13 janeiro 2013

CONCURSO YÉ – YÉ



MÚSICAS DOS ANOS 60


CONCURSO YÉ – YÉ

NO TEATRO MONUMENTAL EM LISBOA
Fachada do Teatro Monumental em Lisboa

Enquanto as forças armadas lutavam em três palcos de guerra no continente africano (Guiné, Angola e Moçambique), no Teatro Monumental, foi organizado o concurso Yé-Yé, pelo jornal "O Século" a favor das Forças Armadas no Ultramar, através do Movimento Nacional Feminino, com a colaboração da Radiotelevisão Portuguesa, Emissora Nacional, Rádio Clube Português e do empresário Vasco Morgado.

Este concurso de ritmos modernos da nova vaga, realizou-se através de eliminatórias, desde o dia 28 de Agosto de 1965 a 30 de Abril de 1966, actuando bandas de todo o Portugal, incluindo ilhas, Moçambique e Angola.

Dançando ao som do Yé Yé, em moda dos anos 60

Avaliados por dois júris, um técnico e um de ié-ié, constituídos por "distintos músicos profissionais e um grupo de jovens entusiastas entendidos em ié-ié".
O júri técnico foi constituído pelo maestro Jorge Costa Pinto, Thilo Krasmann, Mário Simões e José Luís Simões. A partir das meias-finais, presidiu o maestro Eduardo Loureiro, da Emissora Nacional.

E o júri ié-ié era formado por Emídio Aragão Teixeira (presidente), do Instituto Superior Técnico, Carlos Neves Ferreira, da Faculdade de Ciências, Maria Bernardo Macedo e Vale, António Martins da Cruz (futuro ministro dos Negócios Estrangeiros, em 2003), Jaime Lacerda e Diogo Saraiva e Sousa, todos da Faculdade de Direito de Lisboa, Maria Avelino Pedroso, do Instituto Superior de Agronomia, e Ricardo Espírito Santo e Silva Ricciardi (7º ano dos liceus).

O regulamento do concurso exigia que pelo menos uma canção fosse original e cantada em português. Cada conjunto podia apresentar até 4 canções (tempo máximo de 3 minutos cada) para um tempo de actuação máximo de 20 minutos.


Os prémios, eram os seguintes:
1.º - 15.000 Escudos.
2.º - 10.000 Escudos.
3.º - 5.000 Escudos.

Além disso havia a taça do programa "Passatempo Juvenil", "a Philips oferecia uma telefonia e uma Philishave, a Casa Gouveia Machado uma viola Eko de 12 cordas no valor de 4.360$00, um microfone Shure no valor de 2.520$00 e uma tarola Sonor, com suporte, no valor de 1.720$00, o Salão Musical de Lisboa oferecia uma bateria, uma viola, uma guitarra, uma pandeireta e três harmónicas de boca, a Casa Galeão uma mala de viagem, a Casa Pinheiro Ribeiro cinco metros de tecido, a Casa J. Nunes Correia seis gravatas, a Sapataria Lord um par de sapatos, a Loja das Meias cinco gravatas e a Casa J. Pires Tavares dez frascos de água-de-colónia.

A primeira eliminatória realizou-se a 28 de Agosto de 1965 e foi apresentada por Henrique Mendes, onde participaram Os Martinis de Elvas, Os Átomos de Lisboa, Os Dakotas de Almada, Magic Strings de Oeiras e os Jovens do Ritmo de Leiria.
"O público entregou-se vibrantemente ao espectáculo e estabeleceu tal gritaria, tantas palmas, assobios e cantorias que em dados momentos era difícil distinguir os dois campos de som: o palco e a sala".
As eliminatórias seguiram-se e contaram com a participação de quase cem bandas, entre as quais os G-Men do Entroncamento, que mais tarde deram origem à Filarmónica Fraude, os Black Boys de Santarém, Os Gringos de Torres Novas, Os Monstros e Os Diabólicos de Lisboa, Flechas de Oliveira de Azeméis, Guitarras de Fogo da Caparica, Penumbras e Os Morcegos de Olhão, Os Clips da Trafaria, Os Ratones de Vila Real de Santo António, os Boys de Coimbra que dariam origem aos Álamos e Conjunto Universitário Hi-Fi, Os Neptunos do Montijo, entre muitos outros.

