21 junho 2017

Romagem de saudade ao Cemitério Municipal

DR. JOAQUIM COTTA


Romagem de saudade ao
Cemitério Municipal

Para ele a medicina não era uma profissão,
mas sim um verdadeiro sacerdócio”

A homenagem ao Dr. Joaquim Cotta, de 19 de Outubro de 1974, terminou com uma romagem ao Cemitério Municipal de Penafiel, onde repousam os seus restos mortais.

Formou-se um extenso cortejo automóvel, à frente do qual seguiam as viaturas da P.S.P., das Corporações dos Bombeiros de Penafiel, Paço de Sousa e Entre-os-Rios, que antes fizeram a guarda de honra ao Sr. Governador Civil, e no cemitério ladearam o túmulo do Dr. Joaquim Cotta.

O movimento de automóveis era tão grande e o cortejo tão extenso que a polícia teve que montar um serviço especial na Praça Municipal e junto ao cemitério, onde os carros tiveram dificuldades em estacionar.

Junto ao mausoléu, juntaram-se inúmeras pessoas, entre as quais se viam os representantes das autoridades civis, militares e religiosas. Ali tomaram a palavra o Dr. Joaquim da Rocha Reis e o Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, respectivamente, Director Clínico e médico do antigo Hospital da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel.


Dr. Joaquim da Rocha Reis, tomou a palavra e disse:

Senhor Presidente da Comissão Administrativa
Autoridades civis e militares
Minhas senhoras e meus senhores

Penafiel, por intermédio da Comissão Administrativa da Câmara de Penafiel salda hoje uma dívida para com a memória do Dr. Joaquim Cotta, muito ilustre penafidelense que muito amou e honrou a sua terra.

É justa e muito merecida esta homenagemue o Dr. Joaquim Cotta, médico distinto e grande homem de bem, sempre devotado à causa dos humildes é credor de toda a nossa gratidão.

Falar nas suas qualidades profissionais, cívicas e morais, será sem dúvida, supérfluo fazê-lo, porque estão sempre presentes na memória de toda a gente, da cidade e do concelho que muito as apreciou.

Não estão nem estarão esquecidas porque o povo é grato e reconhecido a elas foram sempre por demais notadas para não continuarem para sempre a ser lembradas.

Foi médico muito distinto que sem descanso procurou minorar o sofrimento dos outros.

Trabalhou sempre e sem descanso no tempo em que a clínica era difícil e exigia portanto um espírito de verdadeira abnegação e sacrifício.

Ao Hospital que era a menina dos seus olhos, dedicou sempre a sua melhor atenção para que fosse cada vez melhor e mais eficiente.

Sendo o doente a sua razão de ser do Hospital, ele não o esquecia, procurando sempre as melhores condições materiais e morais para atender todos os seus sofrimentos.

Não lhe interessavam as compensações materiais para o exercício da sua profissão. Praticamente para ele a medicina não era uma profissão, mas sim um verdadeiro sacerdócio, como costuma dizer-se.

O que lhe interessava apenas era a satisfação do dever cumprido.

Eu, como actualmente o médico mais antigo do concelho, e que portanto muito convivi com ele e trabalhei posso testemunhar quão verdadeiras são estas afirmações.

Sempre muito apreciei estas suas qualidades. Era realmente um bom, em todo o sentido da palavra.

Na sua convivência profissional foi sempre muito correcto e leal, e nunca houve qualquer atitude que podesse melindrar ou ferir qualquer colega. Com todos colaborou da melhor maneira, e à sua disposição punha sempre com tal lealdade os seus conhecimentos que lhe vinham da sua longa e brilhante prática e experiência. Era admirável no seu comportamento. Um carácter íntegro.

Além da medicina, outras actividades exerceu, mas sempre com todo o aprumo e dignidade.

Por isso granjeou na cidade e no concelho o maior prestígio, pois que a todos atendia da melhor forma, procurando satisfazer-lhe as suas pretensões sem prejudicar os interesses dos outros.

Era um democrata. Trabalhou e também sofreu. E se do seu trabalho não auferiu as compensações materiais que por certo devia, teve sempre a amizade e a consideração de todos e legou à família um nome muito ilustre e honroso de que sempre se pode vangloriar.

Em conclusão. Estas homenagens querem dizer que o Dr. Joaquim Cotta está no espírito e no coração de todos os penafidelenses, e que isto sirva de exemplo para todos nós.

Uma salva de palmas coroou as palavras pronunciadas pelo médico Dr. Joaquim da Rocha Reis.




Dr. Joaquim Cotta
O médico bondoso, sacrificado, pensando sempre nos outros e nunca em si.”

