O DOMINGO DESPORTIVO
O
DOMINGO DESPORTIVO
Por
volta das 10 horas da manhã ligava-se a telefonia para ouvir Aqui
Salgueiros, que era um programa que falava sobre a alma
salgueirista do Sport Comércio e Salgueiros.
No
final dos anos 50, e princípio dos anos 60 do século passado, aos
domingos era costume ir à bola.
No
final de almoço, preparava a bandeira vermelha e preta, e lá ia
pela mão do meu pai apoiar o Futebol Clube de Penafiel.
Nessa
altura conhecia os jogadores todos pelo nome, já que muitos deles
eram cá da terra.
Tal
como hoje havia os que levavam um dicionário de palavrãos para
lançarem ao homem do apito e aos bandeirinhas seus auxiliares.
Mas
quem vê estas fotos de Antony Guimarães, aos domingos era uma autêntica romaria de povo
que enchia o campo de futebol, sem qualquer comparação com a
desertificação que se nota nos dias que correm, com as bancadas
cheias de lugar vazios.
Talvez
naquele tempo a cidade e o concelho se identificassem mais com o
clube, do que hoje.
Quando
ganhávamos à rasca, lá se dizia que a vitória tinha sido suada,
mas merecida, mas se perdíamos, a culpa era do árbitro e nunca das
nossas fraquezas, mas quando a vitória era por muitos golos, lá
saía a expressão: demos-lhe uma cabazada do caraças e ganhamos sem
espinhas sendo estes dois dizeres equivalentes ao agora “limpinho,
limpinho” de Jorge Jesus.
Era
uma maravilha ver o Silva Pereira a jogar, trazendo magia ao futebol
com as suas fintar, e a marcar golos de todas as maneiras e feitios.
Quem
assistiu ao célebre jogo da subida à 2.ª Divisão Nacional no ano
de 1965, em que o Penafiel derrotou o Rio Ave por 7-0, tendo o Silva
Pereira marcado 4 golos, não mais esqueceu estes noventa minutos de
sonho.
No
final do jogo regressávamos a casa.
Se
a vitória nos tinha sorrido, lá trazia a bandeira rubro negra a
sobrevoar ao vento, mas se o jogo tinha dado para o torto a mesma
vinha enrolado debaixo do braço, e vínhamos com a beiça.
Enquanto
eu ia para casa, meu pai ia analisar o jogo com os amigos na
Miquinhas da Sobreira. Aí as vitórias eram festejadas com copos de
três ou esqueciam-se as derrotas com a mesma receita.
O
domingo desportivo não acabava aqui.
No
final da janta, lá íamos comprar o Norte Desportivo, que era um
jornal vindo do Porto, que trazia os resultados dos jogos de todos os
escalões e as respectivas classificações.
Se
naquele tempo havia um casamento perfeito entre o clube e a cidade,
nos dias de hoje, sem se saber muito bem as razões do divórcio
entre ambos, é por mais que evidente este facto consumado.
Mas
não pensem que este desinteresse pela ida à bola apenas se verifica
na nossa terra.
Basta
ver os resumos televisivos para ficarmos com a sensação, que a
maioria dos estádios, não passam de casas de lugares vazios, onde
os clubes não têm chama para atrair mais gente, que lhe dê a alma
do antigamente.
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