GRUPO CÉNICO ALMA JUVENIL
GRUPO
CÉNICO
ALMA
JUVENIL
No início dos anos 60
do século passado, em Penafiel existiam dois grupos cénicos, o Penafidelense e
o Alma Juvenil, que se "rivalizavam" entre si, já que cada um deles
queria ser melhor que o outro.
Hoje vou trazer à
contenda o "Grupo Cénico Alma Juvenil", sendo que a verdadeira alma deste
grupo era o professor Albano Morais.
Professor Albano Morais |
Tanto o Grupo Cénico
Penafidelense como o Alma Juvenil faziam teatro revista, brincando com certos
figurões e denunciando certas coisas cá da terra, duma maneira alegre por entre
diálogos e canções.
Estou-me a lembrar que
na revista "Bola ao Centro", divertidamente se cantava sobre uma
situação em que as mulheres grávidas de Penafiel, iam ter os filhos no hospital
de Paredes ficando estes a serem paredenses à nascença e que rezava assim:
Meninas
tomai cuidado
É
difícil como vedes
Fazer
os filhos cá em cima
E
largá-los em Paredes
E
os filhos das tristes ervas,
Feito
cá pelos canteiros
Já
não são filhos da mãe
Nem,
sequer, são albardeiros!
Também esta revista
comentava sobre o velho quartel da G. N. R. quando este se situava na Rua
Engenheiro Matos da seguinte maneira:
Foto de Fernando Beça Moreira |
Encontrei
a G.N.R.
A
gritar por entre o povo
Que
há mais de 50 anos
Precisa
de um quartel novo
De
tão velho que é o quartel
Palavra
que muito cismo
Porque
é que a G.N.R.
Não
lhe pega o reumatismo
E
sobre a sua actuação aí vai:
Quando
ela é precisa
P'ra
acudir ao ser humano
A
gente chama por ela
Só
chega passado um ano.
Quando subiu ao palco a
revista "Pé de Vento", no Cine-Teatro S. Martinho, até o filho do
proprietário do cinema e a qualidade dos filmes não estiveram isentos da
crítica.
No
cinema há coisa errada
Que
já vai dando sarilho
Por
só vermos estufada
A
cadeira do Pinto filho
Acho
bem, está bom de ver
Pode
o pequeno sofrer
Do
assento ou joanetes
Se
a estufou
Não
é para rir
É
para poder dormir
Quando
os filmes são barretes.
Sobre o local das
paragens das caminhetas cantavam:
Paramos
no Imperial
E
não paramos no Bar
Mas
ao pé do Sociedade
Já
a gente pode parar
Aqui
para-se de frente
ali
para-se em bicha
Só
as caminhetas do Pinto
Param
no João da Lixa.
Agora
sobre a fusão dos dois clubes que haviam cá na terra, o Uniao de verde e branco
e o Sport de vermelho e preto, para nascer o F. C. de Penafiel, e a polémica
que gerou as cores das suas camisolas.
De
verde e branco vestido
Fui
noutros tempos o União
Pelo
Sport engolido
As
cores de agora são as de então
O
Sport não acabou
Fez-se
apenas desaparecido
Pois
só o nome, mudou
P'ra
não ser tão conhecido
Também
com a união de várias padarias, acabou-se a especialidade de cada uma para
aparecer a SOPÃO, e que a inspiração de Albano Morais deu nisto:
Diz-me
ó Quim Bijou
Porque
não queres tu
Para
maior tormento
Entrar
para o grupo
Do
Alcino e Armindo
e
do Sacramento?
Um
raio te parta
Até
de Santa Marta
Vem
o Sousa, avante
Se
nos pudermos unir
Muito
me vou rir
Do
tal Zé pagante
Lá
se nos vai a Corneta
E
a padaria do Graça,
Vão
fazer uma união
Eu
juro que não é treta
Só
fica o de traz da Praça
Que
não interessa à fusão.
Uma
postura camarária obrigava a que fosse colocado o n.º da porta sobre a fachada
da mesma. E claro deu nisto:
Tanta
obra p'ra fazer
Com
que se vão entreter
Põem-me
o juízo em brasa
Deu-se
até por empreitada
O
pintar-se na fachada
O
número da nossa casa
Lá
anda o "Chora"
Por
aí fora
A
pôr o número na porta de cada um
Porque
será? Ele reflete!
De
sessenta e sete
Ele
vai ao setenta e um.
Mas
houve alguém
Que
pensou bem
A
quem o "Chora" com palavras não comove
Diz
com furor
Ó
seu pintor
Porque
é que o senhor, não faz o sessenta e nove?
