02 março 2016

GRUPO CÉNICO ALMA JUVENIL



GRUPO CÉNICO
ALMA JUVENIL


No início dos anos 60 do século passado, em Penafiel existiam dois grupos cénicos, o Penafidelense e o Alma Juvenil, que se "rivalizavam" entre si, já que cada um deles queria ser melhor que o outro.

Hoje vou trazer à contenda o "Grupo Cénico Alma Juvenil", sendo que a verdadeira alma deste grupo era o professor Albano Morais.

Professor Albano Morais

Tanto o Grupo Cénico Penafidelense como o Alma Juvenil faziam teatro revista, brincando com certos figurões e denunciando certas coisas cá da terra, duma maneira alegre por entre diálogos e canções.

Estou-me a lembrar que na revista "Bola ao Centro", divertidamente se cantava sobre uma situação em que as mulheres grávidas de Penafiel, iam ter os filhos no hospital de Paredes ficando estes a serem paredenses à nascença e que rezava assim:

Meninas tomai cuidado
É difícil como vedes
Fazer os filhos cá em cima
E largá-los em Paredes

E os filhos das tristes ervas,
Feito cá pelos canteiros
Já não são filhos da mãe
Nem, sequer, são albardeiros!

Também esta revista comentava sobre o velho quartel da G. N. R. quando este se situava na Rua Engenheiro Matos da seguinte maneira:

Foto de Fernando Beça Moreira


Encontrei a G.N.R.
A gritar por entre o povo
Que há mais de 50 anos
Precisa de um quartel novo

De tão velho que é o quartel
Palavra que muito cismo
Porque é que a G.N.R.
Não lhe pega o reumatismo

E sobre a sua actuação aí vai:

Quando ela é precisa
P'ra acudir ao ser humano
A gente chama por ela
Só chega passado um ano.



Quando subiu ao palco a revista "Pé de Vento", no Cine-Teatro S. Martinho, até o filho do proprietário do cinema e a qualidade dos filmes não estiveram isentos da crítica.

No cinema há coisa errada
Que já vai dando sarilho
Por só vermos estufada
A cadeira do Pinto filho

Acho bem, está bom de ver
Pode o pequeno sofrer
Do assento ou joanetes
Se a estufou
Não é para rir
É para poder dormir
Quando os filmes são barretes.


Sobre o local das paragens das caminhetas cantavam:

Paramos no Imperial
E não paramos no Bar
Mas ao pé do Sociedade
Já a gente pode parar


Aqui para-se de frente
ali para-se em bicha
Só as caminhetas do Pinto
Param no João da Lixa.

Agora sobre a fusão dos dois clubes que haviam cá na terra, o Uniao de verde e branco e o Sport de vermelho e preto, para nascer o F. C. de Penafiel, e a polémica que gerou as cores das suas camisolas.

De verde e branco vestido
Fui noutros tempos o União
Pelo Sport engolido
As cores de agora são as de então

O Sport não acabou
Fez-se apenas desaparecido
Pois só o nome, mudou
P'ra não ser tão conhecido

Também com a união de várias padarias, acabou-se a especialidade de cada uma para aparecer a SOPÃO, e que a inspiração de Albano Morais deu nisto:

Diz-me ó Quim Bijou
Porque não queres tu
Para maior tormento
Entrar para o grupo
Do Alcino e Armindo
e do Sacramento?
Um raio te parta
Até de Santa Marta
Vem o Sousa, avante
Se nos pudermos unir
Muito me vou rir
Do tal Zé pagante

Lá se nos vai a Corneta
E a padaria do Graça,
Vão fazer uma união
Eu juro que não é treta
Só fica o de traz da Praça
Que não interessa à fusão.



Uma postura camarária obrigava a que fosse colocado o n.º da porta sobre a fachada da mesma. E claro deu nisto:

Tanta obra p'ra fazer
Com que se vão entreter
Põem-me o juízo em brasa
Deu-se até por empreitada
O pintar-se na fachada
O número da nossa casa

Lá anda o "Chora"
Por aí fora
A pôr o número na porta de cada um
Porque será? Ele reflete!
De sessenta e sete
Ele vai ao setenta e um.

Mas houve alguém
Que pensou bem
A quem o "Chora" com palavras não comove
Diz com furor
Ó seu pintor
Porque é que o senhor, não faz o sessenta e nove?

