03 maio 2015

CANCIONEIRO DO NIASSA



CANCIONEIRO DO NIASSA



Hoje não vou falar de  um cantor em especial, mas sim de um cancioneiro, que circulava policopiado, de mão  em mão à sucapa entre os militares portugueses nos três cenários de guerra em África.



O Cancioneiro do Niassa, nasceu na região do Niassa, Moçambique, durante a Guerra Colonial nos finais da década de 60, e é uma colectânea de fados e canções centrados na vida dos militares Portugueses.


Engendrado de forma dispersa em 1968, foi contudo no sector A de Moçambique (Niassa, capital Vila Cabral) que os seus executantes, entre 69 e 71, decidiram compilar uma série, cada vez mais volumosa de letras contra a guerra e os seus responsáveis, de lamento e protesto pelas condições de vida da tropa.


As músicas já estavam feitas, pois eram os temas mais populares conhecidos do momento. Foi só encaixar palavras e versos nas composições que todos já trauteavam e assobiavam, o que partia logo com 50% do êxito garantido.




José Maria Pinto (conhecido pelos portugueses através do programa Malucos do Riso), chefiava o Grupo Recreativo de Nampula, por isso fazia várias digressões pelo território, onde aproveitava para divulgar alguns temas do cancioneiro.

Mas o que possibilitou a maior divulgação foi o contacto com o Fotocine e a rádio local, que permitiram fazer gravações com condições muito satisfatórias.

A partir daí, o cancioneiro expandiu-se pelas mãos dos militares que levavam as cassetes para casa ou para outras frentes de batalha.

E o Cancioneiro do Niassa saltou rapidamente as fronteiras de Moçambique, aparecendo na Guiné, em Angola e na Metrópole.


Em 1999, é editado pela Valentim de Carvalho, um CD com o título "Canções Proibidas", produzido por Laurent Filipe, e que é nada mais nada menos, que 13 canções seleccionadas, e cantadas pelo João Maria Pinto e seus convidados (entre outros, Carlos do Carmo, Rui Veloso, Paulo Carvalho, Janita Salomé, João Afonso):


1. Ventos de Guerra - João Maria Pinto/Rui Veloso;
2. Taberna do Diabo - João Maria Pinto/Gouveia Ferreira; 3. Fado do Checa - Paulo de Carvalho;
4. O Turra das Minas - João Maria Pinto/Rui Veloso;
5. Erva Lá Na Picada - João Maria Pinto/Janita Salomé;
6. Luta p'la Vida - João Maria Pinto;
7. Neutel d'Abreu - João Maria Pinto/Mariana Abrunheiro; 8. Bocas Bocas - Lura, João Maria Pinto/Mingo Rangel;
9. Fado do Miliciano - Janita Salomé;
10. O Fado do desertor - Carlos do Carmo;
11. O fado do Antoninho - Teresa Tapadas;
12. Hino de Vila Cabral - Carlos Macedo/João Maria Pinto;
13. O Hino do Lunho - João Maria Pinto e outros (João Afonso, Ana Picoito, Tetvocal...).

O produto da venda deste disco reverte a favor da Associação de Dificientes das Forças Armadas (ADFA).

Vamos ouvir neste domingo o Hino do Lunho, com a música dos Vampiros de José Afonso, relatando as contradição entre os combatentes da picada e os do arame farpado.





-Bom domingo!