CONCURSO YÉ – YÉ
MÚSICAS
DOS ANOS 60
CONCURSO YÉ – YÉ
NO TEATRO MONUMENTAL EM LISBOA
Fachada do Teatro Monumental em Lisboa |
Enquanto
as forças armadas lutavam em três palcos de guerra no continente africano (Guiné,
Angola e Moçambique), no Teatro Monumental, foi organizado o concurso Yé-Yé, pelo jornal "O
Século" a favor das Forças Armadas no Ultramar, através do Movimento
Nacional Feminino, com a colaboração da Radiotelevisão Portuguesa, Emissora
Nacional, Rádio Clube Português e do empresário Vasco Morgado.
Este
concurso de ritmos modernos da nova vaga, realizou-se através de eliminatórias,
desde o dia 28 de Agosto de 1965 a 30 de Abril de 1966, actuando bandas de todo
o Portugal, incluindo ilhas, Moçambique e Angola.
Dançando ao som do Yé Yé, em moda dos anos 60 |
Avaliados
por dois júris, um técnico e um de ié-ié, constituídos por "distintos
músicos profissionais e um grupo de jovens entusiastas entendidos em
ié-ié".
O júri
técnico foi constituído pelo maestro Jorge Costa Pinto, Thilo Krasmann, Mário
Simões e José Luís Simões. A partir das meias-finais, presidiu o maestro
Eduardo Loureiro, da Emissora Nacional.
E o júri
ié-ié era formado por Emídio Aragão Teixeira (presidente), do Instituto
Superior Técnico, Carlos Neves Ferreira, da Faculdade de Ciências, Maria
Bernardo Macedo e Vale, António Martins da Cruz (futuro ministro dos Negócios
Estrangeiros, em 2003), Jaime Lacerda e Diogo Saraiva e Sousa, todos da
Faculdade de Direito de Lisboa, Maria Avelino Pedroso, do Instituto Superior de
Agronomia, e Ricardo Espírito Santo e Silva Ricciardi (7º ano dos liceus).
O
regulamento do concurso exigia que pelo menos uma canção fosse original e
cantada em português. Cada conjunto podia apresentar até 4 canções (tempo
máximo de 3 minutos cada) para um tempo de actuação máximo de 20 minutos.
Os prémios, eram
os seguintes:
1.º - 15.000
Escudos.
2.º - 10.000
Escudos.
3.º - 5.000 Escudos.
Além disso
havia a taça do programa "Passatempo Juvenil", "a Philips
oferecia uma telefonia e uma Philishave, a Casa Gouveia Machado uma viola Eko
de 12 cordas no valor de 4.360$00, um microfone Shure no valor de 2.520$00 e
uma tarola Sonor, com suporte, no valor de 1.720$00, o Salão Musical de Lisboa
oferecia uma bateria, uma viola, uma guitarra, uma pandeireta e três harmónicas
de boca, a Casa Galeão uma mala de viagem, a Casa Pinheiro Ribeiro cinco metros
de tecido, a Casa J. Nunes Correia seis gravatas, a Sapataria Lord um par de
sapatos, a Loja das Meias cinco gravatas e a Casa J. Pires Tavares dez frascos
de água-de-colónia.
A primeira
eliminatória realizou-se a 28 de Agosto de 1965 e foi apresentada por Henrique
Mendes, onde participaram Os Martinis de Elvas, Os Átomos de Lisboa, Os Dakotas
de Almada, Magic Strings de Oeiras e os Jovens do Ritmo de Leiria.
"O
público entregou-se vibrantemente ao espectáculo e estabeleceu tal gritaria,
tantas palmas, assobios e cantorias que em dados momentos era difícil
distinguir os dois campos de som: o palco e a sala".
As
eliminatórias seguiram-se e contaram com a participação de quase cem bandas,
entre as quais os G-Men do Entroncamento, que mais tarde deram origem à
Filarmónica Fraude, os Black Boys de Santarém, Os Gringos de Torres Novas, Os
Monstros e Os Diabólicos de Lisboa, Flechas de Oliveira de Azeméis, Guitarras
de Fogo da Caparica, Penumbras e Os Morcegos de Olhão, Os Clips da Trafaria, Os
Ratones de Vila Real de Santo António, os Boys de Coimbra que dariam origem aos
Álamos e Conjunto Universitário Hi-Fi, Os Neptunos do Montijo, entre muitos
outros.
