LUÍS CÍLIA
LUÍS CÍLIA
Luís Fernando Castelo Branco Cília, compositor e cantor, nasceu em
Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, a 1 de Fevereiro de 1943.
Na sua adolescência participa em grupos
musicais nos quais toca, na altura, música rock, tipo Elvis Presley.
Acabado o liceu em 1959, e como não
havia Universidade em Angola, vem para Lisboa, estudar Economia.
No ano de 1962, trava conhecimento com o poeta Daniel Filipe que lhe mostra
discos de Leo Ferré e George Brassens o que o leva a inflectir de tipo de opção
musical.
Participa nas lutas académicas de
Lisboa, ou como ele refere com modéstia “era mais um que estava na cantina… Concretamente,
no seu processo individual na PIDE (proc.1936/E-GT) nas suas dez folhas,
encontra-se um registo de prisão, de 1962, em razão da sua participação numa
greve de fome na cantina da Universidade de Lisboa.
Com a PIDE à perna, em 1963, e para
evitar a Guerra Colonial, decide abandonar o país.
Chega a Paris a 1 de Abril de 1964.
Trava conhecimento de imediato com políticos, poetas e músicos, com realce para
a cantora Collete Magny a qual o irá apresentar à editora do seu primeiro
disco: a “Chant du Monde”. Grava o LP “Portugal-Angola: Chants de
Lutte.”
Trabalha arduamente a
sua vocação musical tendo para tal o apoio de Michel Puig, para composição e de
Antonio Membrado para o domínio técnico instrumental da viola. Começa a
participar em recitais.
Entre 1965 e 1966, trava conhecimento
com grandes expoentes da música francesa como George Brassens o qual é o seu
“padrinho” quando se inscreve na Sociedade dos Autores, em França.
Posteriormente conhece o músico espanhol Paço Ibañez, de quem se tornou muito
amigo e companheiro nos espectáculos profissionais e nos de pura militância,
para sindicatos, associações e partidos. Edita o EP “Portugal Resiste” e faz a
música do filme “O Salto”.
Participa no Primeiro Festival Espanhol,
promovido pela "La Carraca" no Théatre de la Commune de
Aubervilliers., ao lado de Paco Ibanez, Raimon, Pi de la Serra entre outros.
Em 1967, vai a Cuba, no Verão. Em
relação a este 1.º Festival da Canção de Protesto em Cuba, o jornal cubano Granma,
informa que o músico teria “[...] sido galardoado com o primeiro prémio da
‘canção revolucionária’” (in processo individual da PIDE).
Actua também em França (Junho) ao lado
de Paco Ibanez.
Actua regularmente em 1968, para a
emigração portuguesa em França. Um dos locais onde mais actuou foi no Foyer du
Bâtiment, na Casa dos Operários da Construção Civil. Devido à sua acção
política empenhada a sua habitação em França foi "visitada" pela
PIDE, que tudo lhe remexeram. A queixa à polícia francesa de nada lhe valeu.
Participa activamente no Maio de 68,
realizando espectáculos de apoio aos estudantes e operários, ao lado de
Paco Ibañez e de Collete Magny. Neste ano compõe o "Avante", canção que se tornará, mais tarde, o hino do Partido
Comunista Português, do qual era militante na altura.
Já em 1969,
é expulso do PCP clandestino em França, devido a receber em sua casa,
amigos de outras convicções políticas. O que ele nunca deixará de fazer porque
eram seus amigos.
1970 - Actua na Semana da Canção Ibérica, em Paris. Neste mesmo ano
realiza-se a 10 de novembro o encontro "La Chanson de Combat
Portugaise" na Maison de la Mutualité, em Paris. Atua conjuntamente com
Sérgio Godinho, José Mário Branco, Tino Flores e José Afonso.
O núcleo do PCP de Paris em 1971,
verificando o erro cometido, pede-lhe desculpas pelo incidente de dois anos
antes. Em Abril participa nas Jornadas da América Latina e Espanha, em
Estrasburgo. Desloca-se pela primeira vez à RDA para participar no Festival
Político de Liedes (Berlim) em Fevereiro deste ano.
Neste ano foi visitado na sua casa em
Paris por um jovem que quis ouvir a sua opinião sobre uma canção que tinha
feito. Luis Cília referiu então que era muito boa a canção. Esse Jovem é o
cantor Amancio Prada e a canção "La guitarra". Amancio não esquece
que foi graças ao Luís que enveredou pela carreira de cantor.
