O RENASCER DAS CINZAS DO MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA
O RENASCER DAS CINZAS
DO MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA
Depois do
incêndio de 9 de Março de 1927, com origem nas dependências monásticas, e que
se estendeu ao corpo da igreja, destruindo a cobertura, dois altares, adornos e
objectos litúrgicos e algumas cantarias ornamentadas.
Ainda no
mesmo ano, principiaram as obras de restauro, que se vão prolongar até 1938.
Nisso estão
empenhados o ilustre artista Senhor Adães Bermudes, arquitecto director dos
Monumentos e Palácios Nacionais e o seu cooperador Senhor Baltazar de Castro,
arquitecto da secção dos monumentos do Norte, que com o maior desvelo iniciaram
os seus trabalhos.
Da esquerda
para a direita, o engenheiro João Pimentel, o arquitecto Baltasar de Castro e o
arquitecto director dos Monumentos Nacionais, snr. Adães Bermudes com o abade
de Paço de Sousa, rev. Manuel Gomes de Castro e o abade rev. J. Monteiro de
Aguiar, ilustre arqueólogo.
O domingo 13 de Março de 1927, marca uma data memorável para o monumento. Como um lenitivo para a dor cruciante originada pelas paredes denegridas e madeiramentos carbonizados, surgia o trabalho fecundo, quer intelectual dos arquitectos e arqueólogos, quer material do bom povo da freguesia, que em massa, com a melhor boa vontade libertou o templo dos detritos enegrecidos nele acumulados. Todos compreenderam o apelo que o digno pároco à hora da missa fizera, nesse ambiente impressionante de ruína, com a sua reconhecida eloquência que tocou mesmo os corações menos sensíveis. Era preciso que a igreja fosse restaurada sem demora. E os primeiros passos davam-se nesse mesmo dia. É de notar o acolhimento penhorante que o Senhor Abade Rev. Manuel Gomes de Castro dispensou aos técnicos oficiais recebendo-os galhardamente na sua residência.
O arquitecto Baltasar de Castro
A equipa
técnica da DGEMN, seguidora dos princípios de restauro da década de 30 do
século XX, descreve o Mosteiro do Salvador como:
«(...) um edifício
de monumental valor histórico, no entanto, encoberto pelo delírio barroco;
(...) o campanário que ali se ergueu pelo mesmo tempo – grosso cubo de granito
(...); a rebuscada extravagância do trabalho ornamental com que no século XVIII
se ocultou, como coisa bárbara, a nobre e singela frontaria desse templo não
foram certamente excedidas ou sequer igualadas, até hoje, em qualquer monumento
nacional (...) os autores daquela obra desatinada capricharam em estender ali,
sobre as veneráveis cantarias do antigo frontispício, uma verdadeira manta de
farrapos arquitectónicos».
Antes
Depois já sem torre sineira.
Em 1933, a
operação de saneamento estético da fachada principal, da igreja de Paço de
Sousa, com a remoção dos elementos barrocos, provocou um motim popular e o
protesto do Presidente da Câmara de Penafiel, Capitão Arrochela Lobo, mostrando
assim o seu descontentamento, ao considerarem que:
«esse hibridismo não
comprometia a beleza do aspecto geral da frontaria, tendo a vantagem de
apresentar a aliança embora singular do espírito de duas épocas artísticas tão
diferentes e distanciadas, formando um conjunto de rara beleza, na urdidura do
estilo D. João V»
A
intervenção incluiu a demolição do muro voltado ao claustro, da torre e de
parte do edifício do Mosteiro, bem como das decorações barrocas da fachada. No
interior procedeu-se à remoção dos altares dos absidíolos, ao entaipamento da
porta do lado sul do transepto, da janela do absidíolo norte e abriram-se as
frestas dos absidíolos bem como os arcos entre os mesmos e a capela-mor.
Procedeu-se
à constituição da rosácea, das cornijas, dos cachorros, do friso ornamental e
dos contrafortes que apresentavam mutilações.
Foi demolida
parte da área conventual, permitindo hoje o acesso directo ao claustro. Nos
absidíolos os dois retábulos foram transferidos «para mais adequado lugar» e
reparados. No seu lugar foram colocados outros em pedra, semelhantes aos que
existiriam ali primitivamente.