Mais
tarde apareceu a Revista "Seringadelas", que sobre a beleza da cidade
cantavam:
Cidade
cheia de luz
Menina
dos olhos meus
És
um berço de Jesus
Abençoado
por Deus
E
à noite quando o luar
Vem
cobrir-te com ternura
A
lua vem-te beijar
Num
beijo meigo, todo doçura.
Coro
Cobre-te o manto
Da Virgem Divina
És toda encanto
Cidade menina
És um castelo
De moira encantada
Onde tudo é belo
Minha namorada
Eternamente
Ó terra bendita
És o sol poente
Sempre a mais bonita
Jardim em flor
De rosas aos molhos
És o meu amor
à luz dos meus olhos
Agora
foi a vez de criticar a moda das meninas usarem calças à homem. Aí vai:
As
meninas usam calças
Disso
me rio a fartar
Porque
lhe abriram carcela
Se
não têm nada p'ra tirar
Mais
uma cantilena a enaltecer Penafiel, desde o Sameiro, passando pelo Carmo até
Senradelas.
Do
alto do Sameiro
És
verde cor do mar
És
toda uma canção
Espalhada
no ar
És
roseiral em flor
Assim te vejo eu
Colocada
no alto
Ficas
mais perto do céu.
Coro
Cidade de luz
Que linda que tu és
Cidade de luz
Com o Sousa a teus pés
Cidade de sonho
És toda uma canção
Que vives inteirinha
Dentro do meu coração
Do
Carmo a Senradelas
Todo
o coração palpita
Nas
ruas e vielas
És
sempre a mais bonita
Tens
graça e gentileza
Duma
noiva enamorada
Castelo
de beleza
D'uma
moirinha encantada
Com
a morte de Albano Morais, o Alma Juvenil ficou abalado, tendo um segundo folgo
muito mais tarde por Fernando Marques com revistas como:
Pão e Vinho Verde
Há
quem goste do maduro
Mas
isso vos asseguro
Neste
caso não me enrasco
Podem-me
oferecer do fino
Moscatel
ou Constantino
Para
mim é só verdasco
Eu
bem sei que muita gente
Bebe
anis, ponche, aguardente
E
mete tudo no casco
Outros
bebem limonada
Cerveja
ou laranjada
Para
mim é só verdasco
Na
barriga meto estoque
Até
saltar o batoque
Ali
em casa do Damasco
Mas
olho e vejo escuro
Grito
logo é maduro
E
eu só bebo verdasco.
Sopa Seca
São
Martinho e S. Simão
Como
S. Bartolomeu
Vinho
e tigela na mão
Para
cristão ou ateu
De
São Roque à Matriz
E
do Carmo ao Sameiro
Toda
a gente é feliz
Com
seu santo milagreiro
Corpo
de Deus Procissão
O
povo em humildade
A
rezar em oração
Pelas
ruas da cidade
Coro
Sopa
seca, sopa seca
é
a nossa sobremesa
Sopa
seca, sopa seca
O
alguidar sobre a mesa
Sopa
seca, sopa seca
Arroz,
carneiro assado
Com
batatinhas no forno
é
o prato apreciado
Passa por Mim no
Sameiro
Como
se pode ler, nesta revista há texto de Albano Morais, embora este último já
tenha falecido mas certos textos das revistas por ele escritas foram trazidos
para esta.
Senhoras
e senhores
Cá
estamos mais uma vez
Pois
não há duas sem três
E
não será a derradeira
Procuramos
fazer graça
Vai
voltar viva a chalaça
Tudo
em tom de brincadeira
Piadas
a figurões
Entre
risos e canções
Sem
intenção de ferir
São
coisas desta cidade
Que
alegra a mocidade
Tudo
isto é feito a rir
O
sintoma do bairrismo
A
crítica o derrotismo
É
saudável é verdadeiro
Para
resolver questões
E
sem complicações
Passa
por mim no Sameiro.
Porque
os tempos são outros e a malta nova não está para aqui virada, a sua
actividade(teatralmente falando), está a bem dizer, graças à carolice de alguns,
em especial ao Graciano Alves, resumida à popular tradição da "Serragem da
Velha".
Como
em tudo na vida, há altos e baixos, e nunca se sabe, se esta Alma Juvenil
qualquer dia não rejuvenesce e nos presenteia de novo com Teatro Revista, mas
se isto vier a acontecer, o que francamente espero, não estou a ver onde possam
levar à cena condignamente qualquer tipo de peça teatral, já que o Cine-Teatro
S. Martinho, que era a única casa de espectáculos digna desse nome que existia
em Penafiel para esse fim, já não existe.
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