14 junho 2017

QUANDO A RUA SERPA PINTO PASSOU A RUA DR. JOAQUIM COTTA

QUANDO A RUA SERPA PINTO
PASSOU A
RUA DR. JOAQUIM COTTA


Rua Dr. Joaquim Cotta

Sábado, 19 de Outubro de 1974, terminada a sessão no Salão Nobre da Câmara Municipal de Penafiel (relatada na postagem anterior no blogue Penafiel, terra nossa), a comitiva dirigiu-se para a antiga Rua Serpa Pinto apinhada de gente, e com as varandas do casario ornamentadas com colchas emprestavam um ar festivo ao acontecimento, os convidados dirigiram-se para a esquina do Largo da Ajuda onde estava colocada a primeira placa (embora seja o final da rua) a ser destapada com o nome do Dr. Joaquim Cotta, coberta com a bandeira nacional.


Ali, ante um microfone instalado em plena rua o Dr. Guy Falcão usou da palavra e disse:

Ex,mo Sr. Dr. Ruy Luís Gomes
Autoridades do Concelho
Minhas senhoras, meus senhores

Como todos sabem, a Câmara de Penafiel, mais propriamente a Comissão Administrativa da Câmara de Penafiel resolveu, logo na primeira sessão, praticar um acto de justiça. Um acto de justiça que durante quarenta e oito anos, não fora praticado por todas as razões que conhecemos derivadas da Idade Média que esses quarenta anos representaram.

Esse acto de justiça é uma homenagem simples, simples mas profunda, inclusivamente, inversamente proporcional à respectiva simplicidade, homenagem dizia, a um dos penafidelenses mais ilustre, o Dr. Joaquim Cotta.

Não conheci praticamente o Dr. Joaquim Cotta, conheço contudo a sua vida e sei o que ela representa, e agora mais do que nunca, o exemplo para todos os portugueses, para todos os dignos portugueses.

Pela sua elevada formação moral, pela sua inteligência, pelos seus conhecimentos técnicos, sobretudo pela sua bondade, pelo seu amor à democracia o Dr. Joaquim Cotta é um homem de sempre. Parafraseando a frase que homenageia o Grande Thomas More, posso dizer que o Dr. Joaquim Cotta é um homem para a eternidade.

Houvesse em 1926, tantos portugueses íntegros e democratas como o Dr. Joaquim Cotta e certamente não se teria dado o 28 de Maio e consequentemente não teria havido quarenta e oito anos de negro fascismo.

Portanto se esta homenagem, para além de representar um acto de justiça, representa também um aviso para todos os portugueses que agora ao emergirmos dessa longa noite de trevas, um aviso dizia, para que todos consigamos ou tentemos ser aquilo que toda a vida o Dr. Joaquim Cotta foi.

É portanto uma homenagem póstuma a um ilustre penafidelense, é um acto de justiça, mas é também, ou representa também, um aspecto prático, porque a vida prática é o que no fundo tem interesse para todos nós.

Que nos sirva de recordação e de exemplo este dia, esta homenagem a um português vertical, a um português como todos agora devemos ser. 

 
Depois foi a vez do Prof. Dr. Ruy Luís Gomes, proferir as seguintes palavras:

É com emoção que venho associar-me à homenagem que a Câmara Municipal de Penafiel e o povo deste concelho resolveram prestar ao Dr. Joaquim Cotta.

É uma grande emoção para mim porque sou dedicado amigo e admirador de toda a família de Joaquim Cotta. 

Casa onde viveu Dr. Joaquim Cotta


Mas para além de tudo isso a homenagem a Dr. Joaquim Cotta é uma homenagem a um dos homens que pertenceram àquela geração da Primeira República e que são exemplo para todos nós por tudo aquilo que fizeram, pela obra extraordinária que conseguiram realizar no início da primeira República e pelo exemplo extraordinário que deixaram em cada um de nós, pela intransigência que mantinham na defesa dos princípios republicanos e pela generosidade que tinham sempre nos seus corações e pela isenção como sempre se comportavam.

A geração dos homens da primeira República é de facto dos mais notáveis gerações do nosso país.

Joaquim Cotta pertenceu também a essa geração. Ao recordar Joaquim Cotta, que foi Governador Civil do Porto, eu quero associar ao seu nome o do primeiro Governador Civil da cidade do Porto, que foi essa figura extraordinária, esse homem de uma grandeza moral e extraordinária, e um dos mais notáveis advogados do foro português que foi Paulo Falcão.

Citar Paulo Falcão, Primeiro Governador Civil da cidade do Porto quando se proclamou em Portugal a República, em 1910, e citar Joaquim Cotta, é associar dois homens extraordinários, dois homens que pelo seu exemplo, pela sua seriedade, pela sua isenção, nenhum de nós que pretende ser democrata pode deixar esquecer.

É portanto para mim uma grande honra, usar da palavra neste momento e dizer ao povo de Penafiel que finalmente começamos a prestar justiça a Joaquim Cotta, um dos homens mais notáveis, pela sua seriedade, pela sua isenção que eu já mais conheci. 

 
O Governador Civil do Porto, Dr. Mário Cal Brandão, foi convidado a descerrar a primeira placa (colocada na parede da Farmácia Miranda), com o nome de Dr. Joaquim Cotta, o que fez entre uma grande salva de palmas, seguindo-se um minuto de silêncio. No final do mesmo, o Dr. Mário Cal Brandão deu um Viva à República, que foi secundado pela multidão.


A segunda placa colocada junto à Praça Municipal, foi descerrada pelo Prof. Dr. Ruy Luís Gomes, também fortemente ovacionada. 

Esta singela homenagem que o blogue "Penafiel, terra nossa", presta ao grande democrata Dr. Joaquim Cotta, irá terminar na próxima semana com a romagem ao cemitério com que terminou este dia.