DR. JOSÉ DA PAZ - O MÉDICO-VOADOR
DR.
JOSÉ DA PAZ
O
MÉDICO-VOADOR
José da Paz Brandão
Rodrigues dos Santos, nasceu em Penafiel, no dia 13 de Outubro de 1934.
Estudou na Escola Conde
de Ferreira e no Colégio do Carmo em Penafiel. Conclui os estudos secundários
no Colégio Almeida Garrett no Porto, tendo-se licenciado em Medicina e Cirurgia
pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Integrou o
"Orfeão" da Universidade do Porto, a partir do qual fez uma digressão
por Moçambique e por Angola. Ofereceu-se como voluntário para trabalhar em
Moçambique e foi colocado no Hospital João de Melo, onde conheceu Samora Machel.
Alguns anos mais tarde,
foi transferido para Tete, onde foi delegado de saúde e director do hospital,
ficando conhecido como o "médico-voador", por ter fundado o Serviço Médico
Aéreo, em Moçambique.
Foto do blogue Voando em Moçambique |
Adorava voar e era
piloto dum pequeno avião tipo “teco-teco”(matrícula 493-CR-AKS), que voava por
toda a região com uma ou mais enfermeiras, para tratar as populações locais,
num programa conjuntamente patrocinado pela Fundação Gulbenkian e pela Cruz
Vermelha Internacional, denominado Serviço Médico Aéreo.
Rezam os factos que o
médico José Paz Brandão Rodrigues dos Santos não suportava sequer imaginar o
calvário dos feridos que faziam centenas de quilómetros a pé para chegar ao
hospital, sobretudo porque muitos tropeçavam na morte pelo caminho.
A sua missão como
delegado de saúde e o seu carácter humanitário levou-o a denunciar o massacre
de Wiryamu, através de um relatório realizado por um comité de averiguação para
o qual fora convidado a presidir.
Este acto de coragem, valeu-lhe
a ter que mudar-se com a família para Lourenço Marques (hoje Maputo), e até à
independência de Moçambique, nunca mais teve a possibilidade de regressar a
Tete.
Utilizando um pequeno
avião, Dr. José da Paz, médico em Tete, do quadro de Saúde do Estado, prestava
semanalmente assistência sanitária ás populações do distrito, cobrindo uma área
equivalente à da Metrópole (Portugal), num serviço sem precedentes em todo o
território nacional.
Dr. José da Paz, com
uma regularidade pendular percorre duas vezes por semana, num pequeno avião, os
postos sanitários e maternidades espalhadas pelas regiões mais recônditas do
distrito, aí assistindo a milhares de doentes que neles se concentram às
quartas e sextas-feiras para serem observados, medicados ou tratados.
A cobertura médico sanitária
é feita em dois roteiros compreendendo, um dele, os postos sanitários de
Uncanha, Zumbo, Messengueze, Corinde, Nhaluiro (incluindo Cachomba) e Songo e,
o outro, os de Mavuzi, Chióco, Mazoe, Changora e Mandié.
Neste último roteiro,
dada a relativa proximidade a que ficam umas das outras as localidades a
visitar, a cobertura médica-sanitário, incluindo o tempo das consultas e de voo
até ao regresso a Tete, é normalmente feito das 6 às 13 horas, demorando (a
outra de roteiro mais longo) até ao pôr do Sol.
As consultas aos
doentes concentrados em Cachomba, na margem direita do Zambeze, são feita após
as de Nhaluiro, cruzando o médico o rio num pequeno barco a remos.
Na sua reduzida
bagagem,o Dr. José da Paz transporta, além da maleta clínica, os medicamentos
destinados aos casos gerais e os aplicáveis aos casos comuns às regiões a
visitar e predominantes em cada uma delas, como a malária e nas zonas marginais
do Rio Zambeze a varíola, ainda persistente na área do Moatize, e as
conjuntivites infantis, muito disseminadas entre alguns povos das regiões mais
áridas de Mandiè.
Com essas provisões semanais,
dispõem os postos dos meios necessários à terapêutica dos casos que. afectam as
áreas em que exercem a respectivo acção sanitária, podendo dizer-se que o
distrito de Tete é hoje (mas de longe) o que conta com o mais completo e premente arsenal de medicamentos, transportados por via aérea.
Os doentes graves os que exigem cuidados e
tratamentos especiais ou urgentes são transportados no próprio avião para o
Hospital Regional de Tete - mas em condições tão precárias que se torna
difícil, se não embaraçante para o médico prestar durante a viagem, ao enfermo
(às vezes em perigo de vida) uma assistência clínica eficaz.
Estes e outros casos de
emergência, como os de parturientes, que levam a considerar a necessidade de se
dotar esta forma de assistência médico- sanitária de um avião ambulância, mais
confortável e rápido que os aparelhos de que presentemente se serve o
«médico-voador».
