30 maio 2019

AS GRAÇAS DA VIRGEM PEREGRINA


AS GRAÇAS DA 
VIRGEM PEREGRINA


Actualmente no mês de Maio, verifico que os católicos no concelho de Penafiel, vão rezando o Terço em vários pontos de encontro pré-estabelecidos na cidade de Penafiel e concelho, terminando por vezes com uma procissão de velas.



No período da quaresma, mais propriamente na Semana Santa, por todo o mundo cristão, multiplicam-se estas procissões nocturnas.



Em Penafiel, a mais afamada é a procissão das Endoenças em Entre-os-Rios. A mesma une as duas margens do Rio Tâmega e os concelhos de Penafiel e do Marco de Canaveses.



Mas no ano de 1965, para além das calendarizadas anualmente ainda se vieram juntar as procissões da Virgem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima que chegou a Penafiel no dia 29 de Novembro de 1964,  e depois de ter percorrido as 32 paróquias das Vigarias de Penafiel, foi levada em cortejo motorizado no domingo dia 18 de Julho de 1965 para Santo Tirso, no final de uma missa campal que teve lugar no Campo de Torres Novas (Campo da Feira), celebrada pelo Bispo do Porto, D. Florentino de Andrade e Silva. A passagem da imagem da Virgem de uma freguesia para a outra era realizada através de uma procissão de velas.


Vou falar de uma procissão nocturna realizada no dia 9 de Fevereiro de 1965, que acompanhei de Bustelo a Croca. Embora na altura fosse jovem e nada me custou, hoje reconheço, que para muitas pessoas a mesma foi um grande sacrifício, pois embora a distância não seja muita, era feita sempre em subida.


Terminada a missa presidida pelo Bispo Auxiliar do Porto D. Alberto Cosme do Amaral, na Igreja magnífico templo beneditino, dos princípios do séc. XVIII, foi organizada pelo pároco de Bustelo, Francisco Ribeiro de Almeida, uma imponente procissão de velas com acompanhamento de milhares de fiéis, e o andor da Virgem Peregrina, através da Quinta de Segade, gentilmente cedida pelo Ex.mo Doutor Professor Sousa Pereira, sendo recebida triunfalmente na  Igreja Paroquial de Croca, que se tornou pequena para tamanha multidão, onde era aguardada pelo pároco das freguesias de Croca e Santa Marta, Agostinho da Mota.





No dia 12 do mesmo mês, pelas 21 horas a Virgem Peregrina, foi em procissão de Croca para Santa Marta, onde irá permaneceu até ao dia 14 sendo depois levada em cortejo automóvel noturno para a freguesia de S. Vicente do Pinheiro.



É durante esta permanência da Virgem Peregrina em Croca e Santa Marta, que duas Graças são concebidas pela Mãe do Céu.   



A primeira foi contada por Justino de Sousa Babo, homem sério e laborioso operário de carpintaria, residente no lugar de Pedrantil, freguesia de Croca, sendo de todos bem conhecido pelo seu carácter e formação cristã.



“Dentre os meus filhos que o Senhor me deu, tinha um dos mais novos muito doente e que se chama Rosalina de Jesus Babo, que há muito vinha definhando na medida em que ia aparecendo inchada e denegrida. Ia com ela ao médico várias vezes, o qual depois de a medicar e lhe ser feito o tratamento prescrito, ordenou o seu internamento imediato no Hospital Maria Pia do Porto.



Regressando a casa triste e desanimado, resolveu confiar na Divina Providência que tudo dispõe por bem.



Para o hospital é que a filha não iria pois sabia que a trazia morta.



Entretanto a Virgem Peregrina dava entrada na freguesia onde permaneceria três dias. Justino Babo não falta ás pregações e trabalha afincadamente na recepção da Senhora de Fátima, quantas horas senão dias inteiros entregues, a estes trabalhos da preparação!

Um dia ouve na igreja o pároco Agostinho da Mota dizer aos chefes de família: “Amanhã, dia 11, é a consagração dos pais a Nossa Senhora”. Cada casal ajoelhará diante da Virgem e junto ao andor deixará escrito num papel o favor que deseja obter da Mãe do Céu.



E assim foi Justino de Sousa Babo e esposa Agostinha de Jesus, no dia e hora marcados, lá estavam, mas consigo traziam também a menina doente. Teimaram em tocar com a filha na imagem peregrina. Rezaram com fé e partiram para casa, deixando num cartão o seu pedido que o pároco recomendou no ofertório da missa.



A Carolina de Jesus Babo, dia após dia começou a melhorar e dizem os pais que está são e salva.



O Dr. José Vitorino Santana, que na altura dirigia o posto médico social nesta paróquia, confirmou que esta criança estava bastante grave com edemas e cianose (membros inchados e denegridos), havendo má formação congénita cardíaca, pelo que determinou o seu internamento.



Observando de novo a menina, verificou que ela se encontra bem, corroborando o testemunho dos pais.



Outro relato que acabei e ler, fala de uma pobre mulher de 60 anos, chamada, Ana de Jesus, esposa de Francisco Mendes Coelho e residente no lugar de Pedrantil – Croca.



Tendo estado internada no Caramulo por longos meses, regressou a casa, onde, imobilizada e enfraquecida, aguardava os últimos momentos. Aqui, à medida que ouvia a família contar-lhe o entusiasmo e a beleza das cerimónias religiosas da sua igreja, de mistura com favores que a Virgem concedia a conhecidos seus, assim is crescendo o desejo de ao menos estar presente com o seu marido no dia da Consagração dos pais a Nossa Senhora.


Por sua vez, Francisco Mendes Coelho, seu esposo, debulhado em lágrimas, conta-nos o padre Missionário Sebastião da Imaculada, rezava ardentemente diante do andor para que sua mulher se pudesse deslocar à igreja, a fim de se confessar e ver a Virgem Peregrina que ás nove horas da noite do dia 12 de Fevereiro de 1965, iria em procissão para Santa Marta.



Na habitação do casal referido tudo era afã para que a vida doméstica ficasse cedo em ordem e pudessem assistir aos actos litúrgicos. Enquanto as filhas vestem seus fatos domingueiros e o convite dos sinos se faz ouvir em casa, mais na sua alma cresce o desejo e a esperança da maior graça da sua vida.



Ana de Jesus esforça-se por levantar e vê-se bem-sucedida. As filhas arranjam-na apressadamente ainda amparada. Tenta a viagem com êxito e consegue atingir a Igreja que fica à distância de 45 minutos para quem tem saúde. Aqui, ajoelha, reza, pede, chora e confessa-se enquanto se vão aproximando as horas da procissão de velas na qual os dois esposos se incorporam e ela sem dificuldades  faz o percurso até à Igreja de Santa Marta que dista cerca de dois quilómetros e desta ainda se deslocou para casa num percurso superior a cinquenta minutos.



Ana de Jesus, ficou a movimentar-se como pessoa normal fazendo seus trabalhos domésticos, acompanhando seus familiares para todos os actos de culto, como testemunham quantos a conhecem.



Estes relatos que li no jornal da terra “Notícias de Penafiel”, achei por bem publicá-los neste mês de Maio que está a findar. 


Que Deus nos abençoe, e Nossa Senhora nos ajude no nosso dia a dia, pois ontem como hoje, nós bem precisamos da sua bênção, para nos guiar e iluminar o nosso caminhar terreno, pois sem ela, o caminho torna-se tão escuro e por vezes sem saída, por mais luzes da ribalta que tenha.

Fernando Oliveira - Furriel de Junho