PECADO ORGANIZADO
PECADO
ORGANIZADO
Seguindo orientações do
Papa Paulo VI, que instituíra o primeiro dia do ano como Dia Mundial da Paz e
convidava os católicos a meditar sobre a Paz no mundo, no dia 31 de Dezembro de
1972, um grupo de católicos, sacerdotes e leigos, reuniram-se na Capela do Rato
em Lisboa para, em tempo da guerra colonial, celebrarem a paz.
A vigília acabou por ser interrompida pela entrada da polícia que fez diversas detenções, inclusive o sacerdote que celebrara a missa, sendo alguns deles entregues à PIDE/DGS e encarcerados no Forte de Caxias.
Junto ao altar e ainda
paramentado foi intimado por agentes da polícia a acompanhá-los, sendo
decretado o encerramento da Capela.
Os acontecimentos da Capela do Rato marcam um dos mais significativos episódios da luta contra a ditadura.
O regime via-se confrontado com mais uma
frente de protesto e luta, vinda donde menos esperaria: do seio da Igreja
Católica. “Um pecado organizado”, tal como diz Sophia.
Nunca a voz da Igreja se fizera ouvir para condenar a guerra colónia, as perseguições da PIDE, a tortura e a morte.
No entanto, dias
depois, o Episcopado fazia saber que a vigília era “obviamente de
caracterização melindrosa num país em guerra, como a que se processa no
Ultramar” mas, clara e inequivocamente, condenava a iniciativa.
Os acontecimentos da
Capela do Rato determinaram que nada seria como antes: estes católicos e não
católicos, acusados pelo governo, como “traidores à Pátria”, diziam ao país que
viam ouviam e liam e não mais poderiam continuar a ignorar.
Se ontem era
pela paz, contra a Guerra Colonial, hoje vemos fome, ouvimos falar da corrupção que graça pelo país tal e qual de uma praga se
tratasse, e lemos que milhares trabalhadores deste país, vivem com o garrote diário do
desemprego.
Já é mais do que
tempo de virar o bico ao prego a estas coisas, pois como escreveu Sophia Mello
Breyner Andersen, no poema “Cantata da Paz”, e como bem o canta Francisco
Fanhais, Vemos Ouvimos e Lemos, não podemos ignorar.
- Bom domingo!
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