17 maio 2017

SONHO LONGÍNQUO

CASA 
E  QUINTA 
DE CABANELAS
SONHO 
LONGÍNQUO



Ao contrário de certos políticos da nossa praça, aqui com a minha pessoa o prometido é cumprido, por isso aqui fica um poema sobre a Casa e Quinta de Cabanelas, com o título Sonho Longínquo.

A composição poética é feita em estrofes de seis versos de sete sílabas e rimas simples, ou seja em sextilhas, e embora não esteja assinada pelo seu autor, no final da mesma está datada com:
Porto – Abril 1902.

Por tal motivo, no mês passado fez 115 anos, em que este Sonho Longínquo foi escrito.


Casinhas brancas da minha aldeia
Que em tantas noites de lua cheia
Me consoláveis só de vos ver,
Bons castanheiros tão meus amigos,
Campos repletos de loiro trigo,
Horas tão lindas do anoitecer.

Braços algentes da Cruz do Outeiro,
Copado cedro tão altaneio
Que há tantos anos caíu no chão,
Verdes loireiros do fim da quinta
Com tanta sombra que inda se pinta
Nos sonhos vagos do coração.


Pequenas grutas, Alto da Vinha,
Onde por vezes eu me detinha
Alguns instantes ao pôr-do-sol,
Quando sentia voar dispersos
Entre saudades meus pobres versos
Ouvindo o canto do rouxinol.

Antigo pátio, grande terreiro
Em muitas léguas sendo o primeiro
Nessa grandeza que não tem par,
Ruas extensas, largo de buxo,
Jardim tão lindo que ao seu repuxo
Nos atraía sem descansar.


Águas tão puras, tão rumorosas,
Negros ciprestes cheios de rosas,
Lembrais-me sempre com todo o amor,
Como eu vos amo! Como eu vos quero!
Só em lembrar-vos me desaltero
Desta saudade dum sonhador...

Quando me lembro de alguns instantes
Junto da Fonte dos Estudantes
E nos baloiços do laranjal,
Inda estremeço e quase me iludo,
Sonhando sempre que vejo tudo
Na antiga forma tão natural.

Nossos criados – bonito bando! -
De pais e filhos iam ficando
Numa cadeia que dá prazer...
Tempo foi esse que mais não volta
- Rosa caída n'água revolta
Com tanto viço não hás-de ver.

Inda me lembro de alguns velhinhos
Que nos tratavam com mil carinhos
Que nos amavam quais filhos seus,
Tão pressurosos, tão dedicados,
Que me recordo dos seus cuidados
Nalgumas rezas que faço a Deus.


Que enorme gosto nesses folares,
Quando nós íamos pelos lugares
Num alvoroço todo febril...
Com que saudades me lembro agora
Desses momentos da nossa aurora,
Daqueles dias do nosso Abril!

Bancos de pedra do fim da quinta
Duma beleza que mal se pinta,
Como eu vos quero com tanto amor!
Ai! só Deus sabe com que alegria
De novo agora vos pediria
Algum descanso reparador.

Porto – Abril de 1902

Com este poema podemos ver algumas vivências e a paisagem que se desfrutava na Casa e Quinta de Cabanelas nesse tempo longínquo, que para o autor tudo isto lhe parecia um sonho.


E pronto, aqui deixo um pouco de estória fora da história, deste recanto com encanto da freguesia de Bustelo.