FESTA DE CARIDADE NO PALACETE DO BARÃO DO CALVÁRIO
FESTA
DE CARIDADE NO PALACETE
DO
BARÃO DO CALVÁRIO
Sábado, 17 de Abril de
1915, realizou-se no palacete do Barão do Calvário um sarau de caridade
promovido pela ex.ma sr.ª D. Isabel Silva, com a colaboração de outras
distintíssimas amadoras.
O amplo salão do
palacete do Calvário, encontrava-se repleto de senhoras e cavalheiros
pertencentes à nossa primeira sociedade, sendo ainda grande o número de pessoas
que ocupavam as salas próximas.
Abriu o concerto a
Synfonia N.º 5 de Becthoven, maravilhosamente executada pelas ex.mas Sr.as D.
Maria Ludovina de Mello e D. Isabel Silva, que souberam arrancar ao piano
excelentes e perfeitíssimos gradações de sonoridade com deliciosos efeitos que
só aos grandes concertistas estamos habituados a ouvir, com uma execução
simplesmente magistral.
A ex.ma sr.ª D. Maria Ludovina
de Mello Guimarães, fez-se ainda ouvir a solo na Claribel de Moore, e na sonata
Pathétique de beethoven.Em ambas as peças revelou um grande talento.
A ex.ma sr.ª Isabel
Silva mais uma vez afirmou o seu grande talento, executando de uma forma
irrepreensível e com o maior brilho o
Rondo Capriccioso de Mendelssohn e a Phantasia Impromptu op. 66 de Chopin, e a
Rapsodia Hungara N.º 11 de Liszt. Este último trecho foi verdadeira chave
d'ouro ao magnífico concerto, e em vista da grande ovação que merecidamente lhe
foi feita, a ilustre amadora e promotora desta bela festa, tocou gentilmente
extra programa a Dança das Sombras, pequena mas graciosa página musical, que
foi executada com inexcedível mimo e delicadeza.
A ex.ma sr,ª D. Adriana
Mendes de Vasconcellos, tocou primorosamente o Jour de Noces de Griez,
Impromptu op. 4 de Schubert, e o final da Sonata N.º1 de Beethoven, mostrando
em todos os trechos possuir já, apesar da sua pouca idade, uma técnica
admirável e uma fina sensibilidade artística.
Efectivamente, só tendo
adquirido à força de talento e de estudo um grande conhecimento do teclado,
poderia desempenhar-se tão notavelmente, sem esforço aparente dos trechos
difíceis que executou.
O mesmo dizemos da
ex.ma sr.ª D, Maria da Natividade Brito, que tocou de um modo impecável as
Valsas nº 6 e 14 de Chopin, a Pantomina de Moszkowski e o Gazouillement du Printemps
de Sinding.
Nestes trechos de índoles tão diferentes, mostrou-nos a distinta
amadora a maleabilidade do seu belo talento, e podemos afoitamente afirmar que
raras vezes ouvimos dar à Valsa n.º 14 de Chopin uma execução tão perfeita e
tão sentida como aquela que a D. Maria da Natividade Brito lhe deu.
Também a menina D.
Maria Ignez Soares, revelou o seu precoce talento na forma primorosa como
executou o Minueto de Griez e as Melodias N.º 2 e 18 de Stephen Heller.
Dos números mais
brilhantes do escolhidíssimo programa, os que mais efeitos produziram foram sem
dúvida os coros a duas vozes em que tomaram parte as ex.mas sr,ªs D. Alves
Ramos, D. Alzira Mello, D. Anna Carvalho, D. Carolina Abrantes Ferreira, D.
Maria Alice da Silva, D. Maria Antonieta Cruz, D. Maria Augusta Guimarães, D.
Maria da Graça Brandão, D. Maria da Graça Veiga, D. Maria do Carmo Ramos, D.
Maria Ignez Soares, D. Maria Leopoldina Baptista, D. Maria Ferreira Abrantes,
D. Othília Maria Veiga, D. Rita Abrantes Ferreira, D. Rosalina Brandão e D.
Zulmira Alves.
Estes coros, de uma
afinação impecável e rara precisão, foram ouvidos com o maior agrado pelo
selecto auditório que se não cansou de aplaudir as jovens artistas e as sua
proficientes ensaiadoras, ex.mas senhoras D. Maria Thereza de Vasconcellos e D.
