DUO OURO NEGRO
DUO
OURO NEGRO
O Duo era
formado por:
Raul Indipwo e
Milo Mac-Mahon
Raul Indipwo,
Raul José Aires Corte Peres Cruz nasceu na Chibia, província da Huíla, em 1933.
Aos 6 anos aprendeu piano, em Benguela e na Caála, Huambo, com as professoras
Cândida Guimarães e Dona Ofélia. Raul Indipwo recebeu as primeiras lições de
violão e pintura com a mãe, Arsénia da Corte Perez Cruz.
Milo Mac-Mahon,
Emílio Vítor Caldeira Mac Mahon Vitória Pereira, nasceu no dia 3 de Maio de 1940, na cidade do
Lubango. Solista da Igreja de Nossa Senhora do Pópulo, em Benguela.
Raul Indipwo
visita, em 1955, a cidade do Uíge, convidado por um amigo, e reencontra Milo
Mac-Mahon Victória Pereira, um velho companheiro com quem havia partilhado a infância
em Benguela, facto que se transformou no motivo da formação do Duo Ouro Negro.
A irmandade
musical e o contra canto harmónico, das vozes de Raul Indipwo e Milo Mac-Mahon,
decorreram de forma natural e cedo o duo foi granjeando a simpatia nos locais
de festa e de convívio juvenil, na cidade do Uíge.
Durante o programa
comemorativo do aniversário da Emissora Oficial de Angola, em 1956, as rádios
locais enviaram programas especiais para Luanda.
Foi então que a Maria Lucília
Pita Grós, locutora da rádio Uíge, abriu com as seguintes palavras o programa:
“Angola é muito
rica em ouro negro, que brota espontaneamente do chão e das minas, mas desta
vez o ouro cintila das vozes de Raul e Milo” – assim surgiu a adopção da
designação, “Ouro Negro”, na primeira fase, e depois, de forma definitiva, Duo
Ouro Negro, em 1959.
Reconhecidamente
influenciado pelo conjunto Ngola Ritmos, o Duo Ouro Negro só veio a conhecer,
de perto, o grupo de Liceu Vieira Dias, em 1956.
A primeira aparição
apoteótica do Duo Ouro Negro aconteceu no Cinema Restauração, em Luanda, em
Julho de 1957, num espectáculo vivamente aplaudido pelo público e foi o
prenúncio de uma fulgurante carreira repleta de êxitos sucessivos.
Os dois primeiros
discos, gravado em 1959, contaram com a colaboração do brasileiro Sivuca e do
seu conjunto. “Muxima”, o clássico angolano revitalizado pelos Ngola Ritmos,
traduzido em língua portuguesa e “Kuricutéla”, uma composição de Raul Indipwo
baseada no cancioneiro Tchokwe, são alguns dos temas.
O terceiro disco,
onde foram acompanhados por Joaquim Luís Gomes, foi gravado no início de 1961.
Foi nesta altura que interpretam o tema, “Tala ó mbundo” (olha o preto), canção
que retracta as desigualdades sociais dos angolanos, baseada na raça por
hierarquias- branco, mulato e preto. Traduzida do cancioneiro popular
luandense, “Tala ó mbundo” foi considerada uma canção subversiva pela censura
colonial da época. Raul Indipwo defendeu-se, dizendo que “era pura e
simplesmente a realidade”.
Daí a polícia política não poupou esforços em
intimar o duo a prestar declarações sobre os reais intentos do Ouro Negro e do
eventual sentido político da canção “Tala ó mbundo”.
A
internacionalização do Duo Ouro Negro começa em 1959, quando o empresário
cinematográfico Ribeiro Belga, motivado pela impressão com que ficou depois de
ter assistido a um concerto do duo, em Lourenço Marques (Maputo), o convidou a
realizar um espectáculo na cerimónia de inauguração do Cine Teatro Roma, em
Lisboa. Daí foram surgindo sucessivas digressões do duo a Espanha, Suécia,
França, China e Rússia, convidado pelo famoso palhaço Popov, Finlândia, Japão,
na Expo-70 de Osaka, e América Latina.
Seguindo a “onda”
dos ritmos de dança como o twist, o madison, o surf e muitos outros, o Duo Ouro
Negro lança o kwela, que rapidamente se transformou numa moda, sendo
considerado o ritmo do Verão em 1965. Na realidade, o kwela mais não era que
uma dança ritual da tradição africana, que em dialecto zulu quer dizer flauta.
A nova moda pegou e, para a cena europeia, representava uma novidade
encantadora. Paris rendeu-se ao kwela e a Europa também.
O Duo Ouro Negro
conhece, em 1966, um dos pontos mais altos da sua ainda recente carreira, ao
actuar no Olympia e no Alhambra, em Paris. E no ano seguinte, naquela que pode
ser considerada uma das mais elevadas distinções do grupo, actuam na Sala
Garnier da Ópera de Monte Carlo para os Príncipes do Mónaco, por ocasião das
comemorações do IV Centenário do principado.