Actua em 1972, no primeiro comício do PS
em França ao lado de José Mário Branco, não sem antes colocar certas condições
tendo em conta que era militante de um outro partido.
1973 é quando o “Avante”, canção de Luís
Cília, é adoptada como hino oficial do PCP.
Actua neste ano no X Festival Mundial da
Juventude- Liedes na ex-RDA vestindo uma camisola com o rosto de Amílcar
Cabral.
Edita “Contra a Ideia da Violência a
Violência da Ideia” em clara homenagem a Amílcar Cabral, então assassinado.
Reedita o seu primeiro disco mas agora acompanhado por contrabaixo, com o novo
título de “ Meu País”.
O 25 de Abril de 1974 apanha-o
desprevenido quando ouve o rádio de manhã a 500 km de Paris (Cholet - Maine et
Loire), onde dava recitais para portugueses. Céptico, já que em outras partes
do mundo os golpes militares se traduziam em ditaduras militares, só se
convenceu do sentido do golpe quando os presos políticos são libertados.
A 30 de Abril, regressa a Portugal, no mesmo avião em que também regressam
Álvaro Cunhal e José Mário Branco. Luís Cília ainda irá assegurar por algum
tempo compromissos profissionais em França, não se estabelecendo completamente
em Portugal, uma vez que a sua situação militar não estava ainda resolvida.
Ficou famosa a entrevista que Luís Cília
deu, logo no dia 25 de Abril de 1974 a Mário Contumélias, em que afirmava que o
fadista Alfredo Marceneiro era um cantor revolucionário.
Actua no 1º Encontro
Livre da Canção Popular que se realiza no Palácio de Cristal, no Porto, em
Maio.
Lança o LP “O Guerrilheiro”, disco
colectânea da música portuguesa desde o século XIII até ao séc. XIX,
interpretada com instrumentos da época. A música da faixa guerrilheiro é
posteriormente utilizada para hino da CGTP-IN. Aproveitando umas horas de
estúdio grava o single “O povo unido jamais será vencido” com o grupo chileno
criador deste tema, os Quilapayun.
No primeiro de Dezembro de 1974 actua no
Olympia de Paris (França), não sem antes ter estado presente na Festa do Jornal
Comunista Francês "L´Humanite", em Agosto.
Edita em 1975, o LP “Resposta”, com
dificuldade de distribuição em Portugal, pois é posto à venda já depois do 25
de Novembro.
Em Setembro de 1976, actua no Festival
"La trobada dels pobles "no Nou Estadi del Levante, Valência. Neste
festival actuaram outros cantores entre os quais Luís Pastor. Edita o LP
“Memória” em Portugal. Mais tarde será reeditado em Espanha, França, Itália,
Alemanha Democrática e Bulgária.
Regressa a Paris em 1977 para
espectáculos no Olympia a convite dos irmãos Parra (Maio). Actua na Galícia
(onde também actua a venezuelana Soledad Bravo), e em Março faz recitais em
Lisboa no Teatro da Comuna, onde apresenta o seu último disco
"Memória".
Em Janeiro de 1978, actua na Festa do
Jornal "O diário" e em Março no Teatro Vasco Santana, Lisboa, onde
apresenta o seu trabalho "transparências". No final do ano apoia a
edição de um disco de Manuel Freire "devolta", onde o cantor canta
unicamente poemas musicados por Luís Cília. Faz igualmente algumas composições
musicais para o disco de Mário Viegas "Pretextos de Dizer". Compõe
música para teatro "ai estes malditos domingos" (TEAR- encenação de
João Guedes)
Participa em 1979, na Festa da Cultura e
da Paz (Algarve) e na Festa do Avante. Em Fevereiro deste ano actua no Porto, e
também em Espanha em Maio num espectáculo com Paco Ibanez e Carlos Paredes. De
seguida actua em França.
Em Janeiro de 1980, dá vários recitais em
Angola, sua terra natal. Lança o Lp "O Peso da Sombra", dedicado à
poesia de Eugénio de Andrade, e apresenta-o em Abril numa série de recitais no
Teatro Vasco Santana, Lisboa. Em Maio apresenta o mesmo trabalho em Viana do
Castelo e no Porto. Actua também na Checoslováquia em Setembro. Faz música para
teatro "A menina Julia"
No ano de 1981,
desliga-se do PCP. Em Dezembro editada o disco
"Marginal".
