O CIRCO ESTROGOFE
O
CIRCO ESTROGOFE
No princípio dos anos
30 do século passado, o arqueólogo Abílio Miranda, que era o comandante dos
Bombeiros Voluntários de Penafiel, adquiriu um terreno na Av. José Júlio, para
a construção de um campo de futebol, que serviria ao mesmo tempo para treinar os
nossos bombeiros e a equipa do União Desportiva Penafidelense, realizar os seus
jogos.
A onda de entusiasmo
era tão grande que levava os apaixonados a irem trabalhar de noite para o
futuro campo de jogos e a efectuarem peditórios e subscrições para auxiliarem
os bombeiros.
O referido recinto de
jogos chamava-se Estádio da Saudade.
Como engenho e arte não
faltava aos penafidelenses de então, com a finalidade de arranjarem dinheiro,
para levarem esta obra a bom porto, um grupo de conterrâneos tomaram a
iniciativa de organizarem um circo debaixo do barracão na Praça do Mercado,
composto por amadores penafidelenses a que Domingos Vilela baptizou de
"Circo Estrogofe".
Este circo deu alguns
espectáculos numa pista construída na
parte central do barracão.
O elenco artístico era
formado pelos seguintes personalidades previamente ensaiadas:
Domingos Vilela,
Joaquim Duarte de Carvalho, António Madalena, António Melo, Fernando Magalhães,
João José de Oliveira, Augusto Silva (Cristina) e José Mendes Magalhães.
Cada um executava as
suas habilidades, usando trajes masculinos e femininos.
Fausto Matos (dono do
estabelecimento comercial que tem uma cartola na Av. Sacadura Cabral), de
casaca preta, anunciava a entrada dos artistas em cena, enquanto o sr. Zé
latoeiro vestido com a farda do baile dos Turcos, fazia o papel de moço de
pista.
O circo tinha a sua
orquestra constituída por músicos amadores cá da terra.
Naquele tempo a malta
da bola reunia-se todas as noites na adega do meu avô sr. Joaquim Gordo, situada
na Av. Pedro Guedes (esta avenida começava onde hoje está a meo), numa das
casas devorada pelo grande incêndio de Outubro de 1935.
Acontece que numa
dessas noites, apareceu ali um rapaz de
baixa estatura que usava a alcunha de "Charlot do Porto", e que andava
a percorrer mundo tocando viola com jeito e habilidade.
O rapaz entrou no goto
da malta e prometeu que tomaria parte de um espectáculo do Circo Estrogofe,
tocando viola com os pés assentes no trapézio e de cabeça para baixo.
Chegado a altura do
número do rapaz, lá foi colocado pelo meu tio João Oliveira (conhecido por João
do Gordo), na posição que escolhera e a cena começou.
Ainda não estavam
passados dois minutos, quando o Charlot do Porto começou numa gritaria
aflitiva, pedindo que o retirassem daquela posição incómoda em que estava,
senão morreria.
O João do Gordo que era
valente, acorreu de pronto e tirando-o do trapézio colocou-o no chão. O rapaz
da viola logo que se viu livre fugiu a bom fugir pela fora da Praça, ante as
gargalhadas do público, que gozou a bom gozar.
No espectáculo do
Estrogofe tomava parte uma jerica do sr. Vicente de Oliveira (mais conhecido
pelo Vicente das Malas), de Bustelo, onde José Mendes Magalhães, com farta
cabeleira postiça, montava a jerica com o nome artístico de Mademoiselle Maga.
O pior é que a jerica
era manhosa, e por mais que a picassem não andava.
Pelo que atrás foi
escrito, facilmente se chega à conclusão que os espectáculos desse "afamado" Circo Estrogofe eram manhosos em tudo, até nos artistas irracionais.
E assim ficamos a saber
de mais uma utilização do Barracão da antiga Praça do Mercado, que actualmente sofre
de abandono nas traseiras das Escolas Secundárias de Penafiel, com morte
anunciada por um certo "Sentir Penafiel".
2 Comments:
Tudo isto, como sempre um bom trabalho, demonstra que é urgente e nem parece dispendioso não deixar desaparecer o antigo Barracão da Praça que também esteve ligado à FESTA DO LAGO.Como já foi sugerido, porque não transferi-lo para qualquer local do Parque da Cidade?
Parece-me da parte de certo "Sentir Penafiel" não haver qualquer vontade de dar utilidade a este barracão, estando este votado ao abandono e condenado a apodrecer lentamente. Neste Barracão realizaram-se várias actividades. A primeira a vende de produtos em dias de feira. Bailes, actuação de Ranchos Folclóricos, Futebol de Salão e Andebol, Almoços, comícios políticos, filmes, etc.. Faz parte do património municipal e como tal devia ser preservado.
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