Isabel Silva.
Tanto no Idyllio
Campreste do Dr. António Vianna, como nas Quadras Soltas e Alleluia de Fernando
Moutinho, assim como nas Canções do mar bravo e das Ceifeiras, em que toda a
sala vibrou de entusiasmo pela maneira encantadora como essas complicadas
composições foram cantadas, mas de todos os trechos aquele que mais agrado
produziu foi inquestionavelmente o fado Saudade de Menino cantado extra
programa.
Propositadamente
deixamos para o fim a nossa impressão sobre os dois números de canto deliciosamente
preenchidos pela ex.ma sr.ª D. Maria Thereza de Vasconcellos, exactamente por
serem daqueles que mais profunda e agradável sensação nos deixaram d'essa
memorável consagração d'arte.
Esta senhora, que
possui uma bem timbrada voz de soprano, cantou com inexcedível perfeição e
sentimento uma Romanza de Campana e uma Melodia de Tosti, electrizando a
assistência que lhe fez uma bem merecida e espontânea ovação.
Todas as ilustres
amadoras foram, como era de justiça, delirantemente aplaudidas sendo oferecido
à ex.ma sr.ª D. Isabel Silva um lindo bouquet de flores artificiais com uma
preciosa estatueta de Beethoven, pelas suas discípulas ex.mas sr,ªs D. Maria
Ludovina Mello, D. Adriana Mendes de Vasconcellos e D. Maria da Natividade de
Brito, e outro bouquet de flores naturais pelas senhoras que tomaram parte nos
coros, e à ex-ma sr.ª D. Maria Thereza de Vasconcellos, um bouquet de flores
naturais pela ex-ma sr.ª D. Maria da Conceição Baptista e outro bouquet de
flores artificiais pelas senhoras que tomaram parte nos coros.
O produto desta festa,
que primitivamente era destinado exclusivamente à Delegação da Sociedade
Portuguesa da Cruz Vermelha desta cidade, foi pela ilustre promotora D. Isabel
Silva com pleno acordo desta Delegação, também
partilhado pela Associação dos Bombeiros Voluntários, fazendo-se ambas estas
beneméritas corporações representar por piquetes dos seus corpos activos,
devidamente uniformizados, que fizeram em comum o serviço da recepção dos
bilhetes e entrega dos programas.
Apresentação das
contas:
Venda de 154 cadeiras a
$50 - 77$00
A deduzir:
Impressos
----------------- 5$20
Luz eléctrica -------
----- 2$00
Para a fazenda
---------- 1$50
Afinação de um piano
- 2$50
Carpinteiro e
transporte - 2$50
Papel selado e selos
----- $30
Líquido
------------------- 63$00
Assim foi entregue ao
Sr, Luiz Carlos de Chatillon a quantia de 63$00, produto liquido da referida
festa de caridade, pertencendo metade à Delegação da Cruz Vermelha e a outra
metade à Associação dos Bombeiros Voluntários de Penafiel.
A Direcção dos
Bombeiros Voluntários enviou à Sr.ª D. Isabel Silva o seguinte ofício:
Excelentíssima
Senhora D, Isabel Silva
Encarrega-me
a Associação dos Bombeiros Voluntários desta cidade, a cuja direcção tenho a
honra de presidir, de ser interprete dos seus sentimentos de gratidão e
reconhecimento, junto de V. Ex.ª, pela infinita bondade e suprema gentileza de
que deu provas, mandando entregar no cofre da referida Associação, metade do
produto do sarau por V. Ex.ª levado a efeito e que, com justiça para a Senhora
que o organizou, e para todas as que nele cooperaram, foi coberto de brilhantíssimo
êxito.
Bem
hajam V. Ex.ª e todas as suas ilustres colaboradoras, e permitam-me ainda que,
ao reiterar-lhes também o meu agradecimento individual, beije com respeito e
afecto as mãos generosas que à Associação dos Bombeiros Voluntários de
Penafiel acabam de dispensar tão valioso auxílio.
Penafiel,
26 de Abril de 1915
O
Presidente da Direcção
Vasco
Teixeira d'Araújo Mello de Queiroz
Todas as senhoras que
tomaram parte da elegantíssima festa, foram fotografadas no atelier do
conhecido fotógrafo Sebastião Borges.
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