08 junho 2016

O CIRCO ESTROGOFE



O CIRCO ESTROGOFE

 
No princípio dos anos 30 do século passado, o arqueólogo Abílio Miranda, que era o comandante dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, adquiriu um terreno na Av. José Júlio, para a construção de um campo de futebol, que serviria ao mesmo tempo para treinar os nossos bombeiros e a equipa do União Desportiva Penafidelense, realizar os seus jogos. 


A onda de entusiasmo era tão grande que levava os apaixonados a irem trabalhar de noite para o futuro campo de jogos e a efectuarem peditórios e subscrições para auxiliarem os bombeiros. 

O referido recinto de jogos chamava-se Estádio da Saudade. 

Como engenho e arte não faltava aos penafidelenses de então, com a finalidade de arranjarem dinheiro, para levarem esta obra a bom porto, um grupo de conterrâneos tomaram a iniciativa de organizarem um circo debaixo do barracão na Praça do Mercado, composto por amadores penafidelenses a que Domingos Vilela baptizou de "Circo Estrogofe".



Este circo deu alguns espectáculos numa pista construída na  parte central do barracão.

O elenco artístico era formado pelos seguintes personalidades previamente ensaiadas:

Domingos Vilela, Joaquim Duarte de Carvalho, António Madalena, António Melo, Fernando Magalhães, João José de Oliveira, Augusto Silva (Cristina) e José Mendes Magalhães. 

Cada um executava as suas habilidades, usando trajes masculinos e femininos.

Fausto Matos (dono do estabelecimento comercial que tem uma cartola na Av. Sacadura Cabral), de casaca preta, anunciava a entrada dos artistas em cena, enquanto o sr. Zé latoeiro vestido com a farda do baile dos Turcos, fazia o papel de moço de pista. 

O circo tinha a sua orquestra constituída por músicos amadores cá da terra.

Naquele tempo a malta da bola reunia-se todas as noites na adega do meu avô sr. Joaquim Gordo, situada na Av. Pedro Guedes (esta avenida começava onde hoje está a meo), numa das casas devorada pelo grande incêndio de Outubro de 1935.

Acontece que numa dessas  noites, apareceu ali um rapaz de baixa estatura que usava a alcunha de "Charlot do Porto", e que andava a percorrer mundo tocando viola com jeito e habilidade. 



O rapaz entrou no goto da malta e prometeu que tomaria parte de um espectáculo do Circo Estrogofe, tocando viola com os pés assentes no trapézio e de cabeça para baixo.

Chegado a altura do número do rapaz, lá foi colocado pelo meu tio João Oliveira (conhecido por João do Gordo), na posição que escolhera e a cena começou.

Ainda não estavam passados dois minutos, quando o Charlot do Porto começou numa gritaria aflitiva, pedindo que o retirassem daquela posição incómoda em que estava, senão morreria.  

O João do Gordo que era valente, acorreu de pronto e tirando-o do trapézio colocou-o no chão. O rapaz da viola logo que se viu livre fugiu a bom fugir pela fora da Praça, ante as gargalhadas do público, que gozou a bom gozar. 

No espectáculo do Estrogofe tomava parte uma jerica do sr. Vicente de Oliveira (mais conhecido pelo Vicente das Malas), de Bustelo, onde José Mendes Magalhães, com farta cabeleira postiça, montava a jerica com o nome artístico de Mademoiselle Maga.

O pior é que a jerica era manhosa, e por mais que a picassem não andava.

Pelo que atrás foi escrito, facilmente se chega à conclusão que os espectáculos desse "afamado" Circo Estrogofe eram manhosos em tudo, até nos artistas irracionais.


E assim ficamos a saber de mais uma utilização do Barracão da antiga Praça do Mercado, que actualmente sofre de abandono nas traseiras das Escolas Secundárias de Penafiel, com morte anunciada por um certo "Sentir Penafiel".

2 Comments:

Blogger carvalhosameiro said...

Tudo isto, como sempre um bom trabalho, demonstra que é urgente e nem parece dispendioso não deixar desaparecer o antigo Barracão da Praça que também esteve ligado à FESTA DO LAGO.Como já foi sugerido, porque não transferi-lo para qualquer local do Parque da Cidade?

3:47 da tarde  
Blogger Fernando Oliveira said...

Parece-me da parte de certo "Sentir Penafiel" não haver qualquer vontade de dar utilidade a este barracão, estando este votado ao abandono e condenado a apodrecer lentamente. Neste Barracão realizaram-se várias actividades. A primeira a vende de produtos em dias de feira. Bailes, actuação de Ranchos Folclóricos, Futebol de Salão e Andebol, Almoços, comícios políticos, filmes, etc.. Faz parte do património municipal e como tal devia ser preservado.

1:14 da manhã  

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