26 outubro 2014

LUÍS CÍLIA



LUÍS CÍLIA


Luís Fernando Castelo Branco Cília, compositor e cantor, nasceu em Nova Lisboa, hoje Huambo, Angola, a 1 de Fevereiro de 1943.

Na sua adolescência participa em grupos musicais nos quais toca, na altura, música rock, tipo Elvis Presley.

Acabado o liceu em 1959, e como não havia Universidade em Angola, vem para Lisboa, estudar Economia. 

No ano de 1962, trava conhecimento com o poeta Daniel Filipe que lhe mostra discos de Leo Ferré e George Brassens o que o leva a inflectir de tipo de opção musical. 

Participa nas lutas académicas de Lisboa, ou como ele refere com modéstia “era mais um que estava na cantina… Concretamente, no seu processo individual na PIDE (proc.1936/E-GT) nas suas dez folhas, encontra-se um registo de prisão, de 1962, em razão da sua participação numa greve de fome na cantina da Universidade de Lisboa.

Com a PIDE à perna, em 1963, e para evitar a Guerra Colonial, decide abandonar o país. 



Chega a Paris a 1 de Abril de 1964. Trava conhecimento de imediato com políticos, poetas e músicos, com realce para a cantora Collete Magny a qual o irá apresentar à editora do seu primeiro disco: a “Chant du Monde”. Grava o LP “Portugal-Angola: Chants de Lutte.” 
                    
Trabalha arduamente a sua vocação musical tendo para tal o apoio de Michel Puig, para composição e de Antonio Membrado para o domínio técnico instrumental da viola. Começa a participar em recitais. 


Entre 1965 e 1966, trava conhecimento com grandes expoentes da música francesa como George Brassens o qual é o seu “padrinho” quando se inscreve na Sociedade dos Autores, em França. Posteriormente conhece o músico espanhol Paço Ibañez, de quem se tornou muito amigo e companheiro nos espectáculos profissionais e nos de pura militância, para sindicatos, associações e partidos. Edita o EP “Portugal Resiste” e faz a música do filme “O Salto”. 



Actua no “Festival Folk 2” em Turim, Itália. Neste Festival actua também entre outros Colette Magny. (primeira gravação ao vivo - 1965).

Participa no Primeiro Festival Espanhol, promovido pela "La Carraca" no Théatre de la Commune de Aubervilliers., ao lado de Paco Ibanez, Raimon, Pi de la Serra entre outros.

Em 1967, vai a Cuba, no Verão. Em relação a este 1.º Festival da Canção de Protesto em Cuba, o jornal cubano Granma, informa que o músico teria “[...] sido galardoado com o primeiro prémio da ‘canção revolucionária’” (in processo individual da PIDE). 

Actua também em França (Junho) ao lado de Paco Ibanez.

Actua regularmente em 1968, para a emigração portuguesa em França. Um dos locais onde mais actuou foi no Foyer du Bâtiment, na Casa dos Operários da Construção Civil. Devido à sua acção política empenhada a sua habitação em França foi "visitada" pela PIDE, que tudo lhe remexeram. A queixa à polícia francesa de nada lhe valeu. 

Participa activamente no Maio de 68, realizando espectáculos de apoio aos estudantes e operários, ao lado de  Paco Ibañez e de Collete Magny. Neste ano compõe o "Avante", canção que se tornará, mais tarde, o hino do Partido Comunista Português, do qual era militante na altura. 


Já em 1969, é expulso do PCP clandestino em França, devido a receber em sua casa, amigos de outras convicções políticas. O que ele nunca deixará de fazer porque eram seus amigos. 

1970 - Actua na Semana da Canção Ibérica, em Paris. Neste mesmo ano realiza-se a 10 de novembro o  encontro "La Chanson de Combat Portugaise" na Maison de la Mutualité, em Paris. Atua conjuntamente com Sérgio Godinho, José Mário Branco, Tino Flores e José Afonso.


O núcleo do PCP de Paris em 1971, verificando o erro cometido, pede-lhe desculpas pelo incidente de dois anos antes. Em Abril participa nas Jornadas da América Latina e Espanha, em Estrasburgo. Desloca-se pela primeira vez à RDA para participar no Festival Político de Liedes (Berlim) em Fevereiro deste ano. 

