RECORDAÇÕES DA PÁSCOA
RECORDAÇÕES DA PÁSCOA
Nesta quadra da Páscoa,
as padarias costumam fabricar as "pitinhas" que não chegam para as encomendas.
Enroladas a preceito em massa de regueifa, de cabecita levantada, de bico afiado e olhinhos de
chumbo, eram e ainda são uma tentação para a pequenada.
Depois havia essa
especialidade que era o pão-de-ló e o pão podre da Rosinha, que era uma
delícia. Quem não andasse da perna ou encomendá-se a tempo e horas dificilmente
o provava, tal era a procura.
Da parte da tarde de
Quinta-feira Santa, era uma chatice. As tramelas que se ouviam pelas ruas da
cidade, anunciavam a morte de Jesus, e até as rádios deixavam de passar música
neste dia e no próximo.
Mas o que eu gostava
mais de ver era a Queima do Judas no Sábado Aleluia. Esse traidor que
identificou Jesus aos soldados beijando-O a troco de trinta dinheiros após a
última ceia, bem merecia este castigo.
Junto ao gradeamento da
antiga Praça do Mercado, voltado para a Rua Sacadura Cabral, em Penafiel, era
montado um pinheiro e nele preso um boneco, caricatura tosca que simbolizava o
Judas, cheio de bombas e bichas de rabiar do carnaval, obra do sr. Laurindo do
Quiosque.
À hora estipulada, o Sr.
Laurindo com o morrão a arder na ponta de uma cana comprida, chegava o lume ao
rastilho do fantoche.
As bichas de rabiar
espalhavam-se por entre os mirones enquanto outras estoiravam nas entranhas do
malvado, fazendo-as voar em estilhaços por todos os lados.
Quase consumido pelo
fogo, o que restava do Judas desaparecia pelos ares, dando o triste pio com uma
bomba mais potente que se encontrava na cabeça.
Uma grande salva de
palmas era dada pelos presentes, no final.
Pouco tempo depois,
começavam-se a ouvir ao longe os sinos a repenicarem, anunciando a Ressurreição
do Senhor.
No Domingo de Páscoa,
lá se vestia a fatiota nova, colocava-se à porta de entrada pétalas de flores
misturadas com hera, e aguardava-se o compasso, que nessa altura trazia padre.
Quando o compasso estava
próximo chamavam-se todos os da casa para virem beijar a Cruz.
A saudação do senhor
abade, e a cruz ornamentada passava por todos nós e seguia para todas as casas.
Um costume que se vai
perdendo, é o de acompanhar o compasso ao vizinho, trocando cumprimentos e
votos de Páscoa Feliz.
Noutros tempos, uma
banda de música percorria as ruas da cidade e quando o compasso chegava ao
Sameiro havia foguetório.
Estas recordações de
uma Páscoa com mais de meio século de idade, comum a muitos e muitas leitoras
do meu blogue, deste meu recanto, não podia deixar de enviar a todos uma
saudação especial e os votos sinceros de uma Feliz Páscoa.
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