09 março 2016

EXCURSÃO DE COMBOIO A PENAFIEL



EXCURSÃO DE COMBOIO A PENAFIEL


No dia 17 de Setembro de 1916, ou seja, irá fazer este ano cem anos, que os Empregados do Comércio da cidade do Porto, aproveitando a linha do caminho de ferro que ligava Penafiel a Entre-os-Rios, visitaram em excursão a cidade de Penafiel.

Os excursionistas foram transportados de Novelas para a cidade de Penafiel, num comboio com cinco carruagens, apeando-se junto ao Largo do Calvário (hoje final da Av. Egas Moniz).

Organizou-se de seguida um belo cortejo, que abria com a banda de música Louzadense, seguindo-se a Associação Artística de Socorros Mútuos Penafidelense, com o seu estandarte, Corporação dos B. V. de Penafiel e respectiva bandeira, Associação de Classe dos Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas com a sua bandeira, Associação de Classe dos Empregados de Comércio e sua bandeira, delegação da Cruz Vermelha, representantes da imprensa local e do Porto e da Associação dos Empregados do Comércio de Famalicão e a sua bandeira, e de outras associações suas congéneres, bandeira da Associação dos Empregados do Comércio do Porto, União dos Empregados do Comércio do Porto, com a sua bandeira, Orfeão e Tuna com os seus respectivas bandeiras, estas duas últimas pertencentes À referida União.


10 horas - O cortejo inicia a sua marcha ao sons da Banda de Música Louzadense e da Tuna, passando pela Rua Formosa (hoje Av. Sacadura Cabral), sob vibrantes aclamações e estrondosas salvas de palmas, que eram acolhidos pelas senhoras que das varandas lançavam pétalas de flores.

À chegada à Praça Municipal, antes dos excursionistas e as associações entrarem no edifício municipal, repetiram-se as ruidosas aclamações a Penafiel, às damas, ao povo de Penafiel, aos excursionistas, à União, etc., que eram correspondidas por centenas de pessoas, vendo-se nas varandas das casas da Praça Municipal cheias de senhoras que não se cansavam de lançar flores.


Dirigiram-se para o Salão Nobre da Câmara onde eram aguardados pelo presidente da comissão executiva Sr. Eduardo Viana, acompanhado dos vereadores Srs. José Pereira Mendes Leal, José Pereira da Cunha, José Alberto Vieira e Carlos de Chatillon. Ao lado direito da presidência via-se a rica bandeira do município.

Fizeram-se representar: O comandante militar pelo sr. Tenente Cotta; administração do concelho pelo administrador substituto sr. Armando Barbosa; Associação Comercial e Industrial pelo sr. Augusto de Almeida; Junta da Paróquia pelo sr. António Abrantes; Bombeiros Voluntários de Penafiel pelo sr. Belmiro Xavier; Centro de Instrução e Recreio pelo sr. António d'Oliveira Pacheco, imprense local e do Porto.

As associações e colectividades estenderam-se ao longo do Salão Nobre, ficando ao fundo a Tuna da União.

Feito silêncio, o sr. Bernardo Abrantes Ferreira adiantou-se da mesa da presidência e fez a apresentação dos excursionistas em breves palavras.

O sr. Eduardo Viana deu as boas vindas aos excursionistas, enaltecendo a União dos Empregados do Comércio, terminando com um viva à União que foi entusiasticamente correspondido.

A Tuna executou  o hino da União, recebendo muitas palmas.

De seguida falou o presidente da União sr. Augusto Teles, que proferiu um entusiástico discurso, dizendo que não o surpreendia a recepção carinhosa feita à União pois já conhecia as tradições dos habitantes desta cidade por ter aqui encetado a sua carreira comercial. Demonstrou o sentimento de que estava possuído pela entusiástica manifestação que Penafiel dispensou aos excursionistas.

Referiu-se também à Tuna da União, ao Orfeão e ao Grupo Dramático, demonstrando que o caixeiro de hoje emprega as horas de descanso em cultivar a arte. Também se referiu à Associação dos Empregados de Comércio de Penafiel, À sua direcção, abraçando o sr. Henrique Chumbo, seu presidente.

Por último apresentou os cumprimentos, em nome da União, à Associação Comercial e Industrial e demais associações ali representadas, terminando por vivas À Câmara e ao Povo de Penafiel.

Falou de seguida Joaquim Faria, representante da Federação dos Caixeiros Portugueses, que num vibrante discurso fez ver o abandono que os governos votam a sua classe, alongando-se em considerações sociológicas. Agradeço em nome dos Caixeiros Portugueses, a imponente recepção, levantando vivas a Penafiel e às ilustres damas.


o Sr. Augusto Almeida, Presidente da Associação Comercial e Industrial, agradeceu as referências feitas À mesma associação.
O Sr. Eduardo Viana encerrou a sessão solene por não haver mais oradores inscritos.

A Tuna fez-se ouvir nos finais dos discursos e no fim da sessão, sendo sempre aplaudida.

No Salão Nobre, era distribuído aos presentes a seguinte poesia de autoria de Maximiano Rica, impressa em papel "croché".

Salvé Penafiel

Rapazes d'um génio vivo,
Pombas chamadas sem fel,
Vimos em grupo festivo
Visitar Penafiel.

Vimos à terra bemquista
Contemplar por uns momentos
Seus belos pontos de vista
Seus famosos monumentos

Vimos saudar suas terras
De um povo, liberal,
E suas famosas damas
Muito gentis, por sinal.

