14 outubro 2014

PENAFIEL E O INÍCIO DA GUERRA COLONIAL



PENAFIEL E O INÍCIO
DA GUERRA COLONIAL

Foto 1

No dia 4 de Fevereiro de 1961, um grupo de angolanos levava a cabo uma tentativa de assalto a várias cadeias em Luanda.

A UPA (União das Populações de Angola), no dia 15 de Março de 1961, ataca fazendeiros europeus e trabalhadores bailundos, no norte de Angola, nomeadamente no concelho do Uíge estendendo-se mais tarde para o sul, até à actual província do Bengo. 



Perante estes actos que chocaram a sociedade portuguesa, o Grupo Cénico “Alma Juvenil”,  resolveu dar dois espectáculo (dia 22 e 29 de Abril de 1961), no Cine-Teatro S. Martinho, cuja receita reverteu a favor das famílias das vítimas destes atentados em Angola.


Salazar apercebeu-se que não se tratava de uma guerra de catanas, mas de um movimento organizado apoiado por potências internacionais que se propunha conquistar a independência do território.

Mediante estes acontecimentos, no dia 13 de Abril de 1961, Salazar profere a célebre frase: Para Angola, rapidamente e em força.

Os primeiros grandes contingentes partiam para Angola por via marítima, iniciando um ciclo de guerra.

No dia 1.º de Maio de 1961, chega a Luanda o primeiro contingente militar, onde é recebido em delírio, num desfile na Avenida Marginal.

Nos quarteis em Portugal Continental, continuava-se a preparar jovens para o cenário de guerra.

No R.A.L. 5 em Penafiel, estão a ser formadas duas Batarias de Artilharia, a 145 e a 146, comandadas respectivamente pelos capitães Esteves Virtuoso e Rolando de Carvalho Tomás Ferreira.

No dia 27 de Junho de 1961, parte de Penafiel o primeiro contingente de tropas para a Guerra Colonial, com destino a Angola.

Foto de Aureliano Campo

No Campo de Torres Novas, pelas 10 horas foi celebrada uma missa campal pelo reverendo Manuel Leal da Rocha, (padre da freguesia de Marecos e professor no Colégio do Carmo). 

Marcaram presença o presidente do Município, sr. dr. Francisco da Silva Mendes e representantes das diversas colectividades, bem como muito povo.

No final, o comandante do Regimento sr. Coronel Cipriano Fontes dirigiu uma vibrante alocução aos soldados, incitando-os a bem servir a sua missão. 

As senhoras D. Maria Alice da Rocha Reis e D. Nair de Carvalho Tomas Ferreira, entregaram aos comandantes do contingente militar, os guiões oferecidos pela cidade. 

Foto 2
Após a missa, as tropas sob o comando do Sr. major Santiago Cardoso desfilaram através das principais artérias da cidade, detendo-se em frente do monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Praça Municipal, onde os dois capitães das batarias, depuseram uma coroa de flores. 

Na estação do caminho-de-ferro, em Novelas, compareceram todos os oficiais do R.A.L. 5 e centenas de pessoas, para apresentar cumprimentos às forças expedicionárias.


Entretanto há um movimento que nasceu através da Revista Eva, em que os jovens soldados podiam passar a ter “ madrinhas de guerra”, que os vão apoiar, escrevendo cartas e mandando lembranças, garantindo que nunca iriam estar sós, e que teve grande adesão a nível nacional.


O Movimento Nacional Feminino, cria um tipo de suporte em papel para a correspondência entre os militares e as famílias, amigos, namoradas e madrinhas de guerra designado por “aerograma”.  



Os aerogramas de cor amarelada eram destinados ao correio entre as províncias ultramarinas e a metrópole, enquanto os de cor azul faziam o percurso inverso.

Regresso a Penafiel, das Companhias de Artilharia N.º 145 e 146, do ultramar. 

A Camara Municipal e o Comando do Regimento de Artilharia 5 dirigiram os seus convites à população e os efeitos viram-se perante a grandiosa manifestação que foi prestada aos bravos militares, desta terra e doutras, que compunham as duas batarias.




Quinta – feira, 10 de Outubro de 1963, pelas 22,30 horas, chega à estação do caminho-de-ferro de Novelas, o comboio especial que trazia os briosos militares do R.A.L.5, que há mais de dois anos, tinham partido em missão de soberania para o ultramar. 

A chegada do comboio foi assinalada com foguetes, toques de sinos em todas as igrejas da cidade e a comparência de público numeroso que vitoriou os militares regressados do Ultramar.
 
É de salientar o apoio dado pelo industrial de camionagem desta cidade, sr. Alberto Pinto, que ofereceu as suas camionetas para transporte dos soldados da estação de Novelas ao quartel, que distava cerca de 3 Km.

No dia seguinte, às 10,30 horas, houve missa campal no campo de Conde de Torres Novas, celebrada pelo Rev. Padre António Rodrigues Pimentel, capelão militar há dias vindo do Ultramar, seguido do desfile das duas batarias, tomando também parte a Banda do Regimento de Infantaria 6, pelas ruas da cidade, com continência ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Praça Municipal e almoço de confraternização, no quartel do R. A. L. 5.

Foto 3
Um grupo de senhoras da rua Alfredo Pereira, num gesto muito simpático, quis associar-se à homenagem prestada às Batarias que regressavam do Ultramar, estendendo ao longo da referida rua uma vistosa passadeira e verdes. Todas as casas ostentavam bandeiras e colchas, oferecendo assim um aspecto muito festivo.


Neste ano de 1963, mais propriamente no dia 1 de Dezembro, o M.N.F., distribuiu um comunicado em Penafiel, apelando ao contributo de uma hora de trabalho, para auxiliar nesse Natal as famílias dos soldados mais carenciados.

Foto cedida por António de Sousa
Uma das firmas que respondeu a este apelo, foi a do Albano & Miguel. Esta grande empresa, em 1984, figurava com o número 933, na lista das 1000 melhores empresas nacionais, e empregava 122 trabalhadores.


Foram milhares os militares que partiram e regressaram do R.A.L. 5 de Penafiel, para defender a integridade do Portugal d’aquém e d’além-mar, como se dizia na época, até ao ano de 1975, em que se procedeu à independência das ex-colónias.


Cinquenta anos depois destas duas Batarias de Artilharia 145 e 146 terem partido para Angola, um pequeno monumento foi colocado no jardim público perto do quartel, em homenagem às gentes de Penafiel pelo modo como souberam acarinhar e receber estes militares.


Mas os ex-combatentes que viram chegar o 25 de Abril de 1974, e nele a esperança de um país melhor, não imaginariam que agora muitos dos seus filhos sejam “obrigados” a procurar naquelas terras distantes o trabalho que aqui lhes falta para construírem o seu futuro.

Fotos: 1; 2 e 3, do Livro Bataria de Artilharia 146 Angola.

2 Comments:

Blogger Unknown said...

Encontrei esta página e procurei encontrar alguma coisa que se relacionasse com a minha passagem pelo RAL 5 Penafiel, visto que fiz parte do Batalhão de Artilharia 6521/74. Tive esperança de encontrar alguma referencia à minha passagem porque o meu Batalhão foi o último a ser mobilizado por aquele Regimento.

11:48 da tarde  
Blogger Patrícia Costa said...

Boa tarde! Pode p.f. indicar-me a bibliografia que usou para este post? Gostaria de ler mais sobre o assunto. Obrigada.

4:21 da tarde  

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