25 março 2015

A FUNDAÇÂO DO PATRONATO DA SAGRADA FAMÍLIA



A FUNDAÇÂO DO PATRONATO
DA SAGRADA FAMÍLIA

Painel existente à porta da Sagrada Família

O Patronato da Sagrada Família, situado na Rua Direita N.º 87, na cidade de Penafiel, nasceu a 3 de Maio de 1943.

A fundação desta casa, foi com a finalidade de resgate das menores extraviadas, mas deveria abranger necessidades mais vastas da sociedade.

Germinara do fervor apostólico do ardoroso Jesuíta Padre Mariano Pinho e de D. Sílvia Cardoso, dois grandes Apóstolos, num retiro feito na então existente Casa de Retiros da Quintela, na freguesia de Guilhufe, deste concelho. 

D. Margarida Pinto Lopes de Amorim e D. Maria do Carmo Pinto Lopes de Amorim, maiores, solteiras, proprietárias, residentes na rua de Entre-os-Rios, freguesia de Eja, D. Laurinda Pinto Lopes de Amorim, viúva, proprietária, residente no lugar da Igreja, da freguesia de S. Miguel de Paredes e a prima destas D. Maria Teresa Pereira da Silva Correia de Vasconcelos, solteira, proprietária e moradora na Avenida Sacadura Cabral, n.° 22 desta cidade, comungando nessa mesma ideia de apostolado social, resolveram comprar edifício para assim poderem dar corpo à prestimosa iniciativa. 


Hesitou-se, ao princípio, entre o local da Tapada Sá Pereira à entrada da cidade e o actual edifício de rés-do-chão e dois andares com um pequeno quintal sito na Rua Direita, n.° 87 desta cidade. Por fim, as três irmãs Amorim já referidas adquiriram em seu nome este último imobiliário a Abílio de Queirós Magalhães e Meneses, viúvo, funcionário público e proprietário, morador na Quinta das Quintans, freguesia de Lodares, concelho de Lousada, por escritura de compra lavrada no Cartório Notarial de Penafiel, a fls. 11 do Livro n.° 79 A) no dia dez de Dezembro de 1942 pelo preço de vinte e cinco mil escudos, tendo por dificuldades havidas em fechar o contrato sido paga a mais a quantia de quinhentos escudos sobre o montante inicial. A sisa foi paga nesse mesmo dia da escritura, na Tesouraria das Finanças Públicas e registada a compra no dia quinze imediato na Conservatória do Registo Predial da cidade.

Iniciaram-se obras no edifício adquirido, porque sem as necessárias adaptações e arranjos nada se poderia realizar no sentido da protecção e recolhimento da rapariga extraviada. D. Maria Teresa, absorvida por outros interesses, não contava em colaborar.



A Primeira Sopa para Crianças Pobres

No dia três de Maio de 1943, sob a protecção da Sagrada Família foi inaugurada, a sopa para crianças pobres dos dois sexos. Tendo, a Ex.ma Senhora D. Sílvia Cardoso verificado o abandono em que viviam as crianças pobres dos bairros desta cidade, pensou organizar uma campanha de protecção às mesmas crianças e, para isso, com a ajuda das Ex.mas famílias Amorim, de Entre-os-Rios e Vasconcelos, de Penafiel, pensou começar pela sopa. Convidou a Ex.ma Senhora D. Maria Teresa Vasconcelos, senhora que já trabalhava na Obra do Resgate de Menores Extraviadas a fim desta senhora tornar à sua responsabilidade o fazer a distribuição da sopa, visto a Snr.a D. Sílvia ter a sua actividade presa a obras sociais e de apostolado na cidade de Lisboa.

Instava D. Sílvia Cardoso, convidando-a a preparar a Primeira Sopa para a Festa da Santa Cruz, dia 3 de Maio de 1943, às 18,30 horas. Regressou de Lisboa e veio perguntar se estava tudo pronto mas D. Maria Teresa não tinha nada feito, o que causou àquela natural arrelia. Uma hora depois volta a aparecer com uma saca de cenouras, batatas, cebolas, hortaliças, com o fim de confeccionar a sopa na cozinha da casa de D. Maria Teresa na Avenida Sacadura Cabral, n.° 22. 

Compraram-se para o efeito, seis tigelas e seis colheres.

Prédio onde foi servida a primeira sopa.
 
Veio o Digníssimo Coadjutor do Pároco de Penafiel benzer a Primeira Sopa, distribuída a seis crianças pobres em honra das Chagas de Nosso Senhor, celebradas nesse dia de Santa Cruz, a três de Maio de 1943. 

D. Maria Teresa ofereceu-se apenas para assistir à sua distribuição. Na cozinha do seu Palacete, durante cerca de um mês, continuou a ser confeccionada a sopa subindo o número de crianças, que dela se alimentavam, para perto de trinta. Como as obras andassem em curso, trouxeram-se duas pedras, adaptaram-se em cima dois ferritos para segurar a panela, ateou-se a fogueira. Principiou desta maneira primitiva, quase pré-histórica, a cozinhar-se a Sopa no edifício do Patronato da Sagrada Família. Ao fim de três meses aproximadamente as obras de adaptação terminaram e passou-se para a cozinha própria. O número de refeições distribuídas aumentava. Como fizesse falta um panelão, formulou-se o pedido para que Deus tocasse o coração de alguém no sentido de oferecer o necessário utensílio de cozinha e mais outros auxílios urgentes. Então a Casa se persuadiria de que a obra era de Deus e haveria coragem para prosseguir. Deus, a Suma Caridade, velava pela obra nascente. No dia seguinte, apareceu à porta um carro de bois carregado com um panelão de 70 litros, três tachos, uma panela, três dúzias de pratos sopeiros, três dúzias de pratos ladeiros, chávenas de café e de chá, copos, cálices, canecas, uma dúzia de lençóis, dezoito cobertores, uma dúzia de travesseiros, toalhas de mesa, toalhas de rosto, duas colheres grandes de cozinha, garfos, facas... Enfim tudo o que se requeria para uma casa. 

A resposta da Providência impressionou e causou mesmo grande emoção. Passado cerca de um mês servia-se já alimento ao meio-dia e à noite. Com o avolumar-se das canseiras incipientes, as pessoas responsáveis tinham de abdicar de outros afazeres para se devotarem a este encargo social de mérito. 


As primeiras cinco raparigas que entraram para internas

1.ª - Maria Clorinda Sousa, natural de Penafiel, 25 anos de idade. No dia dezanove de Março de 1943, já noite cerrada, veio bater à porta da Casa da Sagrada Família, ainda em obras, a Sr.a D. Arminda Mendes que se fazia acompanhar pela pobre Maria Clorinda Sousa. Esta rapariga, uma atrasada mental, era maltratada pela mãe que a espancava e nesse dia a tinha expulsado de casa. A rapariga que se encontrava bastante doente e cheia de fome, dormiu na rua por não ter onde se refugiar. Foi nessa ocasião que as portas desta Casa se abriram para receber a primeira protegida, em dia de S. José. 

2.ª - Na última semana de Abril de 1943 ficou internada nesta casa a menor Maria de Fátima.

3.ª - No mês de Maio de 1943 foi trazida a menor Henriqueta
.
4.ª – No mesmo mês de Maio de 1943, veio para esta casa a menor de 19 anos Maria da Glória
.
5.ª - No mês de Junho de 1943 foi trazida por sua mãe a esta casa, a menor de 16 anos Ana Sousa.

E assim se iniciou a Casa de Trabalho da Sagrada Família em Penafiel, também conhecida por Patronato da Sagrada Família.