EXCURSÃO DE COMBOIO A PENAFIEL
EXCURSÃO
DE COMBOIO A PENAFIEL
No dia 17 de Setembro
de 1916, ou seja, irá fazer este ano cem anos, que os Empregados do Comércio da
cidade do Porto, aproveitando a linha do caminho de ferro que ligava Penafiel a
Entre-os-Rios, visitaram em excursão a cidade de Penafiel.
Os excursionistas foram
transportados de Novelas para a cidade de Penafiel, num comboio com cinco
carruagens, apeando-se junto ao Largo do Calvário (hoje final da Av. Egas
Moniz).
Organizou-se de seguida
um belo cortejo, que abria com a banda de música Louzadense, seguindo-se a
Associação Artística de Socorros Mútuos Penafidelense, com o seu estandarte,
Corporação dos B. V. de Penafiel e respectiva bandeira, Associação de Classe
dos Fabricantes de Calçado e Artes Correlativas com a sua bandeira, Associação
de Classe dos Empregados de Comércio e sua bandeira, delegação da Cruz
Vermelha, representantes da imprensa local e do Porto e da Associação dos
Empregados do Comércio de Famalicão e a sua bandeira, e de outras associações
suas congéneres, bandeira da Associação dos Empregados do Comércio do Porto,
União dos Empregados do Comércio do Porto, com a sua bandeira, Orfeão e Tuna
com os seus respectivas bandeiras, estas duas últimas pertencentes À referida
União.
10 horas - O cortejo inicia
a sua marcha ao sons da Banda de Música Louzadense e da Tuna, passando pela Rua
Formosa (hoje Av. Sacadura Cabral), sob vibrantes aclamações e estrondosas
salvas de palmas, que eram acolhidos pelas senhoras que das varandas lançavam
pétalas de flores.
À chegada à Praça
Municipal, antes dos excursionistas e as associações entrarem no edifício
municipal, repetiram-se as ruidosas aclamações a Penafiel, às damas, ao povo de
Penafiel, aos excursionistas, à União, etc., que eram correspondidas por
centenas de pessoas, vendo-se nas varandas das casas da Praça Municipal cheias
de senhoras que não se cansavam de lançar flores.
Dirigiram-se para o
Salão Nobre da Câmara onde eram aguardados pelo presidente da comissão
executiva Sr. Eduardo Viana, acompanhado dos vereadores Srs. José Pereira
Mendes Leal, José Pereira da Cunha, José Alberto Vieira e Carlos de Chatillon.
Ao lado direito da presidência via-se a rica bandeira do município.
Fizeram-se representar:
O comandante militar pelo sr. Tenente Cotta; administração do concelho pelo
administrador substituto sr. Armando Barbosa; Associação Comercial e Industrial
pelo sr. Augusto de Almeida; Junta da Paróquia pelo sr. António Abrantes;
Bombeiros Voluntários de Penafiel pelo sr. Belmiro Xavier; Centro de Instrução e
Recreio pelo sr. António d'Oliveira Pacheco, imprense local e do Porto.
As associações e
colectividades estenderam-se ao longo do Salão Nobre, ficando ao fundo a Tuna
da União.
Feito silêncio, o sr.
Bernardo Abrantes Ferreira adiantou-se da mesa da presidência e fez a
apresentação dos excursionistas em breves palavras.
O sr. Eduardo Viana deu
as boas vindas aos excursionistas, enaltecendo a União dos Empregados do
Comércio, terminando com um viva à União que foi entusiasticamente
correspondido.
A Tuna executou o hino da União, recebendo muitas palmas.
De seguida falou o
presidente da União sr. Augusto Teles, que proferiu um entusiástico discurso,
dizendo que não o surpreendia a recepção carinhosa feita à União pois já
conhecia as tradições dos habitantes desta cidade por ter aqui encetado a sua
carreira comercial. Demonstrou o sentimento de que estava possuído pela
entusiástica manifestação que Penafiel dispensou aos excursionistas.
Referiu-se também à
Tuna da União, ao Orfeão e ao Grupo Dramático, demonstrando que o caixeiro de
hoje emprega as horas de descanso em cultivar a arte. Também se referiu à
Associação dos Empregados de Comércio de Penafiel, À sua direcção, abraçando o
sr. Henrique Chumbo, seu presidente.
Por último apresentou os
cumprimentos, em nome da União, à Associação Comercial e Industrial e demais
associações ali representadas, terminando por vivas À Câmara e ao Povo de
Penafiel.
Falou de seguida
Joaquim Faria, representante da Federação dos Caixeiros Portugueses, que num
vibrante discurso fez ver o abandono que os governos votam a sua classe,
alongando-se em considerações sociológicas. Agradeço em nome dos Caixeiros
Portugueses, a imponente recepção, levantando vivas a Penafiel e às ilustres
damas.
o Sr. Augusto Almeida,
Presidente da Associação Comercial e Industrial, agradeceu as referências
feitas À mesma associação.
O Sr. Eduardo Viana
encerrou a sessão solene por não haver mais oradores inscritos.
A Tuna fez-se ouvir nos
finais dos discursos e no fim da sessão, sendo sempre aplaudida.
No Salão Nobre, era
distribuído aos presentes a seguinte poesia de autoria de Maximiano Rica, impressa
em papel "croché".
Salvé Penafiel
Rapazes
d'um génio vivo,
Pombas
chamadas sem fel,
Vimos
em grupo festivo
Visitar
Penafiel.
Vimos
à terra bemquista
Contemplar
por uns momentos
Seus
belos pontos de vista
Seus
famosos monumentos
Vimos
saudar suas terras
De
um povo, liberal,
E
suas famosas damas
Muito
gentis, por sinal.