Actuação do conjunto Os Claves

Do público, lançavam sobre os concorrentes milho, feijão e "os mais excitados partiram cadeiras, atiraram tomates, batatas e, incrível... Pedras!", o que levou a que fosse colocado um cartaz no palco com a seguinte mensagem:

"Atenção! Barulho que não permita o júri ouvir os conjuntos, objectos atirados para o palco, distúrbios na sala são motivos para a expulsão do espectador que assim proceder sem que a organização lhe devolva a importância do bilhete. A juventude pode ser alegre sem ser irreverente".

Um conjunto que se começou a distinguir foram “Os Sheiks” que venceram a 7ª eliminatória do Concurso Yé-Yé que se realizou no Teatro Monumental, em Lisboa, no dia 09 de Outubro de 1965. Obtiveram 43 pontos. Em 2º lugar ficaram os Tubarões, de Viseu, com 26 pontos, e em 3º os Galãs, do Porto, com 21 pontos. O 4º lugar ficou para os Kzares, de Aveiro, com 17 pontos, e o 5º e último para os Jovens do Ritmo, de Amora-Seixal, com 17 pontos.
Sobre a apresentação dos Sheiks, escreveu a imprensa da época:

Companheiros de paródias, resolveram, há um ano, formar um conjunto yé-yé. Cada um veste conforme o seu gosto. Não se ocupam com a indumentária, mas sim com a qualidade das músicas que interpretam.
Apresentaram "Summertime", "You Got Up Truth", "It Only Cust a Dime" e "Ticket To Ride". Foram os grandes vencedores desta sétima eliminatória. Os 43 pontos alcançados mereceram-nos quer individualmente, quer no respeitante ao conjunto.

A identidade dos Sheiks é a seguinte:
Carlos Mendes, viola acompanhamento e vocalista, 18 anos, estudante, Fernando Chaby Miranda, viola solo, 19 anos, estudante, Eduardo (Edmundo) Brito da Silva, viola baixo, 26 anos, e Paulo de Carvalho, bateria, 18 anos, estudante.

Os Sheiks, com Carlos Mendes em 1.º plano.

Os Sheiks apuraram-se para a final com 49 pontos, ao vencerem a primeira eliminatória das meias-finais que se realizou no Teatro Monumental, em Lisboa, no dia 08 de Janeiro de 1966, ao eliminarem os Chinchilas (Carcavelos), Demónios Negros (Funchal), Diamantes Negros (Sintra), Tártaros (Porto), Bárbaros (Arcos de Valdevez) e os Sombras (Parede).

Cartaz da 1.ª Meia Final
1ª meia-final (08JAN66):

1º - Sheiks (Lisboa) - 49 pontos;
2º - Chinchilas (Carcavelos) - 33,5 pontos;
3º - Demónios Negros (Funchal) - 32 pontos;
4º - Diamantes Negros (Sintra) - 32 pontos;
5º - Tártaros (Porto) - 30 pontos;
6º - Bárbaros (Arcos de Valdevez) - 20,5 pontos;
7º - Os Sombras da Parede (Parede) - 14,5 pontos.

2ª meia-final (15JAN66):

1º - Saints (futuros Claves, Lisboa) - 47 pontos;
2º - Jets (Lisboa) - 34,5 pontos;
3º - Tubarões (Viseu) - 33,5 pontos;
4º - Cometas Negras (Castelo Branco) - 28,5 pontos;
5º - Kímicos (Lisboa) - 25,5 pontos;
6º - Boys (Coimbra) - 24,5 pontos.

Os Monstros (Lisbos) e os Krawas (Évora) não compareceram.