Para terminar esta cerimónia, discursou o Subdelegado de Saúde, Dr. Francisco Brandão Rodrigues dos Santos, debitando as seguintes palavras:

Ex.mo Senhor Governador Civil
Ex.mo Senhor Presidente da Comissão Administrativa
Familiares do Dr. Joaquim Cotta
Minhas Senhoras
Meus Senhores

Solicitado pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Penafiel a dar o meu contributo a esta justíssima homenagem em boa hora levada a efeito, não podia recusar sem cair no pecadilho da ingratidão, embora tenha bem presente não ser eu o mais indicado, dadas as minhas limitações, que bem conheço, e a modéstia do meu contributo, que nada poderá acrescentar ao que foi dito pelo Sr. Dr. Rocha Reis.

Aqui estamos para em singela, mas muito sentida e sincera homenagem recordar a figura do médico e do homem que foi o Sr. Dr. Joaquim de Araújo Cotta.

Figura ímpar de penafidelense que deixou em todos quantos o conheceram e mais ainda, naqueles que com ele tiveram a honra de conviver e trabalhar, indelével saudade e profundos sentimentos de gratidão e de exemplo a seguir.

É muito grata aos penafidelenses a figura do Dr. Joaquim Cotta, o homem íntegro, recto, probo, vertical, o médico consciente, dedicado, carinhoso esmoler, o homem antes de quebrar que torcer. O médico bondoso, sacrificado, pensando sempre nos outros e nunca em si.

Desde 10 de Outubro de 1929, Director Clínico do Hospital de Penafiel, onde já trabalhava, ao serviço do hospital se dedicou, procurando melhorar os serviços existentes, criar novos serviços e conseguindo a vinda a Penafiel, sempre que solicitado, do Dr. Manuel Gomes de Almeida, que desde essa altura até vésperas da sua morte, em 14 de Agosto de 72, deu o seu valioso contributo ao Hospital e cuja memória me permito aqui recordar, até porque tenho a certeza, que se fosse possível ao Sr. Dr. Cotta dar uma opinião, ele seria de concordância.

Dentro do Hospital sempre se esforçou para que ao doente nada faltasse, pois que o doente estava sempre à frente e primeiro do que tudo.

Aos novos, que como eu ali chegavam recebia com uma simpatia admirável. Estava sempre pronto para um concelho, para um ensinamento discreto mas precioso, para uma palavra de confiança, quando esta parecia faltar a quem vinha cheio de teorias mas carecido da prática e da experiência.

E não quero deixar de relembrar aqui que dia e noite, sempre que solicitado para uma urgência para um desastre, para o que fosse, nunca deixou de comparecer no Hospital, e vinha a pé, quer chovesse ou fizesse sol, pois não tinha automóvel.

Em Setembro de 1952, quando ainda muito havia a esperar dos seus conhecimentos e da sua experiência, resolveu pedir a demissão de Director Clínico do Hospital, com profundo desgosto dos médicos que lá trabalhavam, e não conseguimos demovê-lo da sua decisão. Firmemente, mas delicadamente, fez-nos sentir que a sua decisão, mesmo sabendo e confirmando que em cada médico do hospital tinha um amigo, era irrevogável.

Ficou-nos sempre a recordação da sua figura ímpar e por nós médicos tem sido muitas vezes lembrado e recordado.

Quando, cinco anos depois faleceu, Penafiel soube manifestar a sua mágoa e o seu sentir de perda sofrida.

Legou-nos uma herança extraordinária. O seu exemplo, quer na educação dos seus filhos, todos eles o espelho das virtudes de seu pai, e a nós outros a obrigação de sermos dignos da amizade com que nos honrou.

Não legou riquezas materiais. Não as poderia ter quem pensou sempre nos outros e nada em si. Mas ensinou-nos como ser rectos, probo, como ter dignidade profissional, como respeitar os outros para ser respeitado, enfim, legou a Penafiel o exemplo de um homem único e de cidadão exemplar.

Pode dizer-se, sem receio de desmentido, que esta homenagem, aqui hoje levada a efeito, é a exortização daquilo que os penafidelenses sempre sentiram.

Curvemo-nos respeitosamente perante a sua saudosa memória e na pessoa de seu filho, o médico e o homem ilustre que é o Dr. Armando Cotta, vejamos bem patentes todas as qualidades que exornaram o carácter de seu pai. E seja-me permitido, lembrar, aqui, dois parentes do Dr. Cotta, que como ele foram sempre homens dignos e que Penafiel nunca mais esquecerá:
o Dr. Álvaro Barbosa e Adriano Barbosa.

Se nós penafidelenses soubermos ser dignos da memória do Dr. Joaquim de Araújo Cotta, essa é, tenho a certeza, a maior homenagem que lhe podemos prestar.

E foram com estas palavras de muita saudade e alto apreço pelas qualidades do nosso ilustre e sempre recordado Dr. Joaquim Cotta, que terminou com uma grande salva de palmas, esta justa homenagem.