05 junho 2016

WALDEMAR BASTOS



WALDEMAR BASTOS


Waldemar dos Santos Alonso de Almeida Bastos, conhecido como Waldemar Bastos, nasceu a 4 de Janeiro de 1954, em Angola, numa pequena povoação, N'Banza Congo, junto à fronteira com o Zaire.

Musico e cantor angolano, que combina Afropop, Fado e influências brasileiras.

"Durante a época colonial, Waldemar Bastos foi uma vez preso pela PIDE, a polícia política. Não por desenvolver activida de política. Estava no liceu, onde era um excelente estudante e a certa altura circularam uns panfletos na escola. Apesar da polícia saber que ele nada tinha com aquilo, prenderam-no na mesma.

Não podiam prender toda a gente e como sabiam que, embora eu não estivesse politicamente envolvido, não concordava com o regime estabelecido e com o comportamento da polícia, apanharam-me e meteram-me na prisão. Na prisão escrevi algumas canções que mais tarde se tornaram conhecidas".

Entretanto Angola ganhou a sua independência e seguiu-se uma guerra fratricida que estalou logo no início. 


Em 1982, decidiu fugir de Angola o que veio a acontecer durante uma visita a Portugal para participar no FITEI (Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica), integrado na delegação oficial angolana. No final do festival, ficou em Portugal e não voltou para Angola.

Não ficou muito tempo em Lisboa. Foi para Berlim, na parte Ocidental, onde tinha alguns amigos e ao fim de uns meses partiu para o Brasil, onde conheceu músicos como Chico Buarque, João do Vale, Elba Ramalho, Djavan, Clara Nunes.

Discografia:

1983 - Estamos Juntos 


As coisas correram bem no Brasil, onde alguns dos músicos atrás referidos demonstraram, na prática, o significado do reconhecimento e da solidariedade. Waldemar acabou por encontrar uma editora interessada no seu trabalho, EMI-Odeon, e gravou o seu primeiro álbum, Estamos Juntos, um marco na sua carreira, que contou como convidados especiais, entre outros, Chico Buarque, João do Vale, Dorival Caimmy, Martinho da Villa e Novelli.

1990 - Angola Minha Namorada 


Regressa a Portugal, e cinco anos depois de vir para Lisboa, Waldemar gravou o seu segundo disco, Angola, Minha Namorada.

A seguir à edição deste seu álbum, foi a Angola, onde ainda era muito popular. Em Luanda Waldemar apresentou um concerto memorável para 200 000 pessoas que o aplaudiram entusiástica e emocionalmente, agitando lenços brancos. Interpretou este gesto surpreendente como uma mensagem clara do povo – queria paz.

1992 - Pitanga Madura 


Depois de gravar o seu terceiro álbum, Pitanga Madura, Waldemar voltou a Angola.

Waldemar continuou a compor e a apresentar espectáculos em vários locais de Portugal, incluindo os Açores, onde foi frequentemente. Para ele, os Açores foram “uma fonte de oxigénio durante este longo exílio”. Também cantou em Cabo Verde várias vezes e em Moçambique, a favor das crianças vítimas da fome.

1995 - Afropea – Telling Stories to the Sea


Visitando Lisboa, David Byrne, mentor da editora Luaka Bop e ex-líder dos Talking Heads, comprou, por acaso, um disco de Waldemar Bastos.

Neste ano de 1995, a editora Luaka Bop, lança no mercado o disco Afropea – Telling Stories to the Sea,  uma antologia de artistas lusófonos onde aparecem entre outros: Bonga, Cesária Évora, Waldemar Bastos, Dany Silva, Vum-Vum e André Mingas.


1997 - Petraluz


Com este disco dá-se o reconhecimento internacional de Waldemar Bastos.

Luaka Bop editou Pretaluz/Blacklight , gravado em Nova Iorque e produzido por Arto Lindsay. O álbum teve excelentes críticas de algumas das vozes mais representativas da imprensa internacional (New York Times, Village Voice, USA Today, Herald Tribune, El País, Libération, Los Angeles Times, The Times, etc.). O New York Times considerou-o como “um dos melhores discos de World music da década”. No seguimento do disco Waldemar ganhou o “Prémio para o Artista Revelação do Ano” em 1999. Depois do sucesso por todo os Estados Unidos, com a distribuição do disco na Europa em 1998 Waldemar foi descoberto pelo público e pelos media europeus.

2004 - Renascence



Os tempos mudaram para Waldemar Bastos em 2003, quando, depois de 42 anos, acabou a guerra em Angola. Foi convidado para celebrar essa data especial com um espectáculo memorável no Estádio Nacional de Luanda em Abril de 2003. No fim, a sua luta pela unidade e irmandade foi recompensada.

Rapidamente surge a hipótese excepcional de gravar o seu novo álbum Renascence

Tudo começou em San Pedro de Alcántara, em Espanha, onde reuniu alguns dos mais excepcionais músicos de África, do Congo a Angola, de Moçambique à Guiné. A jornada para uma nova expressão da música contemporânea africana começou. A história continuou em Berlim, onde, enquanto gravava, convidou alguns jovens músicos de Portugal e da Martinica para fazerem parte deste projecto musical. 

Quando Waldemar decidiu ir até Istambul, onde foram gravadas as partes de cordas deste disco, mostrou mais uma vez que a música não tem fronteiras e é uma chave para unir as pessoas, uma ponte entre culturas. Finalmente, o caminho da música levou-o a Londres onde acabou, com o seu produtor Paul “Groucho” Smykel, a mistura deste disco Renascence que aparece no mercado discográfico em 2004.


2010 - Classics Of My Soul 


Classics Of My Soul é um dos álbuns do ano na categoria de World Music para o jornal francês Libération.

O trabalho, que foi lançado em Setembro nos Estados Unidos da América, e junta o quinteto de Waldemar Bastos com a orquestração da London Symphony Orchestra dirigida por Nick Ingman.

Classics of My Soul, da editora Emja Records, foi gravado em Londres e Los Angeles e, segundo o material de divulgação, “resulta do sonho do músico angolano em juntar os sons e etnografias de África, particularmente de Angola, ao pendor e composição da música clássica europeia”. 

Muitos dos leitores do blogue não devem conhecer Waldemar Bastos, mas vamos ficar com a canção "Velha Chica", interpretada ao vivo no espectáculo Vozes de Abril no Coliseu dos Recreios de Lisboa a 4 de Abril de 2008. Nesta canção, onde os miúdos lá da escola, perguntavam à vóvó Chica, qual era a razão daquela pobreza, daquele nosso sofrimento. Ao que ela responde: “Xé menino, não fala política, não fala política, não fala política”.





- Bom domingo!