Actuação do conjunto Os Claves |
Do público,
lançavam sobre os concorrentes milho, feijão e "os mais excitados partiram
cadeiras, atiraram tomates, batatas e, incrível... Pedras!", o que levou a
que fosse colocado um cartaz no palco com a seguinte mensagem:
"Atenção! Barulho que não
permita o júri ouvir os conjuntos, objectos atirados para o palco, distúrbios
na sala são motivos para a expulsão do espectador que assim proceder sem que a
organização lhe devolva a importância do bilhete. A juventude pode ser alegre
sem ser irreverente".
Um conjunto
que se começou a distinguir foram “Os
Sheiks” que venceram a 7ª eliminatória do Concurso Yé-Yé que se realizou no
Teatro Monumental, em Lisboa, no dia 09 de Outubro de 1965. Obtiveram 43
pontos. Em 2º lugar ficaram os Tubarões, de Viseu,
com 26 pontos, e em 3º os Galãs, do
Porto, com 21 pontos. O 4º lugar ficou para os Kzares, de Aveiro, com 17 pontos, e o 5º e último para os Jovens do Ritmo, de Amora-Seixal, com
17 pontos.
Sobre a
apresentação dos Sheiks, escreveu a imprensa da época:
Companheiros de paródias, resolveram, há um ano, formar um conjunto yé-yé. Cada um veste conforme o seu gosto. Não se ocupam com a indumentária, mas sim com a qualidade das músicas que interpretam.
Companheiros de paródias, resolveram, há um ano, formar um conjunto yé-yé. Cada um veste conforme o seu gosto. Não se ocupam com a indumentária, mas sim com a qualidade das músicas que interpretam.
Apresentaram
"Summertime", "You Got Up Truth", "It Only Cust a
Dime" e "Ticket To Ride". Foram os grandes vencedores desta sétima eliminatória.
Os 43 pontos alcançados mereceram-nos quer individualmente, quer no respeitante
ao conjunto.
A identidade dos Sheiks é a seguinte:
A identidade dos Sheiks é a seguinte:
Carlos
Mendes, viola acompanhamento e vocalista, 18 anos, estudante, Fernando Chaby
Miranda, viola solo, 19 anos, estudante, Eduardo (Edmundo) Brito da Silva, viola
baixo, 26 anos, e Paulo de Carvalho, bateria, 18 anos, estudante.
Os Sheiks, com Carlos Mendes em 1.º plano. |
Os Sheiks
apuraram-se para a final com 49 pontos, ao vencerem a primeira eliminatória das
meias-finais que se realizou no Teatro Monumental, em Lisboa, no dia 08 de
Janeiro de 1966, ao eliminarem os Chinchilas (Carcavelos), Demónios Negros
(Funchal), Diamantes Negros (Sintra), Tártaros (Porto), Bárbaros (Arcos de
Valdevez) e os Sombras (Parede).
Cartaz da 1.ª Meia Final |
1ª
meia-final (08JAN66):
1º - Sheiks (Lisboa) - 49 pontos;
1º - Sheiks (Lisboa) - 49 pontos;
2º - Chinchilas (Carcavelos) - 33,5 pontos;
3º - Demónios Negros (Funchal) - 32 pontos;
3º - Demónios Negros (Funchal) - 32 pontos;
4º -
Diamantes Negros (Sintra) - 32 pontos;
5º -
Tártaros (Porto) - 30 pontos;
6º -
Bárbaros (Arcos de Valdevez) - 20,5 pontos;
7º - Os
Sombras da Parede (Parede) - 14,5 pontos.
2ª meia-final (15JAN66):
1º - Saints (futuros Claves, Lisboa) - 47 pontos;
2ª meia-final (15JAN66):
1º - Saints (futuros Claves, Lisboa) - 47 pontos;
2º - Jets (Lisboa) - 34,5 pontos;
3º - Tubarões (Viseu) - 33,5 pontos;
4º - Cometas
Negras (Castelo Branco) - 28,5 pontos;
5º - Kímicos
(Lisboa) - 25,5 pontos;
6º - Boys
(Coimbra) - 24,5 pontos.
Os Monstros (Lisbos) e os Krawas (Évora) não compareceram.
3ª meia-final (22JAN66):
1º - Espaciais (Porto) - 42 pontos;
Os Monstros (Lisbos) e os Krawas (Évora) não compareceram.