A descansar das refregas
Em que logo a vida se encerra
Vimos saudar os colegas
Do Comércio cá da terra.

Vimos saudar os seus louros
Que antigo brilho já têem
E desde o tempo dos mouros
O seu nome a atestar vêem

Inda agora a história amena
Conta os feitos a granel
Do seu Castelo da PENA
Aos cristãos sempre FIEL

Bela façanha que ufana
Quem seu arrojo memora
E faz da antiga Arrifana
A Penafiel d'agora

Nós que, bem pouco distantes
D'ela vivemos a par
Vimos em seus habitantes
O seu renome saudar

E que esta abraço afinal
Una como um ferreo anel
Os da cidade LEAL
Aos da cidade FIEL

Terminada a sessão na Câmara, o cortejo seguiu pela Rua Serpa Pinto (hoje Joaquim Cotta), Largo da Ajuda, Rua Alexandre Herculano (hoje Rua do Paço) e Av. Pedro Guedes (actual Largo Padre Américo), em direcção à ornamentada sede da Associação de Classe dos Empregados do Comércio, onde o Sr. Joaquim Teles presidiu a uma sessão solene em honra dos excursionistas, secretariado pelo Sr. Presidente da União do Porto e pelo Sr. Bernardo Abrantes Ferreira.

A sede da Associação dos Empregados do Comércio de Penafiel, ficava neste prédio arredondado na parte esquerda da foto.


Aberta a sessão o Sr. Presidente saudou, em nome da Associação dos Empregados do Comércio de Penafiel, a sua congénere do Porto, pela honra da sua visita a esta cidade.

Em seguida falou o 2.º Secretário da Federação Geral dos Caixeiros de Portugal Sr. Joaquim Faria, fez a apologia da união que deve existir entre eles para que as suas reivindicações se traduzam em factos, melhorando cada bvez mais a sua situação, tanto moral como económica.

Uma mensagem com o título BEMVINDOS! foi lida pelo Sr. José da Cunha Mello, 1.º Secretário da direcção, que se achava encerrada numa formosíssima pasta de setim verde, artisticamente pintado pela dona Maria Teresa de Vasconcelos, que mais uma vez revelou os seus excepcionais dotes de artista exímia.



A pintura da pasta representava as armas da nossa cidade e o emblema do Comércio, tendo enlaçada uma fita branca com a seguinte dedicatória:

"A Associação dos Empregados do Comércio saúda a União dos Empregados do Comércio do Porto, na sua visita oficial em 17-9-916".

Depois de alguns discursos, um membro da União entregou uma palma enfeitada de flores artificiais e enlaçadas com fitas de seda das cores do comércio, tendo gravada n'uma placa de prata a seguinte dedicatória:

"A União dos Empregados do Comércio do Porto à sua congénere de Penafiel"

Entretanto os excursionistas visitaram o hospital da Misericórdia, o quartel dos Bombeiros, Quartel Militar, Santuário da Nossa Senhora da Piedade e da parte de tarde alguns foram visitar as termas e a Entre-os-Rios de comboio.

No Hotel Central foram servidos almoço e jantar oficial da Tuna, constando dos menus o seguinte:


Hotel Avenida foi mais tarde sede do Sindicato dos Caixeiros de Penafiel


Já no Hotel Avenida, o almoço e o jantar constam dos seguintes menus:



Hotel Avenida onde hoje está o Banco Millennium BCP


Ao champanhe trocaram-se os seguintes brindes:

Do Sr. Alberto Vieira, representante da Câmara, À União; do Presidente da União Sr. Augusto Teles, ao representante da Câmara, agradecendo e brindando às damas penafidelenses e à imprensa do Porto e local; do Sr. Rodrigo Veiga, do jornal Commércio de Penafiel, à União: de Rodrigo Coelho, representante de "O Penafidelense", aos excursionistas e damas portuenses; do Sr. Eduardo Moura, do Jornal de Penafiel, à classe dos Empregados do Comércio do Porto; do Sr. Francisco Seara, representante da Montanha e da Lanterna, à União; do Sr. Jayme Guedes, à classe dos Empregados do Comércio; dos representantes de "O Primeiro de Janeiro" Sr. Loureiro Dias, e do Comércio do Porto, Sr. Alberto Monteiro, À Câmara e cidade de Penafiel; do Sr. Joaquim Faria, da Federação dos Caixeiros Portugueses, às reivindicações da classe; e do representante do Jornal de Notícias Sr. José d'Araújo , à União.


Às 17 horas, no coreto do Passeio Público, principiou o concerto pela Banda Regimental do 32, sob a hábil regência do seu chefe Balthazar Falcão em honra aos excursionistas.



Depois do jantar pelas 21 horas no Cine-Club o interessante concerto dado pela Tuna, Orchestra, Orfeão da União e Grupo Dramático.

No final a menina Maria Nunes Viana, simpática filha de Eduardo Viana, fez a entrega de uma palma, tendo na fita a dedicatória;

"A Associação dos Empregados do Comércio de Penafiel saúda a Tuna, Orchestra da União dos Empregados do Comércio do Porto. 17-9-916".

Terminado o espectáculo, todos os excursionistas tomaram lugar no comboio, seguindo para o Porto, onde deveriam ter chegado cerca das 3 horas da madrugada.

Tanto nos visitantes, como nos visitados era predominante a alegria estampada nos rostos, de um dia de convívio bem passado.