AS GRAÇAS DA VIRGEM PEREGRINA
AS GRAÇAS DA
VIRGEM PEREGRINA
Actualmente no mês de Maio, verifico que os
católicos no concelho de Penafiel, vão rezando o Terço em vários pontos de
encontro pré-estabelecidos na cidade de Penafiel e concelho, terminando por
vezes com uma procissão de velas.
No
período da quaresma, mais propriamente na Semana Santa, por todo o mundo
cristão, multiplicam-se estas procissões nocturnas.
Em
Penafiel, a mais afamada é a procissão das Endoenças em Entre-os-Rios. A mesma
une as duas margens do Rio Tâmega e os concelhos de Penafiel e do Marco de Canaveses.
Mas
no ano de 1965, para além das calendarizadas anualmente ainda se vieram juntar
as procissões da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que chegou a
Penafiel no dia 29 de Novembro de 1964,
e depois de ter percorrido as 32 paróquias das Vigarias de Penafiel, foi
levada em cortejo motorizado no domingo dia 18 de Julho de 1965 para Santo
Tirso, no final de uma missa campal que teve lugar no Campo de Torres Novas (Campo
da Feira), celebrada pelo Bispo do Porto, D. Florentino de Andrade e Silva. A
passagem da imagem da Virgem de uma freguesia para a outra era realizada
através de uma procissão de velas.
Vou
falar de uma procissão nocturna realizada no dia 9 de Fevereiro de 1965, que
acompanhei de Bustelo a Croca. Embora na altura fosse jovem e nada me custou,
hoje reconheço, que para muitas pessoas a mesma foi um grande sacrifício, pois
embora a distância não seja muita, era feita sempre em subida.
Terminada
a missa presidida pelo Bispo Auxiliar do Porto D. Alberto Cosme do Amaral, na
Igreja magnífico templo beneditino, dos princípios do séc. XVIII, foi
organizada pelo pároco de Bustelo, Francisco Ribeiro de Almeida, uma imponente
procissão de velas com acompanhamento de milhares de fiéis, e o andor da Virgem
Peregrina, através da Quinta de Segade, gentilmente cedida pelo Ex.mo Doutor
Professor Sousa Pereira, sendo recebida triunfalmente na Igreja Paroquial de Croca, que se tornou
pequena para tamanha multidão, onde era aguardada pelo pároco das freguesias de
Croca e Santa Marta, Agostinho da Mota.
No
dia 12 do mesmo mês, pelas 21 horas a Virgem Peregrina, foi em procissão de
Croca para Santa Marta, onde irá permaneceu até ao dia 14 sendo depois levada
em cortejo automóvel noturno para a freguesia de S. Vicente do Pinheiro.
É
durante esta permanência da Virgem Peregrina em Croca e Santa Marta, que duas
Graças são concebidas pela Mãe do Céu.
A
primeira foi contada por Justino de Sousa Babo, homem sério e laborioso operário
de carpintaria, residente no lugar de Pedrantil, freguesia de Croca, sendo de
todos bem conhecido pelo seu carácter e formação cristã.
“Dentre
os meus filhos que o Senhor me deu, tinha um dos mais novos muito doente e que
se chama Rosalina de Jesus Babo, que há muito vinha definhando na medida em que
ia aparecendo inchada e denegrida. Ia com ela ao médico várias vezes, o qual
depois de a medicar e lhe ser feito o tratamento prescrito, ordenou o seu
internamento imediato no Hospital Maria Pia do Porto.
Regressando
a casa triste e desanimado, resolveu confiar na Divina Providência que tudo
dispõe por bem.
Para
o hospital é que a filha não iria pois sabia que a trazia morta.
Entretanto
a Virgem Peregrina dava entrada na freguesia onde permaneceria três dias.
Justino Babo não falta ás pregações e trabalha afincadamente na recepção da
Senhora de Fátima, quantas horas senão dias inteiros entregues, a estes
trabalhos da preparação!
