NO CARNAVAL NINGUÉM LEVA A MAL
NO
CARNAVAL
NINGUÉM
LEVA A MAL
Desde miúdo que ouço
dizer, que pelo Carnaval ninguém leva a mal, por mais extrovertida que seja a
brincadeira carnavalesca.
Se hoje assistimos ao
Carnaval Trapalhão de Santiago, com crítica social e política à mistura, que
arrasta multidões para as ruas da cidade para verem o Carnaval passar, tempos
houve em que a censura não permitia tais veleidades.
Mas em tempos em que
não havia subsídios nem ajudas para estas coisas, a imaginação e a amizade
tinham que cobrir este défice de pagode.
Foi o que se passou nos
anos 30 do século passado, no Campo de Torres Novas.
Veio a Penafiel, um
conjunto feminino de futebol com o título de Grupo Feminino da Lapa da cidade
do Porto, que percorreu várias terras no norte do país, numa demonstração desta modalidade
desportiva no feminino.
Tal novidade, atraiu ao
campo de jogos do Sport uma multidão de penafidelenses, muitos deles mais
interessados em apreciar a beleza das jovens, do que propriamente os seus dotes
futebolísticos.
Perante isto, a
rapaziada do Sport, em conversa com o fundador do clube José Nogueira,
resolveram na terça-feira de Carnaval disputar uma partida de futebol entre um
grupo de jovens vestidos de mulheres e uma formação de elementos do referido
clube.
Para confundir a
assistência, foi anunciado o desafio, sendo a equipa feminina baptizada de
Grupo Feminino da Lapa (Croca).
Aqui fica a
constituição desta equipa:
Bernardino José de
Oliveira
João Oliveira
Augusto da Silva
Pereira (Cristina)
Abílio Luís do Fundo
Augusto da Mota Ribeiro
Alberto Vieira
Manuel da Silva Almeida
José da Silva Mendes
(Camões)
António Gomes (Toneca
do Tito)
Joaquim Teixeira Mendes
(Lixa)
José Mendes Magalhães
A malta “feminina”, foi
transportada numa caminheta de carga preparada para o efeito desde a sede do
Sport na Rua do Paço, fazendo a sua entrada triunfal no recinto de jogos ao som
de foguetes de três estalos, baratos mas usados nas borgas.
O árbitro foi Zulmiro
Costa, empregado da barbearia Adriano situada ainda hoje no começo da Rua
Alfredo Pereira.
Apresentou-se na sede
do clube vestido de árabe, e montado numa jerica. O apito usado era um chifre
de boi, que soprado emitia um som que era mais próprio para caçadas do que para
desafios de futebol.
Na brincadeira tomou
também parte um antigo jogador do Sport Clube de Penafiel, António Ferreira
Nunes, que se apresentou vestido de lavrador com chapéu largo e varapau na mão.
O triunfo foi da equipa
travestida por uma bola a zero.
No final do encontro,
subiram novamente para a camioneta percorrendo as ruas da cidade, jogando o
Carnaval com feijão, tremoço, e outros artigos permitidos e em uso nesse tempo.
Agora o Carnaval sai à
rua sambando, numa nudez por vezes muito acentuada, neste país de tanga, onde a
monarquia continua a reinar, exibindo cada cortejo carnavalesco, o seu Rei e a
sua Rainha, muito mais belos que a Merkel das Bolas de Berlim, e o Sr. Silva
dos Pasteis de Belém.
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