Mais tarde apareceu a Revista "Seringadelas", que sobre a beleza da cidade cantavam:



Cidade cheia de luz
Menina dos olhos meus
És um berço de Jesus
Abençoado por Deus
E à noite quando o luar
Vem cobrir-te com ternura
A lua vem-te beijar
Num beijo meigo, todo doçura.

Coro
Cobre-te o manto
Da Virgem Divina
És toda encanto
Cidade menina
És um castelo
De moira encantada
Onde tudo é belo
Minha namorada
Eternamente
Ó terra bendita
És o sol poente
Sempre a mais bonita
Jardim em flor
De rosas aos molhos
És o meu amor
à luz dos meus olhos

Agora foi a vez de criticar a moda das meninas usarem calças à homem. Aí vai:


As meninas usam calças
Disso me rio a fartar
Porque lhe abriram carcela
Se não têm nada p'ra tirar

Mais uma cantilena a enaltecer Penafiel, desde o Sameiro, passando pelo Carmo até Senradelas.

Do alto do Sameiro
És verde cor do mar
És toda uma canção
Espalhada no ar
És roseiral em flor
Assim  te vejo eu
Colocada no alto
Ficas mais perto do céu.

Coro

Cidade de luz
Que linda que tu és
Cidade de luz
Com o Sousa a teus pés
Cidade de sonho
És toda uma canção
Que vives inteirinha
Dentro do meu coração

Do Carmo a Senradelas
Todo o coração palpita
Nas ruas e vielas
És sempre a mais bonita
Tens graça e gentileza
Duma noiva enamorada
Castelo de beleza
D'uma moirinha encantada

Com a morte de Albano Morais, o Alma Juvenil ficou abalado, tendo um segundo folgo muito mais tarde por Fernando Marques com revistas como:

Pão e Vinho Verde

Há quem goste do maduro
Mas isso vos asseguro
Neste caso não me enrasco
Podem-me oferecer do fino
Moscatel ou Constantino
Para mim é só verdasco

Eu bem sei que muita gente
Bebe anis, ponche, aguardente
E mete tudo no casco
Outros bebem limonada
Cerveja ou laranjada
Para mim é só verdasco

Na barriga meto estoque
Até saltar o batoque
Ali em casa do Damasco
Mas olho e vejo escuro
Grito logo é maduro
E eu só bebo verdasco.


Sopa Seca



São Martinho e S. Simão
Como S. Bartolomeu
Vinho e tigela na mão
Para cristão ou ateu

De São Roque à Matriz
E do Carmo ao Sameiro
Toda a gente é feliz
Com seu santo milagreiro

Corpo de Deus Procissão
O povo em humildade
A rezar em oração
Pelas ruas da cidade

Coro
Sopa seca, sopa seca
é a nossa sobremesa
Sopa seca, sopa seca
O alguidar sobre a mesa
Sopa seca, sopa seca
Arroz, carneiro assado
Com batatinhas no forno
é o prato apreciado



Passa por Mim no Sameiro


Como se pode ler, nesta revista há texto de Albano Morais, embora este último já tenha falecido mas certos textos das revistas por ele escritas foram trazidos para esta.

Senhoras e senhores
Cá estamos mais uma vez
Pois não há duas sem três
E não será a derradeira
Procuramos fazer graça
Vai voltar viva a chalaça
Tudo em tom de brincadeira

Piadas a figurões
Entre risos e canções
Sem intenção de ferir
São coisas desta cidade
Que alegra a mocidade
Tudo isto é feito a rir

O sintoma do bairrismo
A crítica o derrotismo
É saudável é verdadeiro
Para resolver questões
E sem complicações
Passa por mim no Sameiro.

Porque os tempos são outros e a malta nova não está para aqui virada, a sua actividade(teatralmente falando), está a bem dizer, graças à carolice de alguns, em especial ao Graciano Alves, resumida à popular tradição da "Serragem da Velha".
 


Como em tudo na vida, há altos e baixos, e nunca se sabe, se esta Alma Juvenil qualquer dia não rejuvenesce e nos presenteia de novo com Teatro Revista, mas se isto vier a acontecer, o que francamente espero, não estou a ver onde possam levar à cena condignamente qualquer tipo de peça teatral, já que o Cine-Teatro S. Martinho, que era a única casa de espectáculos digna desse nome que existia em Penafiel para esse fim, já não existe.