Um
dia ouve na igreja o pároco Agostinho da Mota dizer aos chefes de família:
“Amanhã, dia 11, é a consagração dos pais a Nossa Senhora”. Cada casal ajoelhará
diante da Virgem e junto ao andor deixará escrito num papel o favor que deseja
obter da Mãe do Céu.
E
assim foi Justino de Sousa Babo e esposa Agostinha de Jesus, no dia e hora
marcados, lá estavam, mas consigo traziam também a menina doente. Teimaram em
tocar com a filha na imagem peregrina. Rezaram com fé e partiram para casa,
deixando num cartão o seu pedido que o pároco recomendou no ofertório da missa.
A
Carolina de Jesus Babo, dia após dia começou a melhorar e dizem os pais que
está são e salva.
O
Dr. José Vitorino Santana, que na altura dirigia o posto médico social nesta
paróquia, confirmou que esta criança estava bastante grave com edemas e cianose
(membros inchados e denegridos), havendo má formação congénita cardíaca, pelo
que determinou o seu internamento.
Observando
de novo a menina, verificou que ela se encontra bem, corroborando o testemunho
dos pais.
Outro
relato que acabei e ler, fala de uma pobre mulher de 60 anos, chamada, Ana de
Jesus, esposa de Francisco Mendes Coelho e residente no lugar de Pedrantil –
Croca.
Tendo
estado internada no Caramulo por longos meses, regressou a casa, onde,
imobilizada e enfraquecida, aguardava os últimos momentos. Aqui, à medida que
ouvia a família contar-lhe o entusiasmo e a beleza das cerimónias religiosas da
sua igreja, de mistura com favores que a Virgem concedia a conhecidos seus,
assim is crescendo o desejo de ao menos estar presente com o seu marido no dia
da Consagração dos pais a Nossa Senhora.
Por
sua vez, Francisco Mendes Coelho, seu esposo, debulhado em lágrimas, conta-nos
o padre Missionário Sebastião da Imaculada, rezava ardentemente diante do andor
para que sua mulher se pudesse deslocar à igreja, a fim de se confessar e ver a
Virgem Peregrina que ás nove horas da noite do dia 12 de Fevereiro de 1965,
iria em procissão para Santa Marta.
Na
habitação do casal referido tudo era afã para que a vida doméstica ficasse cedo
em ordem e pudessem assistir aos actos litúrgicos. Enquanto as filhas vestem
seus fatos domingueiros e o convite dos sinos se faz ouvir em casa, mais na sua
alma cresce o desejo e a esperança da maior graça da sua vida.
Ana
de Jesus esforça-se por levantar e vê-se bem-sucedida. As filhas arranjam-na
apressadamente ainda amparada. Tenta a viagem com êxito e consegue atingir a
Igreja que fica à distância de 45 minutos para quem tem saúde. Aqui, ajoelha,
reza, pede, chora e confessa-se enquanto se vão aproximando as horas da
procissão de velas na qual os dois esposos se incorporam e ela sem
dificuldades faz o percurso até à Igreja
de Santa Marta que dista cerca de dois quilómetros e desta ainda se deslocou
para casa num percurso superior a cinquenta minutos.
Ana
de Jesus, ficou a movimentar-se como pessoa normal fazendo seus trabalhos
domésticos, acompanhando seus familiares para todos os actos de culto, como
testemunham quantos a conhecem.
Estes
relatos que li no jornal da terra “Notícias de Penafiel”, achei por bem
publicá-los neste mês de Maio que está a findar.
Que
Deus nos abençoe, e Nossa Senhora nos ajude no nosso dia a dia, pois ontem como
hoje, nós bem precisamos da sua bênção, para nos guiar e iluminar o nosso
caminhar terreno, pois sem ela, o caminho torna-se tão escuro e por vezes sem
saída, por mais luzes da ribalta que tenha.
Fernando Oliveira - Furriel de Junho
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