ECLIPSE DO SOL VISTO EM PENAFIEL
ECLIPSE
DO SOL
VISTO EM PENAFIEL
NO DIA 17 DE ABRIL DE 1912
Populares a verem o eclipse junto ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade |
Quando eu era pequeno,
contava-me a minha avó, que houve uma vez um eclipse que se julgava ser o fim
do mundo.
Todos rezavam, mas a
certa altura do dia, tudo parecia que ia acabar. O Sol desapareceu, e até os
galináceos recolheram aos seus poleiros, no capoeiro, como se de noite se
tratasse.
Graças a Deus, dizia
ela benzendo-se nada passou de um valente susto, e o mundo continuou a girar
até aos dias de hoje.
Isto passou-se no dia
17 de Abril de 1912, quando os três astros Sol, Lua e Terra, resolvem estar
perfeitamente alinhados.
Segundo o observatório
de Greenwich, um dos locais onde se poderia observar melhor este eclipse total
do Sol, era na freguesia de Milhundos, no monte de Rande no concelho de
Penafiel.
Astrónomos Ingleses Bachoowse e Sharp dirigindo-se para Rande |
Assim, os astrónomos
ingleses Bachoowse e Scharp e Rossi, da Britiah Astronomical Associativa, que
se faziam acompanhar pelo interprete Mibet, dispuseram a sua aparelhagem a 300m
a oriente da igreja de Milhundos.
Neste mesmo local
estava também uma delegação do Liceu de Viana do Castelo composta pelos dr.
José de Jesus de Araújo, reitor e professor de geografia, dr. Thomaz Afonso
Felgueiras, professor de ciências e matemática e pelos alunos que constituíam a
5.ª classe José Gonçalves Amado, Sérgio Serra, Alfredo Guerra, Guilherme Silva,
Manuel Costa, Armando do Prado, Licínio de Oliveira, José Alves da Silva, José
Caldas, Francisco Mamede, Giraldo Dantas, Jorge Silvano, José Vieira e Edmundo
Guimarães.
Elementos da missão da Escola Naval |
Também se encontravam
em Penafiel para estudar e registar o fenómeno uma delegação de alunos da
Escola Naval, que se instalou em Caíde e nos arredores desta cidade, uma missão
de estudantes da Faculdade de Ciências de Lisboa, que se dispuseram desde o
alto de Duas Igrejas até Aperrela.
No Campo do Conde de
Torres Novas, fronteiriço ao quartel de Infantaria 32, ficaram a observar os
professores daquela Faculdade srs. Director Pedro José da Cunha, Eduardo Andréa
e Thomaz de Aquino. Esta missão vinha munida de instrumentos registadores,
trazendo para observações meteorológicas um termógrafo, um barógrafo e um
actinógrafo registador. Também traziam ainda um aparelho composto por duas
esferas, destinado a registar a descida da temperatura produzida pela ocultação
do Sol, para além de virem munidos de uma luneta e os alunos de binóculos e
relógios, cuja hora foi regulada pelo Observatório da Ajuda. Foi tirada, ainda
pela mesma missão, um aspecto da paisagem durante a totalidade do eclipse.
Esta missão era
composta pelos seguintes alunos de astronomia e mecânica celeste: Carvalho
Ferreira, Manoel Peres, Camacho Brandão, Bastos de Carvalho, E. Neves Ferreira,
Portugal Colaço, Correia de Mello, Bravo Henriques e Dias Costa.
Elementos da Escola Naval a observarem o fenómeno. |
10h 21m – Começou-se a
sentir um certo arrefecimento da temperatura.
11h 39m – A sombra
começa a cobrir as montanhas circunvizinhas, e ouve-se o latir dos cães, o
cantar dos galos, enquanto a escuridão se estende como um véu de trevas.
11h 43m e alguns
segundos, uma grande escuridão envolveu Penafiel, tendo-se nessa altura
verificado o aparecimento do planeta Vénus.
Segundo o professor
Eduardo Andréa a centralidade do eclipse, passou junto de Milhundos no local
onde estava previsto.
Às 11h 42m 6 segundos
foram vistas as chamadas contas de Baily, pequenas gotas luminosas à volta do
disco solar.
Durante o eclipse, a
temperatura baixou de 28º para 13º.
Muitos populares
observaram este eclipse do Sol, junto ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade.
Depois, o Sol lá
voltou, e segundo a minha avó, graças às rezas que por este país foram praticadas
com tanto fervor, que Deus fez novamente as pazes com os homens, e adiou “sine
die” o tão anunciado fim do mundo.
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