07 outubro 2014

O RENASCER DAS CINZAS DO MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA



O RENASCER DAS CINZAS 
DO MOSTEIRO DE PAÇO DE SOUSA


Depois do incêndio de 9 de Março de 1927, com origem nas dependências monásticas, e que se estendeu ao corpo da igreja, destruindo a cobertura, dois altares, adornos e objectos litúrgicos e algumas cantarias ornamentadas.

Ainda no mesmo ano, principiaram as obras de restauro, que se vão prolongar até 1938.

Nisso estão empenhados o ilustre artista Senhor Adães Bermudes, arquitecto director dos Monumentos e Palácios Nacionais e o seu cooperador Senhor Baltazar de Castro, arquitecto da secção dos monumentos do Norte, que com o maior desvelo iniciaram os seus trabalhos.

Da esquerda para a direita, o engenheiro João Pimentel, o arquitecto Baltasar de Castro e o arquitecto director dos Monumentos Nacionais, snr. Adães Bermudes com o abade de Paço de Sousa, rev. Manuel Gomes de Castro e o abade rev. J. Monteiro de Aguiar, ilustre arqueólogo.


O domingo 13 de Março de 1927, marca uma data memorável para o monumento. Como um lenitivo para a dor cruciante originada pelas paredes denegridas e madeiramentos carbonizados, surgia o trabalho fecundo, quer intelectual dos arquitectos e arqueólogos, quer material do bom povo da freguesia, que em massa, com a melhor boa vontade libertou o templo dos detritos enegrecidos nele acumulados. Todos compreenderam o apelo que o digno pároco à hora da missa fizera, nesse ambiente impressionante de ruína, com a sua reconhecida eloquência que tocou mesmo os corações menos sensíveis. Era preciso que a igreja fosse restaurada sem demora. E os primeiros passos davam-se nesse mesmo dia. É de notar o acolhimento penhorante que o Senhor Abade Rev. Manuel Gomes de Castro dispensou aos técnicos oficiais recebendo-os galhardamente na sua residência.


O arquitecto Baltasar de Castro

A equipa técnica da DGEMN, seguidora dos princípios de restauro da década de 30 do século XX, descreve o Mosteiro do Salvador como:
 «(...) um edifício de monumental valor histórico, no entanto, encoberto pelo delírio barroco; (...) o campanário que ali se ergueu pelo mesmo tempo – grosso cubo de granito (...); a rebuscada extravagância do trabalho ornamental com que no século XVIII se ocultou, como coisa bárbara, a nobre e singela frontaria desse templo não foram certamente excedidas ou sequer igualadas, até hoje, em qualquer monumento nacional (...) os autores daquela obra desatinada capricharam em estender ali, sobre as veneráveis cantarias do antigo frontispício, uma verdadeira manta de farrapos arquitectónicos».


Antes
Depois já sem torre sineira.

Em 1933, a operação de saneamento estético da fachada principal, da igreja de Paço de Sousa, com a remoção dos elementos barrocos, provocou um motim popular e o protesto do Presidente da Câmara de Penafiel, Capitão Arrochela Lobo, mostrando assim o seu descontentamento, ao considerarem que:

 «esse hibridismo não comprometia a beleza do aspecto geral da frontaria, tendo a vantagem de apresentar a aliança embora singular do espírito de duas épocas artísticas tão diferentes e distanciadas, formando um conjunto de rara beleza, na urdidura do estilo D. João V»



A intervenção incluiu a demolição do muro voltado ao claustro, da torre e de parte do edifício do Mosteiro, bem como das decorações barrocas da fachada. No interior procedeu-se à remoção dos altares dos absidíolos, ao entaipamento da porta do lado sul do transepto, da janela do absidíolo norte e abriram-se as frestas dos absidíolos bem como os arcos entre os mesmos e a capela-mor.

 
Procedeu-se à constituição da rosácea, das cornijas, dos cachorros, do friso ornamental e dos contrafortes que apresentavam mutilações.

Foi demolida parte da área conventual, permitindo hoje o acesso directo ao claustro. Nos absidíolos os dois retábulos foram transferidos «para mais adequado lugar» e reparados. No seu lugar foram colocados outros em pedra, semelhantes aos que existiriam ali primitivamente.


