A CADEIA DE PENAFIEL
A
CADEIA DE PENAFIEL
Através do decreto-lei
nº 26.643, de 28 de Maio de 1936, a organização do sistema prisional, cria as
cadeias de comarcã.
Estas cadeias
destinavam-se ao cumprimento de penas até 3 meses, ou ainda à prisão preventiva
ou detenção à ordem da autoridade administrativa ou policial, aguardando
julgamento.
Com estas cadeias, não
só o preso e os detidos, cumpria a pena próximo dos seus, como era evitado o
transporte dos presos às cadeias centrais.
No 1.º Plano das
Construções Prisionais, datado de 8 de Maio de 1941, é contemplada a construção
da Cadeia da Comarcã de Penafiel.
Este imóvel foi
construído entre o tecido urbano da cidade de Penafiel, e a periferia
semi-rural.
A Cadeia da Comarcã de
Penafiel, foi idealizada pelo Arquitecto Luís Américo Xavier.
A secção dos homens era
constituída por:
16 celas individuais, 1
cela disciplinar, 2 casas de trabalho
com arrecadação, 2 pátios com recreio (um coberto e outro descoberto), Casas de
banho e retretes.
A das mulheres era
formada por:
4 – Celas individuais,
1 cela disciplinar, 1 Casa de trabalho com arrecadação, 2 pátios (1 coberto e
outro descoberto), casas de banho e retretes.
Na arrecadação dos
homens e das mulheres, existe um altar
fechado que somente se abrirá na ocasião de exercício de culto.
O primeiro andar era
destinado a habitação do carcereiro e família.
O Eng.º Electrotécnico
Mário de Araújo Leal foi o responsável pelo projecto da electrificação da
cadeia, enquanto o Eng.º Civil Luís Guinapo Ferronha, pela elaboração do estudo e
organização do "projecto tipo de saneamento.
O custo total desta obra,
foi de 893.790$00.
No dia 11 de Dezembro
de 1946, realizou-se o acto de entrega à Câmara Municipal de Penafiel do
edifício da nova cadeia, situada na Av. Pedro Guedes (hoje Rua Abílio Miranda)
na cidade de Penafiel.
No auto de entrega que
foi lavrado pelo aspirante da Câmara Sr. Fausto Ferreira, outorgaram os srs.
eng.º Tomaz Luiz Couceiro Leitão da Costa Ribeiro em representação do
Ministério das Obras Públicas e Comunicações, Dr. João de Deus Pinheiro
Farinha, Inspector dos Serviços Prisionais, e Fernando Correia Bastos, Chefe da
Secretaria da Câmara Municipal de Penafiel, e em representação da mesma.
O Sr. Dr. Jaime Alberto
de Sousa Alves Monteiro, Delegado do Procurador da República, nesta comarca,
assistiu ao acto.
Antes da cerimónia da
assinatura do auto foi por todos os presentes verificado o bom acabamento e
perfeito funcionamento das instalações do novo edifício, assim como o seu
mobiliário.
Este tipo de cadeias,
não previa instalações para a manufacturação de alimentos, sendo a alimentação
para os presos fornecida pela Casa de Pasto “A Sobreira”, situada no início da
Av. Araújo e Silva.
A senhora Lídia que
vivia no lugar do Cedro em Penafiel, transportava diariamente quer chovesse
quer fizesse sol, as marmitas com o rancho para os presos à cabeça num
tabuleiro de madeira da Sobreira até à cadeia, sendo por tal facto, conhecida
na urbe, como a rancheira.
Na véspera de Natal do
ano 1963 (fez há pouco 50 anos), os presos chamaram pelo carcereiro Sr. Grenho,
para abrir a cela disciplinar.
Dentro da cela,
encontra-se uma grande caixa de cartão com 16 imagens, uma cabana e 16
ovelhinhas, oferecidas pelo Padre Albano Ferreira de Almeida aos presos em
1961, para eles fazerem na época natalícia o presépio.
Assim os reclusos
empregam todo o seu saber e jeito e lá fazem o presépio.
Quando o Pároco lá
chegou, os presos rodearam-no a falar do presépio. O qual os ouvia com bondade.
Reunidos à volta do
presépio fez-lhes uma prática e rezou o terço com eles, dando no final do mesmo
o Menino Jesus a beijar.
Neste dia a senhora
Lídia foi dispensada do seu trabalho, já que a comezaina veio da Sagrada
Família.
Como é da praxe, lá
vinha o bacalhau, as batatas cozidas e as tronchudas, tudo à fartura.
A aletria vinha a
fumegar e cheirava a canela que consolava, as rabanadas douradas convidavam a
ser comidas.
Nesta ceia não faltou o
bolo-rei, regado com o vinho do Porto, e a ceia decorreu num ambiente de
alegria.
A senhora D. Maria
Teresa e o Padre Albano, andaram ao redor dos presos até ao fim da consoada.
Pelas 22 horas os presos
recolheram às suas celas, e foi assim o Natal dos presos há cinquenta anos.
Pela primeira vez, no
mês de Dezembro de 1965, a Cadeia de Penafiel não tinha presos, pelo que nesse
ano não houve presépio nem ceia de consoada, e o zeloso carcereiro Sr. Zacarias
do E. Santo Grenho teve para sua satisfação, de içar a bandeira branca, em
sinal que a cadeia não tinha hospedes.
Entretanto a Portaria n.º 374/72, de
7 de Julho do Ministério da Justiça, na alínea c), extingue a cadeia de
Penafiel a partir de 1 de Outubro de 1972.
c) Sejam extintas, a partir do mesmo dia, as Cadeias
Comarcãs de Sintra, Mafra, Vila Franca de Xira, Vila da Feira, Oliveira de
Azeméis, Arouca, Baião, Marco de Canaveses, Penafiel, Paredes, Paços de Ferreira, Santo Tirso, Vila do Conde,
Póvoa de Varzim, Vila Nova de Famalicão, Coimbra, Montemor-o-Velho, Figueira da
Foz, Cantanhede, Oliveira do Hospital, Arganil, Lousã, Figueiró dos Vinhos,
Ansião, Soure, Bragança, Vinhais, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Vila Flor,
Mogadouro, Miranda do Douro, Vimioso, Braga, Amares, Lousada, Barcelos,
Esposende, Vila Verde, Póvoa de Lanhoso, Vieira do Minho, Fafe, Celorico de
Basto, Cabeceiras de Basto, Amarante, Felgueiras, Beja, Mértola, Ourique,
Serpa, Moura, Cuba, Faro, Lagos, Portimão, Silves, Olhão e Tavira.
Ministério da Justiça, 23 de Junho de 1972. - O
Ministro da Justiça, Mário Júlio Brito de Almeida Costa.
Na década de 80, funcionaram no
edifício os Serviços Municipalizados de Água e Electricidade, até à sua integração
na EDP.
Actualmente encontram-se lá vários
departamentos da Câmara Municipal de Penafiel, assim como a empresa municipal,
Penafiel Verde.
Na mente de muitos penafidelenses,
aquele imóvel, ainda hoje é chamado de Cadeia, pois ainda há quem diga nos
tempos que correm, que vai à cadeia pagar a factura da água.
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