DA MORTE À RESSURREIÇÃO TRÊS DIAS VÃO
(A NOSSA TERRA)
Na Sexta-Feira Santa com as ruas iluminadas apenas pelo luar, archotes e velas realiza-se o enterro do Senhor que saía da igreja da Misericórdia e recolhia na Matriz e que nos dias de hoje sai da Matriz e recolhe na Matriz com sermão, dito por um distinto pregador.
No Sábado Aleluia, em tempos que já lá vão e o património da nossa cidade como a Praça do Mercado ainda não tinha ido para o maneta, o senhor Laurindo que era o dono do quiosque da Felicidade, fazia a queima do Judas. Era um boneco vestido com calças, camisa, casaco, sapatos, chapéu e com uma saca na mão simbolizando a saca com os trinta dinheiros com que Judas traiu Nosso Senhor. Recheado com bombas e bichas-de-rabear era amarrado ao gradeamento que circundava toda a Praça de frente para a Av. Sacadura Cabral. Depois da leitura do testamento feito humoristicamente, onde certos haveres deste traidor, eram deixados a pessoas sobejamente conhecidas de todos na terra, era ateado o lume aos pés do Judas, começando o mesmo a trepar até à cabeça, dando pelo caminho rebentamentos até ao estrondo final muito mais forte.
À meia-noite ouvia-se o foguetório nas aldeias vizinhas e os sinos repicando anunciando a Ressurreição de Cristo.
Era Domingo de Páscoa.
Fatiota nova a estrear era vestida para receber a Visita - Pascal. Uma banda de música fazia a sua aparição na cidade ajudando ao ar festivo do dia. De longe a longe ouvia-se o rebentar de foguetório avisando a chegada do compasso ao lugar. Neste dia é costume os afilhados receberem os folares das mãos dos padrinhos. Também nesta época existe gastronomia própria como: o pão-de-ló, as amêndoas, os folares, as pitinhas feitas de pão e os ovos (chamados da Páscoa) como símbolo de vida. O compasso é formado pelo senhor Abade trajando a rigor com a sua indumentária enfeitada com bordados feitos por mãos de fadas, pelo homem da cruz, da caldeira, do peditório e por dois miúdos que vão tocando as campainhas alertando para o aproximar do compasso, todos eles vestindo opas. Uma tradição que se está a perder é aquela de acompanhar o compasso ao vizinho seguinte, isto porque na rua apareceram novos moradores que não trazem esses costumes enraizados, o que é pena. Quando o Colégio do Carmo, ainda funcionava na Rua do Paço, os seus criados senhor Amadeu e senhor Joaquim, que olhavam pela quinta donde saíam os legumes, frutos e outros mimos para a alimentação dos alunos internos e externos que frequentavam o refeitório do colégio, enchiam grandes cestos de vimes com hera apanhada nos muros que rodeavam a quinta. Logo de manhã cedo os mesmos eram trazidos para a rua a qual era coberta de verde não deixando ver a cor das pedras seculares da calçada. Hoje já nada disto se passa é claro, e cada morador apanha flores, com as quais enfeita o passeio junto à sua porta. É também hábito ir beijar a cruz a casa de todos os familiares, andando a família neste domingo a saltar de casa
Se hoje em dia ainda há coisas democráticas uma delas é sem dúvida o compasso que vai a todas as casas quer sejam pobres ou ricas sem distinção e sempre da mesma maneira.
- Aleluia!... - Aleluia!... - Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.
E os da casa respondem:
- Para sempre seja louvada Sua Mãe Maria Santíssima.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home