Voltando à análise do Boletim, verifica-se que, no capítulo designado por Obras de Restauração, é apresentada uma listagem dos trabalhos realizados, entre os anos de 1927 e 1938:

- Desmontagem da torre junto à frontaria da igreja;

- Demolição da parte conventual; desmontagem das incrustações barrocas da fachada principal;

- Colocação da antiga cruz na empena; demolição da parede que tapava a fachada sul;

- Restauro da porta, frestas, cornija e cachorrada da fachada sul;

- Restauro do friso ornamental que corre pelo edifício;

- Mudança dos cachorros que se encontravam na varanda da escada da Casa Pia para o sítio original (fachada principal);


- Renovação da ala do claustro e do chafariz;

- Rebaixamento e lajeamento de todo o adro;

- Restauro parcial da fachada norte (contrafortes e frestas); 

- Desentaipamento das janelas dos absidíolos e tapamento de uma janela aberta na época moderna;

- Restauro parcial de todas as outras frestas;

- Desentaipamento e restauro do pórtico sul;

- Reconstrução de toda a cobertura; reconstrução parcial do contraforte angular do lado direito da frontaria;

- Mudança das pedras do túmulo de Egas Moniz para o absidíolo esquerdo:


- Trasladação solene das cinzas de Egas Moniz para o seu túmulo (reconstituído em 31 de Agosto de 1929);

- Desmontagem dos altares de madeira dos absidíolos e trasladação para outros lugares;
- Colocação de novos altares de pedra nos mesmos sítios:

- Colocação de vidraças em forma de losangos em todos os vãos;

- Desentaipamento e reparação dos arcos de comunicação entre as capelas mor e laterais;

- Rebaixamento e lajeamento de todas as naves e modificação dos degraus da abside;

- Construção de nova torre sineira afastada da igreja;

- Reconstrução da rosácea;



A nova torre sineira, e o cruzeiro que foi inaugurado no dia, 16 de Agosto de 1690

Em 1943, o cruzeiro foi removido do seu local e recolocado no chamado Alto do Assento, onde se encontra actualmente.


- Mudança do cruzeiro antigo para o alto situado no términus do caminho em frente à igreja;

- Tapamento de uma porta na nave cruzeira, rebaixamento e vedação da zona exterior a essa porta; na fachada poente:



- Reconstrução da rosácea e da cruz terminal com colocação, sobre o pórtico, da cachorrada existente no edifício da Casa Pia e reconstrução do contraforte;

- Na fachada sul: reconstrução da porta entaipada do claustro, das frestas, da cornija e da cachorrada com modilhões;

- Na fachada norte: reconstrução do tímpano do pórtico, de
arcossólios, do friso e dos contrafortes e substituição das janelas por frestas; no interior:

- Restauro de capitéis, de colunelos e de bases de pilares;

- Rebaixamento do pavimento e respectivo lajeamento;

- Colocação de portas, de vitrais, de altares nos absidíolos, no transepto e na sacristia;

- Mudança do túmulo para o absidíolo esquerdo;

- Execução da instalação eléctrica; no claustro: lajeamento e rebaixamento do piso e construção de degraus; 

- Consolidação da arcada e montagem do chafariz central; 

- Reboco de paredes; 

- No adro: construção da torre; mudança do cruzeiro; regularização do terreno e construção do muro junto à torre e ao longo da fachada norte, incluindo degraus;

- Lajeamento parcial do adro


A Igreja de Paço de Sousa foi classificada Monumento Nacional, pelo Decreto de 16.06.1910, DG n.° 136, de 23.06.1910 sob a designação de: Igreja de Paço de Sousa, compreendendo o túmulo de Egas Moniz. 


Posteriormente com o Decreto n.° 67/97, DR, I S6rie-B, n.° 301, de 31-12-1997 a sua designação alterou-se para: Igreja, sacristia, claustro e respectiva fonte e cruzeiro de Paço de Sousa.

E tudo isto se pode ver e apreciar, neste recanto com encanto, junto ao Mosteiro de Paço de Sousa, monumento inserido na Rota do Românico do Vale do Sousa.