Romagem de saudade ao Cemitério Municipal
DR.
JOAQUIM COTTA
Romagem
de saudade ao
Cemitério
Municipal
“Para
ele a medicina não era uma profissão,
mas
sim um verdadeiro sacerdócio”
A
homenagem ao Dr. Joaquim Cotta, de 19 de Outubro de 1974, terminou
com uma romagem ao Cemitério Municipal de Penafiel, onde repousam os
seus restos mortais.
Formou-se
um extenso cortejo automóvel, à frente do qual seguiam as viaturas
da P.S.P., das Corporações dos Bombeiros de Penafiel, Paço de
Sousa e Entre-os-Rios, que antes fizeram a guarda de honra ao Sr.
Governador Civil, e no cemitério ladearam o túmulo do Dr. Joaquim
Cotta.
O
movimento de automóveis era tão grande e o cortejo tão extenso que
a polícia teve que montar um serviço especial na Praça Municipal e
junto ao cemitério, onde os carros tiveram dificuldades em
estacionar.
Junto
ao mausoléu, juntaram-se inúmeras pessoas, entre as quais se viam
os representantes das autoridades civis, militares e religiosas. Ali
tomaram a palavra o Dr. Joaquim da Rocha Reis e o Dr. Francisco
Brandão Rodrigues dos Santos, respectivamente, Director Clínico e
médico do antigo Hospital da Santa Casa da Misericórdia de
Penafiel.
Dr.
Joaquim da Rocha Reis, tomou a palavra e disse:
Senhor
Presidente da Comissão Administrativa
Autoridades
civis e militares
Minhas
senhoras e meus senhores
Penafiel,
por intermédio da Comissão Administrativa da Câmara de Penafiel
salda hoje uma dívida para com a memória do Dr. Joaquim Cotta,
muito ilustre penafidelense que muito amou e honrou a sua terra.
É
justa e muito merecida esta homenagemue o Dr. Joaquim Cotta, médico
distinto e grande homem de bem, sempre devotado à causa dos humildes
é credor de toda a nossa gratidão.
Falar
nas suas qualidades profissionais, cívicas e morais, será sem
dúvida, supérfluo fazê-lo, porque estão sempre presentes na
memória de toda a gente, da cidade e do concelho que muito as
apreciou.
Não
estão nem estarão esquecidas porque o povo é grato e reconhecido
a elas foram sempre por demais notadas para não continuarem para
sempre a ser lembradas.
Foi
médico muito distinto que sem descanso procurou minorar o sofrimento
dos outros.
Trabalhou
sempre e sem descanso no tempo em que a clínica era difícil e
exigia portanto um espírito de verdadeira abnegação e sacrifício.
Ao
Hospital que era a menina dos seus olhos, dedicou sempre a sua melhor
atenção para que fosse cada vez melhor e mais eficiente.
Sendo
o doente a sua razão de ser do Hospital, ele não o esquecia,
procurando sempre as melhores condições materiais e morais para
atender todos os seus sofrimentos.
Não
lhe interessavam as compensações materiais para o exercício da sua
profissão. Praticamente para ele a medicina não era uma profissão,
mas sim um verdadeiro sacerdócio, como costuma dizer-se.
O
que lhe interessava apenas era a satisfação do dever cumprido.
Eu,
como actualmente o médico mais antigo do concelho, e que portanto
muito convivi com ele e trabalhei posso testemunhar quão verdadeiras
são estas afirmações.
Sempre
muito apreciei estas suas qualidades. Era realmente um bom, em todo o
sentido da palavra.
Na
sua convivência profissional foi sempre muito correcto e leal, e
nunca houve qualquer atitude que podesse melindrar ou ferir qualquer
colega. Com todos colaborou da melhor maneira, e à sua disposição
punha sempre com tal lealdade os seus conhecimentos que lhe vinham da
sua longa e brilhante prática e experiência. Era admirável no seu
comportamento. Um carácter íntegro.
Além
da medicina, outras actividades exerceu, mas sempre com todo o aprumo
e dignidade.
Por
isso granjeou na cidade e no concelho o maior prestígio, pois que a
todos atendia da melhor forma, procurando satisfazer-lhe as suas
pretensões sem prejudicar os interesses dos outros.
Era
um democrata. Trabalhou e também sofreu. E se do seu trabalho não
auferiu as compensações materiais que por certo devia, teve sempre
a amizade e a consideração de todos e legou à família um nome
muito ilustre e honroso de que sempre se pode vangloriar.
Em
conclusão. Estas homenagens querem dizer que o Dr. Joaquim Cotta
está no espírito e no coração de todos os penafidelenses, e que
isto sirva de exemplo para todos nós.
Uma
salva de palmas coroou as palavras pronunciadas pelo médico Dr.
Joaquim da Rocha Reis.
Dr.
Joaquim Cotta
“O
médico bondoso, sacrificado, pensando sempre nos outros e nunca em
si.”
Para
terminar esta cerimónia, discursou o Subdelegado de Saúde, Dr.
Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, debitando as seguintes
palavras:
Ex.mo
Senhor Governador Civil
Ex.mo
Senhor Presidente da Comissão Administrativa
Familiares
do Dr. Joaquim Cotta
Minhas
Senhoras
Meus
Senhores
Solicitado
pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Penafiel a dar
o meu contributo a esta justíssima homenagem em boa hora levada a
efeito, não podia recusar sem cair no pecadilho da ingratidão,
embora tenha bem presente não ser eu o mais indicado, dadas as
minhas limitações, que bem conheço, e a modéstia do meu
contributo, que nada poderá acrescentar ao que foi dito pelo Sr. Dr.
Rocha Reis.
Aqui
estamos para em singela, mas muito sentida e sincera homenagem
recordar a figura do médico e do homem que foi o Sr. Dr. Joaquim de
Araújo Cotta.
Figura
ímpar de penafidelense que deixou em todos quantos o conheceram e
mais ainda, naqueles que com ele tiveram a honra de conviver e
trabalhar, indelével saudade e profundos sentimentos de gratidão e
de exemplo a seguir.
É
muito grata aos penafidelenses a figura do Dr. Joaquim Cotta, o homem
íntegro, recto, probo, vertical, o médico consciente, dedicado,
carinhoso esmoler, o homem antes de quebrar que torcer. O médico
bondoso, sacrificado, pensando sempre nos outros e nunca em si.
Desde
10 de Outubro de 1929, Director Clínico do Hospital de Penafiel,
onde já trabalhava, ao serviço do hospital se dedicou, procurando
melhorar os serviços existentes, criar novos serviços e conseguindo
a vinda a Penafiel, sempre que solicitado, do Dr. Manuel Gomes de
Almeida, que desde essa altura até vésperas da sua morte, em 14 de
Agosto de 72, deu o seu valioso contributo ao Hospital e cuja memória
me permito aqui recordar, até porque tenho a certeza, que se fosse
possível ao Sr. Dr. Cotta dar uma opinião, ele seria de
concordância.
Dentro
do Hospital sempre se esforçou para que ao doente nada faltasse,
pois que o doente estava sempre à frente e primeiro do que tudo.
Aos
novos, que como eu ali chegavam recebia com uma simpatia admirável.
Estava sempre pronto para um concelho, para um ensinamento discreto
mas precioso, para uma palavra de confiança, quando esta parecia
faltar a quem vinha cheio de teorias mas carecido da prática e da
experiência.
E
não quero deixar de relembrar aqui que dia e noite, sempre que
solicitado para uma urgência para um desastre, para o que fosse,
nunca deixou de comparecer no Hospital, e vinha a pé, quer chovesse
ou fizesse sol, pois não tinha automóvel.
Em
Setembro de 1952, quando ainda muito havia a esperar dos seus
conhecimentos e da sua experiência, resolveu pedir a demissão de
Director Clínico do Hospital, com profundo desgosto dos médicos que
lá trabalhavam, e não conseguimos demovê-lo da sua decisão.
Firmemente, mas delicadamente, fez-nos sentir que a sua decisão,
mesmo sabendo e confirmando que em cada médico do hospital tinha um
amigo, era irrevogável.
Ficou-nos
sempre a recordação da sua figura ímpar e por nós médicos tem
sido muitas vezes lembrado e recordado.
Quando,
cinco anos depois faleceu, Penafiel soube manifestar a sua mágoa e o
seu sentir de perda sofrida.
Legou-nos
uma herança extraordinária. O seu exemplo, quer na educação dos
seus filhos, todos eles o espelho das virtudes de seu pai, e a nós
outros a obrigação de sermos dignos da amizade com que nos honrou.
Não
legou riquezas materiais. Não as poderia ter quem pensou sempre nos
outros e nada em si. Mas ensinou-nos como ser rectos, probo, como ter
dignidade profissional, como respeitar os outros para ser respeitado,
enfim, legou a Penafiel o exemplo de um homem único e de cidadão
exemplar.
Pode
dizer-se, sem receio de desmentido, que esta homenagem, aqui hoje
levada a efeito, é a exortização daquilo que os penafidelenses
sempre sentiram.
Curvemo-nos
respeitosamente perante a sua saudosa memória e na pessoa de seu
filho, o médico e o homem ilustre que é o Dr. Armando Cotta,
vejamos bem patentes todas as qualidades que exornaram o carácter de
seu pai. E seja-me permitido, lembrar, aqui, dois parentes do Dr.
Cotta, que como ele foram sempre homens dignos e que Penafiel nunca
mais esquecerá:
o
Dr. Álvaro Barbosa e Adriano Barbosa.
Se
nós penafidelenses soubermos ser dignos da memória do Dr. Joaquim
de Araújo Cotta, essa é, tenho a certeza, a maior homenagem que lhe
podemos prestar.
E
foram com estas palavras de muita saudade e alto apreço pelas
qualidades do nosso ilustre e sempre recordado Dr. Joaquim Cotta, que
terminou com uma grande salva de palmas, esta justa homenagem.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home