O CRUCIFIXO NA ESCOLA
O
CRUCIFIXO NA ESCOLA
Quando
entrei para a escola primária Conde de Ferreira em Penafiel, no final
dos anos cinquenta do século passado, na parede branca, sobre o
quadro negro lá estava dependurado o crucifixo, ladeado pelos
retratos de sua Excelência o Presidente da República e do
Presidente do Conselho de Ministros.
Professora e colegas da 1.ª classe (1957) |
Nesses
tempos do Estado Novo, a religião adoptada pela Constituição de
1933, era a católica.
Mas
com a entrada de António Carneiro Pacheco, para Ministro da
Instrução Pública a 18 de Janeiro de 1936, vai-se realizar uma
grande reforma no ensino.
Carneiro Pacheco |
Uma
das primeiras medidas foi alterar o nome do Ministério da Instrução
Pública para Ministério da Educação Nacional.
Em
nome da Nação, a Assembleia Nacional decreta e Carneiro Pacheco
promulga a Lei n.º
1941, de 11 de Abril de 1936.
É
a partir desta lei que é implementado o livro de leitura único em
todo o país, que incentivasse à mentalidade nacionalista e cristã.
A parte final de cada livro era dedicada à doutrina cristã.
Estes
livros no final dos anos lectivos, não ficavam fora do prazo de
validade, pelo que passavam de irmãos para irmãos ou irmãs, primos
ou até de um filho de um amigo ou vizinho.
No
meu tempo de escola primária os livros para as respectivas classes
eram os seguintes:
Livro da 1.ª Classe |
Livro da 2.ª Classe |
Livro da 3.ª Classe |
Livro da 4.ª classe |
Quanto
ao crucifixo, na Base XIII da lei nº 1941, podemos ler o seguinte:
"Em todas as escolas públicas do ensino primário infantil e elementar existirá, por detrás e acima da cadeira do professor, um crucifixo, como símbolo da educação cristã determinada pela Constituição".
O modelo de crucifixo oficialmente aprovado, foi concebido pelo génio do insigne estatuário Sr. Teixeira Lopes.
"Em todas as escolas públicas do ensino primário infantil e elementar existirá, por detrás e acima da cadeira do professor, um crucifixo, como símbolo da educação cristã determinada pela Constituição".
O modelo de crucifixo oficialmente aprovado, foi concebido pelo génio do insigne estatuário Sr. Teixeira Lopes.
Na
mesma determinação, Salazar, a fim de combater a falsificação dos crucifixos ou de impedir a livre concorrência, impõe que o crucifixo da catequização, de Salazar, teria de ser adquirido numa empresa muito recomendável, a União Gráfica (propriedade da Igreja católica).
Podemos concluir, que a
igreja de então não pregou prego nem estopa na operação crucifixo
na sala de aula, mas com a sua venda, lucrou alguns escudos.
A bênção dos crucifixos
era uma festa nas quais eram celebradas missas pelos párocos e até
por bispos. Nesses festejos do regime, cantavam-se o hino nacional,
hinos religiosos e patrióticos, e realizavam-se cortejos, levando o
referido crucifixo à escola depois da realização da missa. Em
geral, nesses eventos festivos, participava um membro da União
Nacional. Estes factos tinham um valor simbólico, para além das
festas propriamente ditas, com uma função ideológica traduzida na
apologia do cristianismo e do catolicismo.
Em Penafiel não foi
diferente. No dia 1 de Dezembro de 1937, pelas 10 horas celebrou-se
na Igreja Matriz uma missa presidida pelo padre de Penafiel Alcino
Gonçalves de Azevedo.
No final da missa professores
e alunos dirigiram-se para a Escola Conde de Ferreira onde ás 11
horas, foi hasteada a Bandeira Nacional, e teve lugar uma sessão
solene.
Usaram da palavra os
professores António Pais Neto, Director da Escola, Gaspar de
Oliveira e o Reverendo Padre Alcino Gonçalves de Azevedo.
Padre Alcino Gonçalves Azevedo |
Presidiu a esta sessão, o
ilustre Director do Colégio de Nossa Senhora do Carmo, sr. Padre
Agostinho, secretariado pelos senhores Capitão Pinto, na qualidade
de representante do Comandante Militar e o sr. major reformado Manuel
Joaquim Camelo.
Segue-se o programa desta
cerimónia:
1º – Abertura da Sessão
Solene
2.º – Hino 1.º de
Dezembro
3.º – Hino da Escola
4.º – Palestra sobre o 1.º
de Dezembro
5.º – Sinos da Aldeia
(orfeão)
6.º – Caravelas (orfeão)
7.º – Rapsódia (orfeão)
8.º – As Bandeiras
(recitativo – canção)
9.º – Viva Portugal
(recitativo)
10.º – As Campainhas
(valsa)
11.º – Bênção dos
Crucifixos pelo Padre Alcino Gonçalves Azevedo
12º – Crucifixo
(recitativo)
13.º – Hino do Crucifixo
(orfeão)
14.º – Palestras alusivas
15.º – Avé Maria (orfeão)
16.º – Padre-Nosso
(recitativo)
17.º – Jesus (recitativo)
18.º – A senda do Calvário
(recitativo)
19.º – Salmo (recitativo)
20.º – O Estudo
(recitativo)
21.º – A Escola
(recitativo)
22.º – Deus (recitativo)
23.º – Hino da Escola
(orfeão)
24.º – A Portuguesa
No final desta emocionante
cerimónia, em todas as salas de aula das escolas desta cidade de
Penafiel, foi colocado um crucifixo.
Com o golpe militar do 25 de
Abril de 1974, e com a nova Constituição laica de 1976, os
crucifixos foram retirados das paredes das escolas.
Como se isto não bastasse, crucificaram a língua de Camões, pondo as crianças a escreverem à moda do país de Jorge Amado.
2 Comments:
Obrigada. Foi com muita alegria que vi esta publicação.
Vivo em Setúbal, sou de Penafiel. Baptizada pelo Sr. Padre Alcino, na Igreja Matriz, no dia 14 de Setembro de 1951.
Maria do Carmo (Sonoro)
Ó Maria do Carmo, então também lês o blogue do teu amigo e colega de trabalho dos Serviços Municipalizados Fernando Oliveira. Um abração.
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