3ª meia-final (22JAN66):
1º - Espaciais (Porto) - 42 pontos;
2º - Snobs
(Setúbal) - 29 pontos;
3º - Bábulas
(Lisboa) - 27,5 pontos;
4º -
Guitarras de Fogo (Caparica) - 25 pontos;
6º - Krawas
(Évora) - 11,5 pontos.
4ª meia-final (29JAN66):
1º - Ekos (Lisboa) - 46 pontos;
4ª meia-final (29JAN66):
1º - Ekos (Lisboa) - 46 pontos;
2º - Clips
(Lisboa) - 24,5 pontos;
3º - Twist
Star (Póvoa de Santa Iria) - 21 pontos;
4º -
Beatniks (Lisboa) - 19,5 pontos;
5º -
Neptunos (Montijo) - 14 pontos.
5ª meia-final (23ABR66):
1º - Rocks (Angola) - 45 pontos;
5ª meia-final (23ABR66):
1º - Rocks (Angola) - 45 pontos;
2º - Night Stars (Moçambique) -
37,5 pontos;
3º - Lordes
(Guiné) - 24 pontos;
4º - Ritmos
Cabo-Verdianos (Cabo Verde) - 13 pontos.
Comunicado dos Sheiks, justificando a sua falta de comparência na final do concurso. |
Cartaz anunciando Os Sheiks em Coimbra |
Os
Sheiks viriam a falhar a final no dia 30 de Abril de 1966, por terem que actuar
nesse dia, num espectáculo integrado na Queima das Fitas de Coimbra.
Vencedores do concurso de música yé-yé realizado no
Teatro Monumental em 1966, e especialistas em cantar em inglês os grandes
êxitos da época, os Claves são também lembrados pela gravação da balada Crer,
em português, escrita por Luís Pinto de Freitas propositadamente para a final
daquele concurso.
A história dos Claves começa quando em 1965 Luís de
Freitas Branco, João Valeriano e Alexandre Corte Real, formam um trio a que dão
o nome de The Saints. Com a saída do baterista e a entrada de novos elementos,
os Saints passam a ser cinco:
OS CLAVES |
·
Luís Pinto
de Freitas, viola solo e voz
·
Luís de
Freitas Branco, viola ritmo e voz
·
João
Valeriano, baixo e voz
·
João
Ferreira da Costa, teclas e voz
·
José
Atouguia, bateria
O que disse
a imprensa na época:
A
final do Grande Concurso Yé-Yé teve lugar no Teatro Monumental em 30 de Abril
de 1966, após o que o Jornal O Século publicou: “Explosão Juvenil no
Monumental”. O Diário de Notícias titulou “Final Yé-Yé: delírio e pandemónio”,
anunciando em caixa «O melhor entre 100: O conjunto Os Claves».
O
artigo do DN dizia: Noite yé-yé de delírio. Os ritmos modernos viram ontem à
noite, de forma inequívoca, empolgante, a confirmação do seu êxito junto das
camadas juvenis. Abertas as bilheteiras, cedo se esgotou a lotação da ampla
sala de espectáculos. Os aplausos foram indescritíveis. Quentes, entusiastas,
intermináveis. O Teatro Monumental vibrou como nunca se viu. Terminou, em
autêntico delírio, a grande maratona de música yé-yé que, desde Agosto findo,
através da actuação de cerca de 100 conjuntos, da Metrópole e Ultramar,
alvoroçou milhares de jovens, no decurso das várias eliminatórias de apuramento
e meias-finais realizadas sobre a égide do Grande Concurso Yé-Yé.
Cartaz anunciando a final do concurso |
A classificação final ficou assim ordenada:
·
1.° Claves,
55 pontos (o máximo possível)
2.° Rocks (de Angola, com Eduardo Nacimento), 45
3.° Night Stars (de Moçambique), 39,5
4.° Jets, 35
5.° Ekos, 29,5
6.° ChinchiIas, 29
7.° Espaciais, 18
8.° Tubarões, 18.
2.° Rocks (de Angola, com Eduardo Nacimento), 45
3.° Night Stars (de Moçambique), 39,5
4.° Jets, 35
5.° Ekos, 29,5
6.° ChinchiIas, 29
7.° Espaciais, 18
8.° Tubarões, 18.
Mas o mais bem-sucedido
dos grupos Yé Yé português, foram “Os Sheiks”, que em 1965 gravam Missing You,
single que também foi editado em Espanha, Inglaterra e França. Foi o maior
fenómeno da música pop portuguesa da década de 60, havendo até quem os apelidasse
os Beatles portugueses.
Bom domingo!
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