10 maio 2017

A MOURA ENCANTADA
DO OUTEIRO DA CRUZ

Outeiro ainda sem a Cruz em 1931

Ainda voltando à freguesia de Bustelo, próximo do Solar de Cabanelas e a ele vinculado, ergue-se, proeminente, um monte geometricamente cónico, denominado por: Outeiro da Cruz ou Outeiro da Moura.

O cristão Manuel José Ribeiro vigiando o tesouro da Moura Encantada


Hoje encontra-se no cimo do morro um penedo granítico, cravada pelo pé, uma simples cruz de pedra inclinada a 75º para sul. É esta a cruz que serve de topónimo ao local.

Segundo o conceito popular, a cruz foi ali implantada, com aquela inclinação, para indicar aos Cristãos o quadrante perigoso donde poderiam surgir os infiéis.


Ora a direcção que o pequeno cruzeiro nos aponta na sua rígida flexão é a zona castreja situada entre Croca, Santa Marta e o Monte da Senhora da Piedade (vulgarmente chamado de Sameiro), sobranceiro à cidade de Penafiel.

Segundo a lenda, debaixo do cume do Outeiro da Cruz existe uma capela na qual existe um tesouro com pedras preciosas e ouro, pertencentes a um fabuloso rei árabe que ali o deixou a guardar a uma filha, formosíssima princesa, moura encantada que vagueia, durante a noite, pela crista do outeiro, envolta numa poalha de luz irreal.

Todos sabemos que Portugal é um país de mouras encantadas. Do Minho ao Algarve não faltam as histórias tristes ou dramáticas, mas sempre poéticas e encantadoras, de mouras e tesouros.

Assim, para retratar esta lenda, o Dr. António de Meneses compôs uma interessante poesia intitulada:

A Moura Encantada 
do Outeiro da Cruz.”

Tu não acreditas em contos de fadas,
De bruxas que venham banhar-se nas fontes;
Mas olha que há mouras que estão encantadas,
Por entre rochedos, no cimo dos montes.

Na aldeia onde moro – o caso é bem certo -
Há uma que vive no “Outeiro da Cruz”;
Não falta quem tenha já visto de perto
Seus olhos tão meigos, brilhantes de luz.

Há quem a tem visto de tarde, ao sol-posto,
Sentada na relva, cismando sozinha...
E dizem que é bela, que mostra no rosto
Bem cheio de encantos – um ar de rainha;
Também a têm visto de noite, espelhando
-Cobrindo-lhe o corpo mimosos cendais -
Sem mais outro esforço que a voz do seu mando,
Mil jóias de preço, rubis e corais.

Anéis e pulseiras, mil cousas em ouro...
Que ao longe se avistam por cima das rochas,
À luz que dardejam naquele tesouro
Seus olhos brilhantes parecidos com tochas;

Alguém assegura que a moura, sozinha,
De noite velando por tanta riqueza,
No cimo do Outeiro passeia e caminha,
Soltando queixumes de infinita tristeza;

E todos afirmam que, à luz da alvorada,
A moura desfaz-se qual doce visão,
Por entre os rochedos vivendo encantada,
Enquanto ali veja o Sinal do cristão.

Não venhas dizer-me que creio em cantigas,
É crença arreigada que tem muitos anos.
Jamais – nem brincando! Tolero que digas
Que as crenças do povo são cheias de enganos

Eu não acredito que existam bruxedos,
Ou génios que nadem no meio da luz;
Não creio em duendes, em fadas ou medos...
Mas creio na moura do “Outeiro da Cruz”

Avista-se ao longe, de rosas coberto,
Um grande Penedo da Moura chamado;
Se não acreditas, vem vê-lo de perto
E ficas sabendo que é facto provado.

Enfim, conversando com toda a franqueza
De amigo sincero e leal coração,
Inda hás-de dizer-me: Já tenho a certeza!
A Moura encantada não é ilusão.


Se hoje ficamos com este poema sobre o Outeiro da Cruz, prometo que na próxima postagem no blogue Penafiel Terra Nossa, publicar mais um poema de 1902, que retrata também a Quinta de Cabanelas.