3ª meia-final (22JAN66):

1º - Espaciais (Porto) - 42 pontos;
2º - Snobs (Setúbal) - 29 pontos;
3º - Bábulas (Lisboa) - 27,5 pontos;
4º - Guitarras de Fogo (Caparica) - 25 pontos;
6º - Krawas (Évora) - 11,5 pontos.

4ª meia-final (29JAN66):

1º - Ekos (Lisboa) - 46 pontos;
2º - Clips (Lisboa) - 24,5 pontos;
3º - Twist Star (Póvoa de Santa Iria) - 21 pontos;
4º - Beatniks (Lisboa) - 19,5 pontos;
5º - Neptunos (Montijo) - 14 pontos.

5ª meia-final (23ABR66):

1º - Rocks (Angola) - 45 pontos;
2º - Night Stars (Moçambique) - 37,5 pontos;
3º - Lordes (Guiné) - 24 pontos;
4º - Ritmos Cabo-Verdianos (Cabo Verde) - 13 pontos.


Comunicado dos Sheiks, justificando a sua falta de comparência na final do concurso.
Cartaz anunciando Os Sheiks em Coimbra

Os Sheiks viriam a falhar a final no dia 30 de Abril de 1966, por terem que actuar nesse dia, num espectáculo integrado na Queima das Fitas de Coimbra.




Vencedores do concurso de música yé-yé realizado no Teatro Monumental em 1966, e especialistas em cantar em inglês os grandes êxitos da época, os Claves são também lembrados pela gravação da balada Crer, em português, escrita por Luís Pinto de Freitas propositadamente para a final daquele concurso.

A história dos Claves começa quando em 1965 Luís de Freitas Branco, João Valeriano e Alexandre Corte Real, formam um trio a que dão o nome de The Saints. Com a saída do baterista e a entrada de novos elementos, os Saints passam a ser cinco: 

OS CLAVES

·         Luís Pinto de Freitas, viola solo e voz
·         Luís de Freitas Branco, viola ritmo e voz
·         João Valeriano, baixo e voz
·         João Ferreira da Costa, teclas e voz
·         José Atouguia, bateria

O que disse a imprensa na época:

A final do Grande Concurso Yé-Yé teve lugar no Teatro Monumental em 30 de Abril de 1966, após o que o Jornal O Século publicou: “Explosão Juvenil no Monumental”. O Diário de Notícias titulou “Final Yé-Yé: delírio e pandemónio”, anunciando em caixa «O melhor entre 100: O conjunto Os Claves».

O artigo do DN dizia: Noite yé-yé de delírio. Os ritmos modernos viram ontem à noite, de forma inequívoca, empolgante, a confirmação do seu êxito junto das camadas juvenis. Abertas as bilheteiras, cedo se esgotou a lotação da ampla sala de espectáculos. Os aplausos foram indescritíveis. Quentes, entusiastas, intermináveis. O Teatro Monumental vibrou como nunca se viu. Terminou, em autêntico delírio, a grande maratona de música yé-yé que, desde Agosto findo, através da actuação de cerca de 100 conjuntos, da Metrópole e Ultramar, alvoroçou milhares de jovens, no decurso das várias eliminatórias de apuramento e meias-finais realizadas sobre a égide do Grande Concurso Yé-Yé.

Cartaz anunciando a final do concurso

A classificação final ficou assim ordenada:
·         1.° Claves, 55 pontos (o máximo possível)
2.° Rocks (de Angola, com Eduardo Nacimento), 45
3.° Night Stars (de Moçambique), 39,5
4.° Jets, 35
5.° Ekos, 29,5
6.° ChinchiIas, 29
7.° Espaciais, 18
8.° Tubarões, 18. 





Mas o mais bem-sucedido dos grupos Yé Yé português, foram “Os Sheiks”, que em 1965 gravam Missing You, single que também foi editado em Espanha, Inglaterra e França. Foi o maior fenómeno da música pop portuguesa da década de 60, havendo até quem os apelidasse os Beatles portugueses.


Bom domingo!