REGRESSO DA GUINÉ
REGRESSO
DA GUINÉ
DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 1486
DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 1486
No
dia 3 de Setembro de 1967, Penafiel vestiu-se de gala, para receber
os Militares da Companhia de Artilharia 1486, que regressava da
Guiné, e de onde tinham partido há dois anos.
Com
as tropas em parada no Campo Conde de Torres Novas, vulgarmente
chamado de Campo da Feira, o Comandante do R.A.L. 5, sr. Coronel do
C.E.M. António Manuel Carneiro Pacheco, deu as boas-vindas aos
valorosos Militares da Companhia de Artilharia 1486 que em Janeiro
passado conquistaram em terras portuguesas da Guiné, a Flámula de
Honra “Grau Ouro”, iniciando deste modo o seu discurso:
Camaradas
Desejaria
nesta hora ter o dom de orador como António Cândido, a Águia do
nosso vizinho Marão, ou a inspiração do Poeta, qual António
Nobre, cujo busto se ergue ao jardim fronteiro, para em breves, mas
impressivas palavras dar as calorosas boas-vindas a vós, a valorosa
companhia comandada pelo Capitão Dias Ferreira, que agora regressa
da nossa portuguesíssima Guiné com o natural orgulho de ter
cumprido com galhardia e distinção o seu dever.
Como
Comandante do R.A.L. 5, o regimento de Penafiel, de onde há dois
anos partistes de coração tenso pelo despontar da saudades das
vossas mães ou esposas, noivas ou irmãs, mas de alma aberta já ao
grande ideal de servir a integridade da Pátria na nossa província
da Guiné, nessa África que é hoje o continente da esperança vos
digo, sede bem-vindos.
Quartel de Mansoa |
Certamente
que tivestes boas e más horas nessas paragens e gentes de Mansoa e
Olossato, alvo de cobiça inimiga por serem nossas, pois desde há
séculos falam a língua de Camões através, dos belos rios , as
rendilhadas palmeiras e os areais desse como que Algarve de Além-Mar.
Olossato - Guiné |
Sangue
generoso de alguns ali ficou. Como preço glorioso do padrão que
ajudaste a erguer assinalando aos presentes e vindouros que ali
também é Portugal!
Em
breve tereis ocasião de responder por eles “Presente”, quando
citados forem os nomes de um branco e alguns auxiliares nativos da
vossa companhia caídos no campo da honra, vossos queridos camaradas
nesta gloriosa campanha de defesa da Pátria comum, Pluricontinental
e Multirracial como bons portugueses, tombaram de pé, e estão
presentes nesta hora com o mesmo aprumo com que empunhais vosso guião
altivo e o precioso galardão que soubestes conquistar a flámula de
honra, em ouro, com a qual enriqueceis as tradições desta velha
unidade, “já pelo nome antigo tão famosa”.
Sede
bem-vindos ao vosso quartel metropolitano, nesta altaneira cidade
entre Douro e Minho, mais perto de entre Sousa e Tâmega, cujas
tradições se radicam nos primórdios da nacionalidade e no exemplo
de lealdade de Egas Moniz.
Sede
bem-vindos, dizem os camaradas que em fileiras unidas vos recebem,
contagiando-se ao vosso exemplo e aspirando a mesma honra e glória.
R.A.L. 5 - Penafiel |
Eu
vos saúdo em nome do R.A.L. 5!
Depois
de cumprido o mais alto e caro dever para com a Pátria, com o
legítimo orgulho de terdes sabido honrar a farda de soldado
português, mostrando ao mundo que são de marca imorredoira as
virtualidades da nossa raça, ides voltar aos vossos lares ao afecto
de parentes e amigos que também ganharam jus à gratidão da Pátria
pelo sacrifício da vossa ausência e o pesar da saudade ou da
amargura.
Cumpriste
bem a missão de soberania e civilização em longes terras
portuguesas.
Se
ali ganhastes honra em combate pela defesa do que é nosso, ajudareis
agora a retaguarda, cada qual na sua terra a apoiar com o seu
trabalho os que vos vão suceder para, com vista a ganhar-se a Paz,
chegue finalmente o dia da vitória da razão de estarmos no mundo
como Portugal Uno, de Aquém e Além-Mar.
Seguidamente
usou da palavra o capitão Dias Ferreira em nome da Companhia que
comandou, terminando por dizer:
“Foi
uma honra comandar Homens como os que aqui estão presentes”.
