O CANÁRIO E O AMOR À CAMISOLA
O
CANÁRIO
E
O AMOR À CAMISOLA
Em
tempos idos, na cidade de Penafiel existiam dois clubes de futebol e
ambos tinham a sua orquestra.
Evidentemente
que estes craques do antigamente, em que o futebol era
verdadeiramente desportivo, que se suava a camisola e ainda por cima
se levava para casa as camisolas, calções, meias para lavar e
pontear, e as botas para engraxar ou concertarem às suas custas,
devem de encher de risos Ronaldo, Messi & C.ª Lda., do nosso
tempo.
Orquestra- Jazz Albardófila do Sport.
Todos
os atletas eram amadores, tendo a sua profissão de ganha-pão e nas
horas vagas davam dois chutos na bola e muitos deles ainda faziam
parte da respectiva tuna musical do clube a que pertenciam tocando
algum instrumento, mostrando o seu bairrismo, o gosto e a beleza de
sentimentos, em suma o amor à camisola.
A
figura que hoje vou falar é sobre o guarda-redes do Sport de cognome
o Canário.
Bernardino com Soares dos Reis. Foto que me foi oferecida pelo meu amigo Neca Reis. |
O
Bernardino que era este o seu verdadeiro nome, teve a difícil tarefa
de ir substituir debaixo dos postes Soares dos Reis que entretanto
tinha ido para o Leça e mais tarde veio a ser guarda-redes do F. C.
do Porto e da Selecção Portuguesa de Futebol, tal era a sua
categoria.
Na
altura o Bernardino morava naquelas casas que arderam no correr do
Largo da Misericórdia, hoje Padre Américo.
À
segunda-feira o equipamento todo amarelado, era dependurado ao sol, e
quem passava no Largo ia dizendo e apontando que lá estava o
equipamento do Canário a secar, para no próximo domingo entrar em
campo equipado de amarelo.
Nesses
tempos ainda não havia televisão e a rádio não estava
vulgarizada, pelo que quem gostasse da bola, tinha mesmo que marcar
presença no campo, e assistir aos desafios.
A
estreia é sempre um jogo que marca qualquer atleta, seja de que
modalidade for, e como tal aqui fica o relato do primeiro jogo do
Bernardino na baliza do Sport Club de Penafiel.
Foi
no domingo, 30 de Setembro de 1929, que se realizou na Vila da Lixa,
o desafio entre o Foot-Ball Club da Lixa e o Sport Club de Penafiel.
A
vitória sorriu ao Sport Clube de Penafiel, que deu uma cabazada de 6
bolas a 1.
Durante
os 90 minutos, o Sport impôs o seu jogo habitual, marcando logo no
início dois golos por intermédio de Gervásio, tendo o Club da Lixa
reduzido ainda na primeira parte, para 2 – 1, resultado com que as
equipas foram para o intervalo.
Quando
se previa uma segunda parte renhida, o Sport esmagou por completo
qualquer aspiração dos locais, apontando mais quatro golos todos
eles da autoria do seu avançado Lopes.
Neste
jogo o Sport apresentou um elemento novo, Bernardino, que mostrou
possuir qualidades para vir a ser um bom guarda-redes. Assim relatava o jornal local "O Povo de Penafiel", de 6 de Outubro de 1929.
De
exibição em exibição, foi cimentando nos sócios do Sport, a
convicção que quando o Canário jogava, havia grandes
possibilidades de saber quem ganhava mesmo antes do jogo se realizar,
mas por vezes nem sempre se cumpria tal profecia.
Quando
foi assediado para deixar o Sport rumo ao Académico do Porto, seu
pai chamou-o e depois de uma longa conversa lá o convenceu que o
Sport Club de Penafiel, era o melhor clube do mundo.
Não
enriqueceu com a bola, mas para a catraiada que o admirava atrás da
baliza, trouxe um inesquecível contentamento, e nela deixou o traço
indelével da saudade.
Cada
vez são menos, até porque a lei da vida também os tem ceifando,
mas ainda hoje há quem me fale do Canário, quando por mim cruzam
nas ruas desta cidade.
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