De posto em posto, ao
longo dos roteiros de assistência, o Dr. José da Paz, foi dando consultas aos
doentes de todas as etnias que o aguardavam, tendo assim atendido centenas de
doentes, examinando e medicando após o registo da história clínica de cada
paciente na respectiva ficha, os sintomas do mal de que se queixavam, e as
doenças de que se não queixavam mas o médico descobria sobretudo em crianças de
tenra idade como a conjuntivite ocular assim as livrando de uma possível
cegueira.
Auxiliado pelos
enfermeiros e pelas enfermeiras auxiliares, nos dias em que o médico não vai
aos postos do interior, são os enfermeiros que vão às aldeias levar aos doentes
já medicados pelo Dr. José da Paz, o
lenitivo para as dores e o alívio para os males de que sofrem, a todos
atendendo com igual solicitude.
Ás quartas e
sextas-feiras, dias de visita médica, a concentração dos doentes é feita nos
postos sanitários.
A chegada do médico-voador
ás localidades dos roteiros bi-semanais é assinalada pelo roncar do motor do
pequeno avião, indo grande parte da população (e até os doentes que se podem
deslocar-se até lá), assistir à aterragem no pequeno campo de aviação, para
aguardar o médico (que recebem em ar de festa, com palmas e ruidosas
manifestações de júbilo), em que se habituaram a ver não só o homem que lhes
leva o alívio ás dores, a cura dos males de que padecem, mas também o amigo que
com eles vai partilhar umas horas do seu isolamento. O amigo que tem sempre uma
palavra de esperança para os incuráveis, para as mães aflitas, para os velhos
prestes a finarem-se de velhos.
Dr. José da Paz ao centro na foto, do blogue Voando em Moçambique |
A algumas dessas
localidades nunca dantes ninguém lhes levara como lhes leva o Dr. José da Paz,
o conforto de uma presença humana tão tocante aos seus corações.
Após a independência de
Moçambique, organizou o serviço aéreo a nível nacional, com a ajuda do então
presidente Samora, Machel, que bem conhecia por viajar diversas vezes no avião
que pilotava, antes de regressar a Portugal.
Depois de uma breve
passagem por Penafiel na, década de 70, foi convidado pelo governador de Macau
para ser Director do Serviço desse território, sendo posteriormente nomeado
Vice-Presidente e Representante para o Extremo Oriente da Organização Mundial
de Saúde, onde viria a falecer no dia 25 de Janeiro de 1984, na freguesia da Sé
em Macau.
Foi condecorado a
título póstumo pelo Presidente da República, General Ramalho Eanes.
No dia 8 de Setembro de
2007 foi baptizada uma rua da cidade de Penafiel com o seu nome, cuja placa foi descerrada pelos seus filhos.
Esta rua fica próxima
do nó de entrada da A4 e a rua da Zona Industrial n.º 2.
Seu filho, José
Rodrigues dos Santos, retratou de uma forma romanceada todas estas vivências de
seu pai Dr. José da Paz, tendo a Guerra Colonial como cenário, no seu livro
"O Anjo Branco".
O
meu amigo Fernando Beça Moreira, também lhe dedica um poema no seu livro
Penafidelências, com o título José da Paz, que reza assim:
Da família
dos “Brandões”
Médico, que aqui nasceu.
Em constantes digressões
Em humanistas missões
Pouco tempo cá viveu!
Em serviço humanitário
Este “médico do mundo”
Da saúde missionário
Sempre como voluntário
Fez um trabalho fecundo!
No seu próprio avião
Foi “médico voador”.
Levou à população
Saúde em medicação
Para acalmar muita dor.
Uma vez, foi desterrado
P´rá Ilha de Moçambique
Por ter ele denunciado
Tanto povo massacrado
No tempo de um tal cacique!
Se ele foi condecorado
Não foi por ser mau rapaz.
Foi por estar sempre do lado
Do mais pobre adoentado.
Chama-se ele José da Paz!
Médico, que aqui nasceu.
Em constantes digressões
Em humanistas missões
Pouco tempo cá viveu!
Em serviço humanitário
Este “médico do mundo”
Da saúde missionário
Sempre como voluntário
Fez um trabalho fecundo!
No seu próprio avião
Foi “médico voador”.
Levou à população
Saúde em medicação
Para acalmar muita dor.
Uma vez, foi desterrado
P´rá Ilha de Moçambique
Por ter ele denunciado
Tanto povo massacrado
No tempo de um tal cacique!
Se ele foi condecorado
Não foi por ser mau rapaz.
Foi por estar sempre do lado
Do mais pobre adoentado.
Chama-se ele José da Paz!
Aqui fica a minha
singela homenagem ao penafidelense Dr. José da Paz Rodrigues dos Santos, um grande Homem, que
levou a esperança e o humanismo a muitos locais de Moçambique, que beneficiaram
do seu altruísmo.
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