ASSOCIAÇÃO FÚNEBRE FAMILIAR PENAFIDELENSE DE SOCORROS MÚTUOS
FUNDAÇÃO
DA ASSOCIAÇÃO
FÚNEBRE
FAMILIAR
PENAFIDELENSE
DE
SOCORROS MÚTUOS
No
dia 6 de Outubro de 1907, a Banda de Música do Albaninho, percorreu
de manhã todas as ruas da cidade de Penafiel, a incitar os
penafidelenses a comparecerem ás 16,30 h, na sede da Associação
Artística, situada na Rua do Paço, para se inscreverem como sócios
e dar o seu apoio à fundação da Associação Fúnebre Familiar
Penafidelense de Socorros Mútuos.
No
estrado estava a Comissão Iniciadora constituída pelos senhores:
Gregório Nogueira Soares, Manuel José Ferreira, Victorino Henrique
da Silva e António de Souza Reis. Igualmente estava o Administrador
do Concelho, o Pároco da cidade e individualidades de grande
destaque do meio penafidelense.
Abriu
a sessão o membro da Comissão Iniciadora sr. António de Souza
Reis, que num longo discurso demonstrou as grandes vantagens que o
operário penafidelense ia auferir com a fundação desta Associação,
solicitando que era vergonhoso a maneira como eram feitos os funerais
dos indivíduos da classe proletariada.
Terminou
por propor para presidir o sr. professor Belmiro Nogueira Xavier
(Inspector Primário aposentado), cujo nome foi muito aclamado.
Tomando
o respectivo lugar, principiou por agradecer tal homenagem, e num
desenvolvido discurso, mostrou o quanto era necessário uma
associação como a que se iria fundar.
Orgulhava-se
que dentro da florescente Associação Artística se assentavam as
bases para outra, incutiu no animo da grande assistência a
inscreverem-se como sócios, que era a sua providência no futuro.
A
seguir propôs para secretariar os srs. Miranda Veiga (proprietário
do jornal “Comércio de Penafiel”), e Francisco de Queirós (dono
de Casa de Pasto).
Fizeram
depois uso da palavra, Maravilhas Pereira, José António Soares de
Aguiar e José Francisco de Queiroz, propagandistas do mutualismos,
incitando os operários penafidelenses a levarem avante a fundação
desta associação, que lhes prestará valiosos benefícios para o
futuro. Os oradores foram muito aplaudidos. No átrio no fim de cada
discurso, a Banda de Música tocava trechos do seu belo reportório.
A
inscrição de sócios fundadores, atingiu o número de 316.
No
final foi eleita a Comissão Administrativa que ficou assim
constituída:
Efectivos
Presidente
- Joaquim da C. Tomé
Vice-Presidente
– Manuel José Ferreira
Tesoureiro
– António José de Freitas Guimarães
Secretários
– Augusto Joaquim da Silva Mendes e António de Souza Reis.
Suplentes
– Gregório Nogueira Soares, António Fortunato da Silva e
Victorino Henriques da Silva.
Depois
da criação da Associação Artística e Fúnebre Penafidelense, e
com o decorrer dos anos, muitos penafidelenses se dedicavam de alma e
coração ao problema do mutualismo, mas haviam dois que se
destacavam tal eram as suas entregas ás causas, que em todas as
assembleias usavam da palavra para discutir e debater os problemas.
Eram
eles o Sr. António de Souza Reis (Pai do Reis Livreiro que
conhecemos na Rua do Paço, e que nos deliciava com a cascata do S.
João), e o José Alves, mais conhecido na urbe pelo Alves Latoeiro.
António
Souza Reis e José Alves, deixaram os seus nomes ligados ao
mutualismo penafidelense, ajudando a construir uma obra que será
sempre lembrada e louvada tal os benefícios usufruídos pelos
respectivos associados que, mediante uma pequena mensalidade, têm
direito a médico, remédios, subsídios por doença, enterro e
subsídio de luto para os seus familiares, desaparecendo assim os
sérios inconvenientes que geralmente apareciam quando as fatalidades
batiam à porta das classes menos abastadas.
Eram
bons companheiros, mas sempre que surgia qualquer problema de maior
importância para o mutualismo, colocavam-se geralmente em campos
opostos estabelecendo uma “oposição” amiga e só provocada por
amor à causa, que era explorada pelos associados que se dividiam em
dois grupos por eles capitaneados.
Realizavam-se
assembleias gerais muito agitadas ali na Rua do Paço, na sede das
duas associações Artística e Fúnebre, lá estando sempre o
António de Souza Reis e o José Alves, de papel e lápis na mão
para debaterem as suas opiniões, as suas ideias, com aplausos das
massas torcedoras que vibravam com os acontecimentos.
Houve
também algumas sessões solenes de homenagem a benfeitores desses
organismos descerrando-se por vezes as suas fotografias que iam
enriquecer a galeria já ali existente e deveras apreciada.
Tinha
lugar naquela noite uma sessão solene para homenagear um velho
servidor da Associação o cobrador Augusto Rebelo.
O
Reis Livreiro, fazendo uso da palavra procurou tecer-lhe os mais
rasgados elogios dizendo que era tão cuidadoso no seu trabalho de
cobrança que logo de manhãzinha, mal rompia o dia, aparecia aos
associados para efectuar a cobrança de cotas nas suas residências,
algumas bem distantes.
E
o Sr. Reis louvando sempre o Rebelo comparava-o ao melro que, logo de
manhã surge nos campos com o seu trinar muito cedo como que a dar os
bons dias ás populações.
Nesta
comparação entre o Rebelo e o melro, a dada altura o Sr. Reis
virou-se para a assistência e disse:
- Se algum de vós ouvir um dia bater, muito cedo, à porta, sabeis quem é?
Ora
estava a assistir a esta sessão soleneum sócio que nunca faltava a
estes actos e que quase sempre se sentava nas primeiras filas de
bancos e por vezes bem animado, o Zé Pereira, morador em S. Roque,
que se dedicava à colocação e reparação de bombas de água, e
que ao ouvir a pergunta do Sr. Reis, levantou a cabeça e respondeu
em voz alta:
-É
o melro!
Todos
desataram à gargalhada de tal maneira, que nem o orador teve coragem
para continuar o seu discurso, dando a sessão por terminada.
Infelizmente
hoje esta Associação vai sobrevivendo sem a pujança de
antigamente, mas agonizando numa morte lenta, ligada à máquina do
desinteresse. Afinal de contas, como diz a sabedoria popular, “ Os
tempos são outros”.
1 Comments:
Há duas imagens do estandarte da associação, da autoria da Fotografia Alvão, no Porto.
PT/CPF/ALV/018581 e 18582.
Aida Freitas Ferreira
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