10 junho 2015

O AEROGRAMA DA FOTO ANTONY



O AEROGRAMA DA FOTO ANTONY


No dia 4 de Fevereiro de 1961, deu-se início em Angola à Guerra Colonial, quando um grupo de cerca de 200 angolanos, ligados ao MPLA, atacou a Casa de Reclusão Militar, em Luanda, a Cadeia da 7.ª Esquadra da polícia, a sede dos CTT e a Emissora Nacional de Angola.

Foi um conflito armado entre as forças independentistas de Angola — UPA/FNLA, MPLA e, a partir de 1966, a UNITA e as Forças Armadas de Portugal, que terminou em 1975.

Todos os que estiveram no cenário da guerra, e os seus familiares e amigos, sabem que um aerograma é uma carta que se enviava por correio aéreo, sem necessidade de sobrescrito.

Mas o que pouca gente sabe é que este modo de comunicação foi inventada e patenteada pelo literário português Fernando Pessoa, e tem uma tarifa diferente da do resto da correspondência.

Ganhou fama durante a Guerra Colonial, como meio de comunicação preferencial entre as famílias na Metrópole e as tropas destacadas em Angola, Moçambique e Guiné-Bissau, em virtude de ser um meio grátis de correspondência, mantido pelo antigo SPM (Serviço Postal Militar).

Os de cor amarela eram usados pelos soldados em África para Portugal, e os de cor azul faziam o percurso inverso.

Por vezes, os aerogramas do Movimento Nacional Feminino (MNF) esgotavam nas terras do interior de Portugal, pelo que se tinha que deitar mão a cartas ou aos aerogramas da Foto Antony em Penafiel, mas nestes casos tinham que ser seladas, pelos CTTs.

Assim em 1962, este aerograma da Foto Antony, não só tinha linhas para facilitar a escrita, como dava a conhecer certos recantos com encanto de Penafiel.


Na parte do endereço,  aparece uma foto do Santuário da Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, com o lago do parque (ainda intacto) a seus pés. 


No remetente uma quadra do poeta penafidelense José Júlio que diz o seguinte:
Penafiel
Nossa terra, alegre e linda, é como as rosas
Sem ter outra tão bonita ou igual
Na frescura e no encanto das formosas
Deste ramo que se chama Portugal!


Na aba do lado esquerdo duas fotos, uma da Praça Municipal e outra da Avenida Sacadura Cabral, ainda com a Praça do Mercado.


Do lado direito aparece o Mosteiro de Paço de Sousa e Aldeia do Gaiato. Aqui também aparece um texto assinado por Abílio Miranda intitulado Penafiel, que dizia o seguinte:

"Esta terra encantadora, situada num vértice dum monte, eleva-se a considerável altura com a magia de um conto de fada, entre os luxariantes vales dos rios Sousa e Cavalum, de beleza de raro confronto, cidade de velhas tradições,sede dum concelho administrativamente de primeira classe, que é banhado, em grande extensão, pelos rios Douro, Tâmega e Cavalum.

Cortado em todas as direcções por admiráveis estradas que conduzem a termas de grande eficácia e renome, a monumentos artísticos de nobilíssimas tradições históricas, como sejam o Mosteiro de Paço de Sousa, onde se encontra o cenotáfio da sepultura do inclito varão da lealdade portuguesa, D. Egas Moniz, mosteiro de Bostelo, muitas igrejas românicas e monumentos variadíssimos e de remotíssimas épocas...

Existem aqui também notáveis miradouros, donde se disfrutam panoramas que enlevam à máxima comoção de grandeza do belo, os espíritos menos impressionáveis e mais indiferentes".

Aqui se pode ver, como um Homem que até se posicionava contra a Guerra Colonial, desenvolvia com o seu saber um serviço público de apoio aos tropas e seus familiares, destrinçando o povo português do seu regime.

Quem conheceu Antony, sabe a falta que nos faz o seu jornal de montra, como "trincheira" para combater estes arrumadores da história, que nos saíram na rifa.