Com
as varandas das casas da cidade enfeitadas com colchas, o desfile com a fanfarra
do R.A.L. 5 à frente percorreu as Avenidas Egas Moniz, Sacadura
Cabral, Praça Municipal, Rua Serpa Pinto, Largo d' Ajuda, Rua
Alfredo Pereira, Av. Zeferino de Oliveira até ao Sameiro,
regressando pela Rua do Paço e novamente na Praça Municipal, em
frente ao Monumento dos Mortos da Grande Guerra, as tropas em parada
prestaram homenagem aos seus irmãos de armas que tombaram na luta da
primeira Grande Mundial.
O
capitão Dias Ferreira depôs um ramo de cravos no sopé do monumento
e em continência todos os militares e o numeroso público
assistente, onde se via o Sr. Presidente da Câmara, Coronel Fontes,
que se fazia acompanhar dos vereadores srs. Fausto Pinto de Matos,
professores Joaquim José Mendes e Rocha Nunes, Comandante da G.N.R.,
Sr. Tenente Ferraz, Subdelegado de saúde, Dr. Francisco Brandão
Rodrigues dos Santos, e toda a oficialidade do R.A.L. 5 guardaram um
minuto de silêncio.
Depois
desta cerimónia as tropas dirigiram-se novamente para o quartel e,
já na parada, foram sobrevoados por uma avioneta pilotada pelo
Professor Luís Gonzaga Pereira de Azevedo, lançando flores sobre os
soldados.
Mas
o momento que mais fundo nos calou foi a entrega do Guião,
enriquecido com a Flámula de Honra, feita pelo Comandante da
Companhia capitão Dias Ferreira, ao Comandante do R.A.L. 5, Coronel
Carneiro Pacheco.
As
lágrimas bailaram nos olhos daqueles Homens que apesar de
endurecidos na fornalha da luta ainda sentem vibrar na sua alma os
significados maiores para o enriquecimento glorioso da nossa Pátria.
As
cerimónias terminaram com um almoço colectivo servido nas
magníficas dependências do quartel.
A
Flámula de Honra, Grau Ouro, foi atribuída à Companhia Artilharia
1486, devido aos sucessos operacionais levados a efeito no mês de
Janeiro de 1967, na província da Guiné, sendo de destacar as
operações Bloco, Alvorada, Estilha, Estarola, Elisa, Esquilo, Evereste e Electão, onde evidenciou qualidades de decisão,
agressividade e bravura, atestados por brilhantes comportamentos em
combate, causando numerosas baixas ao inimigo, bem como a captura de
numeroso armamento, munições e documentos.
Material apreendido ao IN |
Teve
também especial relevo a acção psicológica que desenvolveu no
Olossato na conquista das populações.
A
9 de Maio de 1967, foi efectuada uma cerimónia no quartel de
Olossato, na Guiné, na qual sua excelência o Brigadeiro Comandante
Militar, António Maria Malheiro Reimão Nogueira, impôs a fita
respectiva no Guião da Companhia e entregou a flámula para ser
hasteada.
A
população de Olossato compareceu, tendo-se integrado na festa da
Companhia.
A
contrapor a toda esta pompa e circunstância da chegada das tropas do
ultramar, vou contar a minha chegada a Lisboa num boeing 747,
pilotado pelo tenente Lavrador, no dia 27 de Junho de 1975.
À
nossa espera estava um cabo que nos dava uma guia de marcha para
regressarmos de comboio às nossas terras, ao mesmo tempo que
preenchíamos um papel para indicarmos para onde devia o exército
enviar a nossa caderneta militar.
Compreendo
perfeitamente toda esta diferença de tratamento, afinal o país
andava entretido com a “Revolução”, e dentro de alguns meses
acabava a cantilena do “Angola é nossa”.
Será que os Camaradas penafidelenses mortos na Guerra Colonial, não mereciam um monumento próprio? |
Se
Camões já escrevia que “Mudam-se os tempos, mudam-se as
vontades”, passados tantos anos a minha santa terrinha, ainda não
viu que é uma falta de consideração para não dizer outra coisa,
ter os mortos do ultramar numa placa no sopé do monumento aos Mortos
da Grande Guerra.
Será que os Camaradas penafidelenses mortos na Guerra Colonial, não mereciam um monumento próprio, como fazem muitas cidades e vilas deste país?
A guerra colonial terminou há mais de quatro décadas, mas em Portugal continuam a inaugurar-se monumentos de homenagem aos militares mortos e já rondam os 300.
Será que os Camaradas penafidelenses mortos na Guerra Colonial, não mereciam um monumento próprio, como fazem muitas cidades e vilas deste país?
A guerra colonial terminou há mais de quatro décadas, mas em Portugal continuam a inaugurar-se monumentos de homenagem aos militares mortos e já rondam os 300.
in Diário de Notícias de 12 de Agosto de 2016
Mas
talvez seja defeito meu não acompanhar os tempos que correm, onde as
lutas são travadas de faca e garfo, com mais ou menos medalhas ao
peito.
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