19 dezembro 2007

AS TABULETAS

AS TABULETAS
(A NOSSA TERRA)

Agora que o rés-do-chão da dita “zona histórica” da cidade de Penafiel se uniformizou com vidros e inoxs, quero fazer uma vénia a todos (e são poucos), que teimam em manter os seus estabelecimentos com a traça e a alma do antigamente.

Cada vez são menos estas referências na urbe, mas ainda dá gosto apreciar a loja de ferragens do sr. Coelho na Praça Municipal, a loja do sr. Pinheiro das fazendas, a Mimosa com artigos de retrosaria e fazendas a retalho com belos padrões, e a Barbearia Elite do sr. Costa Normando o barbeiro mais antigo da cidade todas três situadas na Avenida Sacadura Cabral.

Estes verdadeiros faróis de gosto e de preservação, que não só embelezam a cidade como servem de orientação ao transeunte que já não distingue a loja do sr. tal, tal foi o milagre do Procom em descaracterizar a cidade.

Por tal motivo o melhor é percorrer esta terra com o olhar mais acima, sem colocar a cabeça no ar ou em órbita lunar, e ir apreciando enquanto é tempo algumas tabuletas que por aí existem.

Ainda hoje são visíveis no burgo estes autênticos hinos à arte publicitária. A sua beleza é o bastante para se imporem, sem necessitarem de néon, ou design de última hora.

Desde a idade média, mas se quisermos recuar na História já em Roma eram utilizadas, nas cidades, sobretudo nas ruas onde mais intensamente se comerciava, os locais de venda, ostentavam sobre as portas diversos tipos de tabuletas. Geralmente têm o nome do comércio, do seu proprietário, assim como os artigos vendidos ou serviços prestados.

A boniteza e os ornatos da tabuleta da Agência Beça na Praça Municipal, colocada entre a porta da entrada e a montra impõe-se só por si a quem passa. Nela apregoa-se a venda de revistas, figurinos e valores selados. Mesmo à sua frente existia a do sr. Fernando Cabeleireiro, que o dono resolveu retirar, embora não ficasse a dever nada ao que agora o publicita. Mas enfim!... Como diz o povo os gostos são relativos e cada qual tem os seus.

Tanto a cartola da Casa Fausto (anunciando o chapeleiro da terra na época em que era uso tapar a moleirinha, hábito em desuso nos tempos que correm, mas nunca se sabe se não renasce em qualquer dia destes), como a rosca de pão-de-ló da Rosinha (que devido à idade e doença encerrou as portas na Rua Joaquim Cotta), ou a tesoura colocada à porta da Barbearia Elite, são engenhos publicitários que por si só fazem o que toda a publicidade deve fazer que é chamar a atenção de quem passa.

O leão sobre o Bazar Chinês, que nada tem a ver com este, mas com a loja que aí existia do sr. Manuel Afonso, lá permanece com o seu ar de superioridade, não fosse ele o rei dos animais.

Evidentemente que esta beleza embora possa parecer, não é exclusivo do passado. Para isso basta ver a tabuleta da “Academia de Estudo Luís de Camões”, convidando os alunos mais enrascados a recorrer aos seus serviços. O cozinheiro a dizer “Servem-se Almoços” com o respectivo menu que pode encontrar na casa de pasto “Pintassilgo” na Travessa de Atafona junto ao antigo quartel dos bombeiros logo à entrada do quelho. A do restaurante Vai de Roda na Rua Direita onde mistura o bom gosto com a imaginação. Outra a condizer com a magia da noite, é a do Café EP na Rua do Paço. Sendo o seu dono um homem ligado à música, nada melhor que baptizar o seu Café com o nome do filho mais novo dos LPs do tempo de vinil, coincidindo com as iniciais do seu nome Eduardo Peixoto “EP” juntando assim a simplicidade ao lógico.

No tempo em que calcorreávamos os quelhos e ruas, a cidade pertencia-nos. Sabíamos onde podíamos brincar, correr e até os sítios no Rio Sousa e Cavalum, onde devíamos tomar banho. Sabíamos de cor os nomes dos lugares, das coisas, dos sons e das pessoas.

Infelizmente, todos os dias assistimos ao corte destas raízes pelo vendaval anti cidade que por aí graça mais rápido que qualquer simplex, em prol de um progresso que nos é imposto à martelada, apressado e atabalhoado.

Para nosso bem, restam-nos estes belos pormenores para podermos verdadeiramente ler no tempo.