A
descansar das refregas
Em
que logo a vida se encerra
Vimos
saudar os colegas
Do
Comércio cá da terra.
Vimos
saudar os seus louros
Que
antigo brilho já têem
E
desde o tempo dos mouros
O
seu nome a atestar vêem
Inda
agora a história amena
Conta
os feitos a granel
Do
seu Castelo da PENA
Aos
cristãos sempre FIEL
Bela
façanha que ufana
Quem
seu arrojo memora
E
faz da antiga Arrifana
A
Penafiel d'agora
Nós
que, bem pouco distantes
D'ela
vivemos a par
Vimos
em seus habitantes
O
seu renome saudar
E
que esta abraço afinal
Una
como um ferreo anel
Os
da cidade LEAL
Aos
da cidade FIEL
Terminada a sessão na
Câmara, o cortejo seguiu pela Rua Serpa Pinto (hoje Joaquim Cotta), Largo da
Ajuda, Rua Alexandre Herculano (hoje Rua do Paço) e Av. Pedro Guedes (actual
Largo Padre Américo), em direcção à ornamentada sede da Associação de Classe
dos Empregados do Comércio, onde o Sr. Joaquim Teles presidiu a uma sessão
solene em honra dos excursionistas, secretariado pelo Sr. Presidente da União
do Porto e pelo Sr. Bernardo Abrantes Ferreira.
A sede da Associação dos Empregados do Comércio de Penafiel, ficava neste prédio arredondado na parte esquerda da foto. |
Aberta a sessão o Sr.
Presidente saudou, em nome da Associação dos Empregados do Comércio de
Penafiel, a sua congénere do Porto, pela honra da sua visita a esta cidade.
Em seguida falou o 2.º
Secretário da Federação Geral dos Caixeiros de Portugal Sr. Joaquim Faria, fez
a apologia da união que deve existir entre eles para que as suas reivindicações
se traduzam em factos, melhorando cada bvez mais a sua situação, tanto moral
como económica.
Uma mensagem com o
título BEMVINDOS! foi lida pelo Sr. José da Cunha Mello, 1.º Secretário da
direcção, que se achava encerrada numa formosíssima pasta de setim verde,
artisticamente pintado pela dona Maria Teresa de Vasconcelos, que mais uma vez
revelou os seus excepcionais dotes de artista exímia.
A pintura da pasta
representava as armas da nossa cidade e o emblema do Comércio, tendo enlaçada
uma fita branca com a seguinte dedicatória:
"A Associação dos
Empregados do Comércio saúda a União dos Empregados do Comércio do Porto, na
sua visita oficial em 17-9-916".
Depois de alguns
discursos, um membro da União entregou uma palma enfeitada de flores
artificiais e enlaçadas com fitas de seda das cores do comércio, tendo gravada
n'uma placa de prata a seguinte dedicatória:
"A União dos
Empregados do Comércio do Porto à sua congénere de Penafiel"
Entretanto os
excursionistas visitaram o hospital da Misericórdia, o quartel dos Bombeiros,
Quartel Militar, Santuário da Nossa Senhora da Piedade e da parte de tarde
alguns foram visitar as termas e a Entre-os-Rios de comboio.
No Hotel Central foram
servidos almoço e jantar oficial da Tuna, constando dos menus o seguinte:
Hotel Avenida foi mais tarde sede do Sindicato dos Caixeiros de Penafiel |
Já no Hotel Avenida, o
almoço e o jantar constam dos seguintes menus:
Hotel Avenida onde hoje está o Banco Millennium BCP |
Ao champanhe
trocaram-se os seguintes brindes:
Do Sr. Alberto Vieira,
representante da Câmara, À União; do Presidente da União Sr. Augusto Teles, ao
representante da Câmara, agradecendo e brindando às damas penafidelenses e à
imprensa do Porto e local; do Sr. Rodrigo Veiga, do jornal Commércio de
Penafiel, à União: de Rodrigo Coelho, representante de "O
Penafidelense", aos excursionistas e damas portuenses; do Sr. Eduardo
Moura, do Jornal de Penafiel, à classe dos Empregados do Comércio do Porto; do
Sr. Francisco Seara, representante da Montanha e da Lanterna, à União; do Sr.
Jayme Guedes, à classe dos Empregados do Comércio; dos representantes de
"O Primeiro de Janeiro" Sr. Loureiro Dias, e do Comércio do Porto,
Sr. Alberto Monteiro, À Câmara e cidade de Penafiel; do Sr. Joaquim Faria, da
Federação dos Caixeiros Portugueses, às reivindicações da classe; e do
representante do Jornal de Notícias Sr. José d'Araújo , à União.
Às 17 horas, no coreto
do Passeio Público, principiou o concerto pela Banda Regimental do 32, sob a
hábil regência do seu chefe Balthazar Falcão em honra aos excursionistas.
Depois do jantar pelas
21 horas no Cine-Club o interessante concerto dado pela Tuna, Orchestra, Orfeão
da União e Grupo Dramático.
No final a menina Maria
Nunes Viana, simpática filha de Eduardo Viana, fez a entrega de uma palma,
tendo na fita a dedicatória;
"A Associação dos
Empregados do Comércio de Penafiel saúda a Tuna, Orchestra da União dos Empregados do Comércio do Porto. 17-9-916".
Terminado o
espectáculo, todos os excursionistas tomaram lugar no comboio, seguindo para o
Porto, onde deveriam ter chegado cerca das 3 horas da madrugada.
Tanto nos visitantes,
como nos visitados era predominante a alegria estampada nos rostos, de um dia
de convívio bem passado.
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