PENAFIEL E O INÍCIO DA GUERRA COLONIAL
PENAFIEL E O
INÍCIO
DA GUERRA
COLONIAL
Foto 1 |
No dia 4 de
Fevereiro de 1961, um grupo de angolanos levava a cabo uma tentativa de assalto
a várias cadeias em Luanda.
A UPA (União das Populações de Angola), no dia
15 de Março de 1961, ataca fazendeiros europeus e trabalhadores bailundos, no
norte de Angola, nomeadamente no concelho do Uíge estendendo-se mais
tarde para o sul, até à actual província do Bengo.
Perante estes
actos que chocaram a sociedade portuguesa, o Grupo Cénico “Alma Juvenil”, resolveu dar dois espectáculo (dia 22 e 29 de
Abril de 1961), no Cine-Teatro S. Martinho, cuja receita reverteu a favor das
famílias das vítimas destes atentados em Angola.
Salazar
apercebeu-se que não se tratava de uma guerra de catanas, mas de um movimento
organizado apoiado por potências internacionais que se propunha conquistar a
independência do território.
Mediante estes
acontecimentos, no dia 13 de Abril de 1961, Salazar profere a célebre frase: Para Angola, rapidamente e em força.
Os primeiros
grandes contingentes partiam para Angola por via marítima, iniciando um ciclo
de guerra.
No dia 1.º de Maio
de 1961, chega a Luanda o primeiro contingente militar, onde é recebido em
delírio, num desfile na Avenida Marginal.
Nos quarteis em
Portugal Continental, continuava-se a preparar jovens para o cenário de guerra.
No R.A.L. 5 em
Penafiel, estão a ser formadas duas Batarias de Artilharia, a 145 e a 146, comandadas
respectivamente pelos capitães Esteves Virtuoso e Rolando de Carvalho Tomás
Ferreira.
No dia 27 de Junho
de 1961, parte de Penafiel o primeiro contingente de tropas para a Guerra
Colonial, com destino a Angola.
Foto de Aureliano Campo |
No Campo de Torres
Novas, pelas 10 horas foi celebrada uma missa campal pelo reverendo Manuel Leal
da Rocha, (padre da freguesia de Marecos e professor no Colégio do Carmo).
Marcaram presença
o presidente do Município, sr. dr. Francisco da Silva Mendes e representantes
das diversas colectividades, bem como muito povo.
No final, o
comandante do Regimento sr. Coronel Cipriano Fontes dirigiu uma vibrante
alocução aos soldados, incitando-os a bem servir a sua missão.
As senhoras D.
Maria Alice da Rocha Reis e D. Nair de Carvalho Tomas Ferreira, entregaram aos
comandantes do contingente militar, os guiões oferecidos pela cidade.
Foto 2 |
Após a missa, as
tropas sob o comando do Sr. major Santiago Cardoso desfilaram através das
principais artérias da cidade, detendo-se em frente do monumento aos Mortos da
Grande Guerra, na Praça Municipal, onde os dois capitães das batarias, depuseram uma coroa de flores.
Na estação do
caminho-de-ferro, em Novelas, compareceram todos os oficiais do R.A.L. 5 e
centenas de pessoas, para apresentar cumprimentos às forças expedicionárias.
Entretanto há um
movimento que nasceu através da Revista Eva, em que os jovens soldados podiam
passar a ter “ madrinhas de guerra”, que os vão apoiar, escrevendo cartas e mandando
lembranças, garantindo que nunca iriam estar sós, e que teve grande adesão a
nível nacional.
O Movimento
Nacional Feminino, cria um tipo de suporte em papel para a correspondência
entre os militares e as famílias, amigos, namoradas e madrinhas de guerra
designado por “aerograma”.
Os aerogramas de
cor amarelada eram destinados ao correio entre as províncias ultramarinas e a
metrópole, enquanto os de cor azul faziam o percurso inverso.
Regresso a
Penafiel, das Companhias de Artilharia N.º 145 e 146, do ultramar.
A Camara Municipal
e o Comando do Regimento de Artilharia 5 dirigiram os seus convites à população
e os efeitos viram-se perante a grandiosa manifestação que foi prestada aos
bravos militares, desta terra e doutras, que compunham as duas batarias.
Quinta – feira, 10
de Outubro de 1963, pelas 22,30 horas, chega à estação do caminho-de-ferro de
Novelas, o comboio especial que trazia os briosos militares do R.A.L.5, que há
mais de dois anos, tinham partido em missão de soberania para o ultramar.
A chegada do
comboio foi assinalada com foguetes, toques de sinos em todas as igrejas da
cidade e a comparência de público numeroso que vitoriou os militares regressados
do Ultramar.
É de salientar o
apoio dado pelo industrial de camionagem desta cidade, sr. Alberto Pinto, que
ofereceu as suas camionetas para transporte dos soldados da estação de Novelas ao
quartel, que distava cerca de 3 Km.
No dia seguinte, às
10,30 horas, houve missa campal no campo de Conde de Torres Novas, celebrada
pelo Rev. Padre António Rodrigues Pimentel, capelão militar há dias vindo do
Ultramar, seguido do desfile das duas batarias, tomando também parte a Banda do
Regimento de Infantaria 6, pelas ruas da cidade, com continência ao Monumento
aos Mortos da Grande Guerra, na Praça Municipal e almoço de confraternização,
no quartel do R. A. L. 5.
Foto 3 |
Um grupo de
senhoras da rua Alfredo Pereira, num gesto muito simpático, quis associar-se à
homenagem prestada às Batarias que regressavam do Ultramar, estendendo ao longo
da referida rua uma vistosa passadeira e verdes. Todas as casas ostentavam
bandeiras e colchas, oferecendo assim um aspecto muito festivo.
Neste ano de 1963,
mais propriamente no dia 1 de Dezembro, o M.N.F., distribuiu um comunicado em
Penafiel, apelando ao contributo de uma hora de trabalho, para auxiliar nesse
Natal as famílias dos soldados mais carenciados.
Foto cedida por António de Sousa |
Uma das firmas que
respondeu a este apelo, foi a do Albano & Miguel. Esta grande empresa, em
1984, figurava com o número 933, na lista das 1000 melhores empresas nacionais,
e empregava 122 trabalhadores.
Foram milhares os militares
que partiram e regressaram do R.A.L. 5 de Penafiel, para defender a integridade
do Portugal d’aquém e d’além-mar, como se dizia na época, até ao ano de 1975,
em que se procedeu à independência das ex-colónias.
Cinquenta anos
depois destas duas Batarias de Artilharia 145 e 146 terem partido para Angola,
um pequeno monumento foi colocado no jardim público perto do quartel, em
homenagem às gentes de Penafiel pelo modo como souberam acarinhar e receber
estes militares.
Mas os
ex-combatentes que viram chegar o 25 de Abril de 1974, e nele a esperança de um
país melhor, não imaginariam que agora muitos dos seus filhos sejam “obrigados”
a procurar naquelas terras distantes o trabalho que aqui lhes falta para
construírem o seu futuro.
Fotos: 1; 2 e 3, do Livro Bataria de Artilharia 146 Angola.
2 Comments:
Encontrei esta página e procurei encontrar alguma coisa que se relacionasse com a minha passagem pelo RAL 5 Penafiel, visto que fiz parte do Batalhão de Artilharia 6521/74. Tive esperança de encontrar alguma referencia à minha passagem porque o meu Batalhão foi o último a ser mobilizado por aquele Regimento.
Boa tarde! Pode p.f. indicar-me a bibliografia que usou para este post? Gostaria de ler mais sobre o assunto. Obrigada.
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