Neste ano foi visitado na sua casa em Paris por um jovem que quis ouvir a sua opinião sobre uma canção que tinha feito. Luis Cília referiu então que era muito boa a canção. Esse Jovem é o cantor Amancio Prada e a canção "La guitarra". Amancio não esquece que foi graças ao Luís que enveredou pela carreira de cantor.

Actua em 1972, no primeiro comício do PS em França ao lado de José Mário Branco, não sem antes colocar certas condições tendo em conta que era militante de um outro partido. 


1973 é quando o “Avante”, canção de Luís Cília, é adoptada como hino oficial do PCP.

Actua neste ano no X Festival Mundial da Juventude- Liedes na ex-RDA vestindo uma camisola com o rosto de Amílcar Cabral.



Edita “Contra a Ideia da Violência a Violência da Ideia” em clara homenagem a Amílcar Cabral, então assassinado. Reedita o seu primeiro disco mas agora acompanhado por contrabaixo, com o novo título de “ Meu País”.


O 25 de Abril de 1974 apanha-o desprevenido quando ouve o rádio de manhã a 500 km de Paris (Cholet - Maine et Loire), onde dava recitais para portugueses. Céptico, já que em outras partes do mundo os golpes militares se traduziam em ditaduras militares, só se convenceu  do sentido do golpe quando os presos políticos são libertados. A 30 de Abril, regressa a Portugal, no mesmo avião em que também regressam Álvaro Cunhal e José Mário Branco. Luís Cília ainda irá assegurar por algum tempo compromissos profissionais em França, não se estabelecendo completamente em Portugal, uma vez que a sua situação militar não estava ainda resolvida.

Ficou famosa a entrevista que Luís Cília deu, logo no dia 25 de Abril de 1974 a Mário Contumélias, em que afirmava que o fadista Alfredo Marceneiro era um cantor revolucionário.

Actua no 1º Encontro Livre da Canção Popular que se realiza no Palácio de Cristal, no Porto, em Maio.


Lança o LP “O Guerrilheiro”, disco colectânea da música portuguesa desde o século XIII até ao séc. XIX, interpretada com instrumentos da época. A música da faixa guerrilheiro é posteriormente utilizada para hino da CGTP-IN. Aproveitando umas horas de estúdio grava o single “O povo unido jamais será vencido” com o grupo chileno criador deste tema, os Quilapayun.


No primeiro de Dezembro de 1974 actua no Olympia de Paris (França), não sem antes ter estado presente na Festa do Jornal Comunista Francês "L´Humanite", em Agosto.


Edita em 1975, o LP “Resposta”, com dificuldade de distribuição em Portugal, pois é posto à venda já depois do 25 de Novembro.


Em Setembro de 1976, actua no Festival "La trobada dels pobles "no Nou Estadi del Levante, Valência. Neste festival actuaram outros cantores entre os quais Luís Pastor. Edita o LP “Memória” em Portugal. Mais tarde será reeditado em Espanha, França, Itália, Alemanha Democrática e Bulgária.

Regressa a Paris em 1977 para espectáculos no Olympia a convite dos irmãos Parra (Maio). Actua na Galícia (onde também actua a venezuelana Soledad Bravo), e em Março faz recitais em Lisboa no Teatro da Comuna, onde apresenta o seu último disco "Memória". 



Em Janeiro de 1978, actua na Festa do Jornal "O diário" e em Março no Teatro Vasco Santana, Lisboa, onde apresenta o seu trabalho "transparências". No final do ano apoia a edição de um disco de Manuel Freire "devolta", onde o cantor canta unicamente poemas musicados por Luís Cília. Faz igualmente algumas composições musicais para o disco de Mário Viegas "Pretextos de Dizer". Compõe música para teatro "ai estes malditos domingos" (TEAR- encenação de João Guedes)

Participa em 1979, na Festa da Cultura e da Paz (Algarve) e na Festa do Avante. Em Fevereiro deste ano actua no Porto, e também em Espanha em Maio num espectáculo com Paco Ibanez e Carlos Paredes. De seguida actua em França.


Em Janeiro de 1980, dá vários recitais em Angola, sua terra natal. Lança o Lp "O Peso da Sombra", dedicado à poesia de Eugénio de Andrade, e apresenta-o em Abril numa série de recitais no Teatro Vasco Santana, Lisboa. Em Maio apresenta o mesmo trabalho em Viana do Castelo e no Porto. Actua também na Checoslováquia em Setembro. Faz música para teatro "A menina Julia"


No ano de 1981, desliga-se do PCP. Em Dezembro editada o disco "Marginal".


