafiel
Padieira de Janela castreja, procedente do «Monte Mózinho»-Penafiel
Pedra com decoração castreja, procedente do «Monte Mózinho•-Penafiel»
Amforeta de barro, procedente da Necrópole de Mesão Frio «Monte Mózinho
Mó manual procedente de Novelas-Penafiel
Alfinete de bronze romano, procedente da Cidade Morta Anel de fibula, romano, procedente da Cidade Morta
Fibula incompleta, em bronze romana, procedente da Cidade Morta-Penafiel
Azulejo Hispano, Árabe, procedente de Santa Marta—Penafiel
Peso de pedra, romano, procedente da freguesia de Croca—Penafiel
Peso de pedra romano, procedente da freguesia de Croca Penaftel
Peso de pedra, ornamentado com diversos motivos decorativos e uma Cruz
Fíbula romana? Procedente de Penafiel (está partida)
Marco de pedra com cruz e outros sinais, procedente de Penafiel.
Um prato de barro partido e mais três fragmentos (romano) Um prato de barro partido e mais dois fragmentos (romanos)
Um prato de barro, colado no rebordo
Um prato de barro incompleto
Dois pratos de barro colados, um partido em 2 bocados e o outro 1 (romano)
Um prato de barro de irregular concavidade (Partido) (romano)
Dois pratos de barro iguais (romano)
Um vaso romano de barro, (mutilado)
Um vaso campaniforme
Um vaso de barro, pintado de negro, (tipo etrusco) mutilado
Uma ampula com grafito (romano)
Uma ampula (romana)
Um vaso de barro negro com asa (romano)
Uma ampula (romana)
Um vaso romano de barro canelado, (Mutilado)
Uma ampula, (Mutilada) (romana)
Um vaso de barro (Mutilado), (romano)
Uma ampula (romana)
Fragmento de prato (romano)
Um prato de barro (romano)
Fragmento de prato (romano) 

 
Hoje francamente não sei se o Museu Municipal de Penafiel se continua a chamar Sobral Mendes, ou se os arrumadores da história já o safaram da história local, à espera de um iluminado qualquer, que o venha baptizar de qualquer coisa