08 dezembro 2013

PECADO ORGANIZADO



PECADO ORGANIZADO

Seguindo orientações do Papa Paulo VI, que instituíra o primeiro dia do ano como Dia Mundial da Paz e convidava os católicos a meditar sobre a Paz no mundo, no dia 31 de Dezembro de 1972, um grupo de católicos, sacerdotes e leigos, reuniram-se na Capela do Rato em Lisboa para, em tempo da guerra colonial, celebrarem a paz.

A vigília acabou por ser interrompida pela entrada da polícia que fez diversas detenções, inclusive o sacerdote que celebrara a missa, sendo alguns deles entregues à PIDE/DGS e encarcerados no Forte de Caxias. 

Junto ao altar e ainda paramentado foi intimado por agentes da polícia a acompanhá-los, sendo decretado o encerramento da Capela.

Os acontecimentos da Capela do Rato marcam um dos mais significativos episódios da luta contra a ditadura.

 O regime via-se confrontado com mais uma frente de protesto e luta, vinda donde menos esperaria: do seio da Igreja Católica. “Um pecado organizado”, tal como diz Sophia.

Nunca a voz da Igreja se fizera ouvir para condenar a guerra colónia, as perseguições da PIDE, a tortura e a morte. 

No entanto, dias depois, o Episcopado fazia saber que a vigília era “obviamente de caracterização melindrosa num país em guerra, como a que se processa no Ultramar” mas, clara e inequivocamente, condenava a iniciativa.

Os acontecimentos da Capela do Rato determinaram que nada seria como antes: estes católicos e não católicos, acusados pelo governo, como “traidores à Pátria”, diziam ao país que viam ouviam e liam e não mais poderiam continuar a ignorar.

Se ontem era pela paz, contra a Guerra Colonial, hoje vemos fome, ouvimos falar da corrupção que graça pelo país tal e qual de uma praga se tratasse, e lemos que milhares trabalhadores deste país, vivem com o garrote diário do desemprego.


Já é mais do que tempo de virar o bico ao prego a estas coisas, pois como escreveu Sophia Mello Breyner Andersen, no poema “Cantata da Paz”, e como bem o canta Francisco Fanhais, Vemos Ouvimos e Lemos, não podemos ignorar. 




- Bom domingo!