Voltando à
análise do Boletim, verifica-se que, no capítulo designado por Obras de Restauração,
é apresentada uma listagem dos trabalhos realizados, entre os anos de 1927 e
1938:
- Desmontagem
da torre junto à frontaria da igreja;
- Demolição
da parte conventual; desmontagem das incrustações barrocas da fachada
principal;
- Colocação
da antiga cruz na empena; demolição da parede que tapava a fachada sul;
- Restauro
da porta, frestas, cornija e cachorrada da fachada sul;
- Restauro
do friso ornamental que corre pelo edifício;
- Mudança
dos cachorros que se encontravam na varanda da escada da Casa Pia para o sítio
original (fachada principal);
- Renovação
da ala do claustro e do chafariz;
- Rebaixamento
e lajeamento de todo o adro;
- Restauro
parcial da fachada norte (contrafortes e frestas);
- Desentaipamento
das janelas dos absidíolos e tapamento de uma janela aberta na época moderna;
- Restauro
parcial de todas as outras frestas;
- Desentaipamento
e restauro do pórtico sul;
- Reconstrução
de toda a cobertura; reconstrução parcial do contraforte angular do lado
direito da frontaria;
- Mudança
das pedras do túmulo de Egas Moniz para o absidíolo esquerdo:
- Trasladação
solene das cinzas de Egas Moniz para o seu túmulo (reconstituído em 31 de
Agosto de 1929);
- Desmontagem
dos altares de madeira dos absidíolos e trasladação para outros lugares;
- Colocação
de novos altares de pedra nos mesmos sítios:
- Colocação
de vidraças em forma de losangos em todos os vãos;
- Desentaipamento
e reparação dos arcos de comunicação entre as capelas mor e laterais;
- Rebaixamento
e lajeamento de todas as naves e modificação dos degraus da abside;
- Construção
de nova torre sineira afastada da igreja;
- Reconstrução
da rosácea;
A nova torre sineira, e o cruzeiro que foi inaugurado no dia, 16 de Agosto de 1690
Em 1943, o cruzeiro foi removido do seu local e recolocado no chamado Alto do Assento, onde se encontra actualmente.
- Mudança do
cruzeiro antigo para o alto situado no términus do caminho em frente à igreja;
- Tapamento
de uma porta na nave cruzeira, rebaixamento e vedação da zona exterior a essa
porta; na fachada poente:
- Reconstrução
da rosácea e da cruz terminal com colocação, sobre o pórtico, da cachorrada
existente no edifício da Casa Pia e reconstrução do contraforte;
- Na fachada
sul: reconstrução da porta entaipada do claustro, das frestas, da cornija e da
cachorrada com modilhões;
- Na fachada
norte: reconstrução do tímpano do pórtico, de
arcossólios,
do friso e dos contrafortes e substituição das janelas por frestas; no
interior:
- Restauro de capitéis, de colunelos e de bases de pilares;
- Rebaixamento do pavimento e respectivo lajeamento;
- Colocação de portas, de vitrais, de altares nos absidíolos, no transepto
e na sacristia;
- Mudança do túmulo para o absidíolo esquerdo;
- Execução da instalação eléctrica; no claustro: lajeamento e rebaixamento
do piso e construção de degraus;
- Consolidação da arcada e montagem do chafariz central;
- Reboco de paredes;
- No adro: construção da torre;
mudança do cruzeiro; regularização do terreno e construção do muro junto à
torre e ao longo da fachada norte, incluindo degraus;
- Lajeamento
parcial do adro
A Igreja de
Paço de Sousa foi classificada Monumento Nacional, pelo Decreto de 16.06.1910,
DG n.° 136, de 23.06.1910 sob a designação de: Igreja de Paço de Sousa,
compreendendo o túmulo de Egas Moniz.
Posteriormente
com o Decreto n.° 67/97, DR, I S6rie-B, n.° 301, de 31-12-1997 a sua designação
alterou-se para: Igreja, sacristia, claustro e respectiva fonte e cruzeiro de
Paço de Sousa.
E tudo isto
se pode ver e apreciar, neste recanto com encanto, junto ao Mosteiro de Paço de
Sousa, monumento inserido na Rota do Românico do Vale do Sousa.
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