Em Janeiro de 1982, actua na Festa do
Jornal "O Diário". Entre 7 e 18 de Abril faz uma série de recitais no
Teatro Aberto, Lisboa. Actua também no Porto entre os dias 3 a 5 de Junho, na Cooperativa do Povo Portuense. Actua
também em Coimbra, Guimarães e Miranda do Corvo. Em Dezembro é editado
"Cancioneiro".
Em Dezembro de 1983, lança o disco
"Contradições".
Em 1984, actua novamente em Espanha em
diversos recitais e em Portugal. É responsável pela publicação de um livro
sobre o seu amigo Léo Ferré.
Actua no início do ano de 1985 no Porto,
no Auditório Nacional Carlos Alberto, a 6 de Fevereiro e em Espinho. No final
do ano edita "Sinais de Sena" disco unicamente com a poesia de Jorge
de Sena. Ganha o prémio para a melhor banda sonora atribuído pelo Instituto
Português do Cinema com o seu trabalho em "O jogo de Mão" de Monique
Rutler.
No ano de 1987, compõe música para
teatro e bailado e edita o disco "Penumbra", dedicado à poesia de
David Mourão-Ferreira.
Em 1988, edita o seu primeiro disco só de peças para bailados “A Regra do
Fogo”.
Em 1989 produz e faz os arranjos
musicais do disco de Né Ladeiras "Corsária".
Dedica-se à composição para bailados.
Edita o seu segundo disco (primeiro CD) só de peças para bailados: “Bailados”.
Em 23 de Abril 1993, actua em homenagem
a Raimon no Palau Sant Jordi em Barcelona.
Em 9 de junho de 1994 recebe a ordem
portuguesa da Liberdade no grau de oficial. Nesse mesmo acto foram igualmente
atribuídas a mesma ordem e no mesmo grau a Fanhais, Vitorino, Sérgio Godinho e
Fausto. O presidente da república era então Mário Soares.
2004 - Desloca-se à Escola EB 23 de
Colos, onde é homenageado. Nesta singela homenagem participam Manuel Freire e o
Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel. Para agrado de todos, acompanhou à viola
a interpretação de Manuel Freire a sua obra “Dia Não”.
Desloca-se a Grândola, em 21 de Outubro de
2007, para participar na criação do Observatório Mundial da Canção de Protesto,
iniciativa da Câmara Municipal de Grândola. Por intermediação sua Paco Ibanez
actua no espectáculo de lançamento desta iniciativa. No início da sua actuação
Paco evoca a amizade que une a Luís.
Entre 2009 e 2010, colabora musicalmente
com o criativo Nuno Maya e Carole Purnelle nas suas apresentações multimédia
que realizaram em Toruń (Agosto 2009), Polónia (no âmbito do Skyway09) e em
Lisboa (Abril 2010, denominada "Projectar Abril") no âmbito das
comemorações do 25 de Abril.
Em 2010, colabora musicalmente para a
banda sonora do filme "José e Pilar".
Inicia em 2011 em colaboração com Mário
de Carvalho, a construção de uma ópera (ainda em elaboração).
No ano 2012, compõe a música do filme
"Quarta Divisão", de Joaquim Leitão, filme que se estreará em 2013.
Já no ano seguinte 2013, recebe um
prémio de Homenagem da Sociedade Portuguesa de Autores.
Recria a banda sonora da série de TV
"Até amanhã, camaradas", mas agora em formato de filme de longa-metragem.
Compõe a banda sonora para um novo filme
de António Pedro Vasconcelos.
Em 2014, Luís Cília fez gravações para a colecção
"Authentic Series" da editora Sonoton alemã, num disco dedicado a
Portugal, tendo como inspiração a nossa música popular.
A sua música para o filme de Joaquim
Leitão, "Até amanhã, camaradas" é nomeada para o prémio de melhor
música de filme (Prémios Sophia).
Vamos ficar na voz de Luís Cília com “Má
Reputação”, canção que retrata a vida de quem vive fora do rebanho, e mesmo que
não faça mal nem bem nesta vida de Zé-Ninguém, chamam-lhe sempre mal comportado.
- Bom domingo!
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