Em Janeiro de 1982, actua na Festa do Jornal "O Diário". Entre 7 e 18 de Abril faz uma série de recitais no Teatro Aberto, Lisboa. Actua também no Porto entre os dias 3 a 5 de Junho, na Cooperativa do Povo Portuense. Actua também em Coimbra, Guimarães e Miranda do Corvo. Em Dezembro é editado "Cancioneiro".


Em Dezembro de 1983, lança o disco "Contradições".

Em 1984, actua novamente em Espanha em diversos recitais e em Portugal. É responsável pela publicação de um livro sobre o seu amigo Léo Ferré.


Actua no início do ano de 1985 no Porto, no Auditório Nacional Carlos Alberto, a 6 de Fevereiro e em Espinho. No final do ano edita "Sinais de Sena" disco unicamente com a poesia de Jorge de Sena. Ganha o prémio para a melhor banda sonora atribuído pelo Instituto Português do Cinema com o seu trabalho em "O jogo de Mão" de Monique Rutler.


No ano de 1987, compõe música para teatro e bailado e edita o disco "Penumbra", dedicado à poesia de David Mourão-Ferreira.



Em 1988, edita o seu primeiro disco só de peças para bailados “A Regra do Fogo”.

Em 1989 produz e faz os arranjos musicais do disco de Né Ladeiras "Corsária".


Dedica-se à composição para bailados. Edita o seu segundo disco (primeiro CD) só de peças para bailados: “Bailados”.

Em 23 de Abril 1993, actua em homenagem a Raimon no Palau Sant Jordi em Barcelona. 

Em 9 de junho de 1994 recebe a ordem portuguesa da Liberdade no grau de oficial. Nesse mesmo acto foram igualmente atribuídas a mesma ordem e no mesmo grau a Fanhais, Vitorino, Sérgio Godinho e Fausto. O presidente da república era então Mário Soares.

2004 - Desloca-se à Escola EB 23 de Colos, onde é homenageado. Nesta singela homenagem participam Manuel Freire e o Grupo Coral dos Mineiros de Aljustrel. Para agrado de todos, acompanhou à viola a interpretação de Manuel Freire a sua obra “Dia Não”.

Desloca-se a Grândola, em 21 de Outubro de 2007, para participar na criação do Observatório Mundial da Canção de Protesto, iniciativa da Câmara Municipal de Grândola. Por intermediação sua Paco Ibanez actua no espectáculo de lançamento desta iniciativa. No início da sua actuação Paco evoca a amizade que une a Luís. 

Entre 2009 e 2010, colabora musicalmente com o criativo Nuno Maya e Carole Purnelle nas suas apresentações multimédia que realizaram em Toruń (Agosto 2009), Polónia (no âmbito do Skyway09) e em Lisboa (Abril 2010, denominada "Projectar Abril") no âmbito das comemorações do 25 de Abril.

Em 2010, colabora musicalmente para a banda sonora do filme "José e Pilar".

Inicia em 2011 em colaboração com Mário de Carvalho, a construção de uma ópera (ainda em elaboração).

No ano 2012, compõe a música do filme "Quarta Divisão", de Joaquim Leitão, filme que se estreará em 2013.

Já no ano seguinte 2013, recebe um prémio de Homenagem da Sociedade Portuguesa de Autores.

Recria a banda sonora da série de TV "Até amanhã, camaradas", mas agora em formato de filme de longa-metragem.

Compõe a banda sonora para um novo filme de António Pedro Vasconcelos.


Em 2014, Luís Cília fez gravações para a colecção "Authentic Series" da editora Sonoton alemã, num disco dedicado a Portugal, tendo  como inspiração a nossa música popular. 



A sua música para o filme de Joaquim Leitão, "Até amanhã, camaradas" é nomeada para o prémio de melhor música de filme (Prémios Sophia).

Vamos ficar na voz de Luís Cília com “Má Reputação”, canção que retrata a vida de quem vive fora do rebanho, e mesmo que não faça mal nem bem nesta vida de Zé-Ninguém, chamam-lhe sempre mal comportado.



- Bom domingo!