Ainda nesse mesmo
ano, são galardoados em Portugal com o Trofeu da Imprensa. O Olympia de Paris
transforma-se numa sala talismã para o Duo Ouro Negro. Em 1967, a sala
acolhe-os durante três semanas em Maio e outras três em Outubro. Repartem estas
actuações com espectáculos em diversas televisões europeias.
O Brasil é outro
dos palcos da actuação dos dois angolanos nesse mesmo ano de 1967, com recitais
no teatro Cecília Meireles e no Canecão. Neste ano de ouro para o Duo Ouro
Negro acontece, ainda, no programa da RTP de coroação da Rainha da Televisão de
1960. Regista-se uma verdadeira consagração, ao actuarem no Rendez-Vous avec
Danny Kaye, o espectáculo de comemoração do 20º aniversário da UNICEF,
transmitido de Paris para mais de 200 milhões de telespectadores.
“Figuras
fulgurantes do music-hall não apenas em Portugal mas por toda a Europa onde os
escutam e enlouquecem”, de acordo com uma revista da época, Raul e Milo
conhecem a partir de 1968, uma segunda fase da sua carreira.
Em 1970 acontece a
primeira digressão pela Austrália e Estados Unidos, constituída por 43
concertos em universidades e teatros de 37 Estados americanos. Ao conquistarem
o Canadá e, depois, os Estados Unidos, internacionalizam as suas músicas a uma
escala mais larga. Em Chicago assinam um contrato com a Columbia Artists
Management e, depois de um breve regresso a Portugal e a África, brilham no
Waldorf Astoría, em Nova Iorque.
Também a América
Latina foi palco de dois espectáculos do Duo Ouro Negro, no teatro Maipu, de
Buenos Aires, a par de quatro espectáculos televisivos e do lançamento do LP
Ouro Negro Latino. O cosmopolitismo do grupo não pára e uma longa digressão ao
Japão consolida o seu prestígio em terras do Oriente.
Em 1969, Raul
Indipwo começa a escrever a peça “Blackground”, na Argentina. “Blackground”
(campo negro) é uma representação teatral sobre a origem da música africana,
metaforizada pela origem e formação dos rios.
África, conta Raul
Indipwo, era árida e seca, e a Xituta ou Iemenjá foi parida pelos deuses. Ela
sentiu-se só e os deuses deram-lhe um filho, que ela pariu pelo umbigo, e
chamou-se Rio. O filho que cresceu, atravessou a África, foi desaguar no mar e
abriu os braços que se ramificaram. Cada ramificação representou um filho novo,
com o de nome: Missouri, Amazonas, Mississipi e Rio de La Plata.
Com a primeira
árvore nascida em África, um imbomdeiro, Iemenjá fez uma grande canoa e nela
alojou todas outras vozes que desciam de outros rios: o Congo, o Niger, o Nilo,
o Zambeze, o Zaíre e o Kwanza e disse: tu és o meu filho, o homem africano, que
partiu, pelo rio de Iemenjá, cantando a canção da esperança com o coração
representado por uma grande maraca: não te esqueças, não te esqueças
“Blackground”… e assim termina a peça.
A morte do Milo Mac-Mahon, ocorrida no dia 20 de
Janeiro de 1985, abalou profundamente Raul Indipwo, o que provocou o fim do
duo. Nesse mesmo ano Raul pretendia levar a peça Blackground à Broadway. Raul
afasta-se dos palcos, durante cerca de dois anos. “Não deixem morrer a imagem
do ‘Duo Ouro Negro’”, aconselhava, consternada, Anália Victória Pereira
Mac-Mahon, irmã de Milo.
Raul Indipwo,
desta vez a solo, renasce com os “Irmãos Verdade” e o “Grupo Raízes”, cantando
em Conacry, Dakar e Lagos e participa no FENACULT (1987), em Luanda. Grava
“Meninos de oiro” (1989) e “Sô Santo” (1997) e cria a Fundação Ouro Negro, em
homenagem a Milo, instituição filantrópica, vocacionada para o apoio
profissional e artístico da juventude, tendo acolhido, em Lisboa, membros do
conjunto Afra Sound Star e os Jovens do Hungo.
Raul Indipwo
comemorou os 50 anos de carreira, no dia 23 de Maio de 2005, com Bonga, Marisa,
Luís Represas e Pedro Jóia.
Nostálgico e
decidido a viver definitivamente em Angola, Raul Indipwo faleceu no dia 4 de
Junho de 2006, vítima de um linfoma em estado muito avançado.
Com a sua morte,
terminou um dos capítulos mais impetuosos da história da música angolana,
marcado por um impressionante legado artístico e discográfico.
Vamos recordar o Duo
Ouro Negro, nesta actuação magnífica em 1984, onde Raul e Milo apresentam o
álbum "Aos Nossos Amigos", que viria a ser o seu último disco de
originais.
Dele vamos ficar
com a canção; “Camisa de amigo”.
- Bom domingo!
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home