28 abril 2006

O ZÉ TIMOTE

O ZÉ TIMOTE
(A Nossa Gente)

O nome de José Alberto da Rocha Ramos, talvez nada lhe diga, e poucos penafidelenses saibam de quem se trata, já que o mesmo não faz parte do jet-set local. Mas se lhe disser que se trata do Zé Timote, já todo o mundo o conhece na urbe.
Apesar de ter entrado com o pé esquerdo no campo das letras, pois não concluiu a instrução primária, isto não serviu de impedimento para triunfar no jogo da vida, já que se tornou num polivalente, ou como se diz na gíria popular, pau para toda a colher. Deixada a escola, alinhou como marçano na mercearia do Sr. Afonso Meneses, hoje já desaparecida. Creio que esta profissão de marçano, que consistia em levar a casa dos melhores fregueses as compras, nessa altura transportadas às costas ou de bicicleta de pedal, já não existe nos tempos que correm, ou se existe é com o nome de entregas ao domicílio, mas executada em carrinhas motorizadas. É nestas funções de marçano que o nosso amigo Zé Timote, vai conhecer a mulher com quem virá a ser feliz mais tarde.
Entretanto, chegou a idade da tropa, e assenta praça no G.A.C.A.3 em Espinho onde tira a recruta, seguida da especialidade em Tancos, na Escola Prática de Engenharia. Terminada a mesma, entra na Companhia de Telecomunicações de Portugal como Auxiliar de Telecomunicações, empresa que acompanha até à reforma.
Com o seu coração altruísta, volta e meia, lá aparecia o Zé com um peditório para alguém, que durante a vida, não conseguiu juntar dinheiro para o seu funeral.
Outra faceta, é a de salvar o Baptista da pena de morte várias vezes. O Baptista, era um cão vadio que muitas vezes foi apanhado pela rede e levado para o canil. Como o Zé Timote gostava tanto do cão, lá ia pagar a multa e resgatar o Baptista à liberdade. Ainda hoje, este gosto pelos animais se mantém, sendo já sócio da recente Associação Penafidelense de Protecção Animal.
Mudando um pouco de tema, estou-me a lembrar de certo dia, ir encontrar o amigo Zé Timote de sachola em punho, a limpar uns lavadouros de pedra que existem no Rio Cavalum, preocupando-se também ele com o ambiente.
Antigamente, pela altura da Páscoa, integrava o Compasso Pascal quando este ainda levava padre, indo geralmente comer a casa da Dona Maria Teresa. Hoje, embora já não incorpore no Compasso Pascal, na Sexta-Feira Santa, anda com as matracas pelas ruas de Penafiel, a anunciar a morte do Criador, aos católicos e não só.
Na procissão do Corpo de Deus, já fez parte dos pajens, que acompanham o S. Jorge que vai montado num belo cavalo ricamente adornado, fazendo questão de afirmar, que com ele, o santo nunca tombou abaixo do quadrúpede. No ano de 1989, quando a tradição da bicha serpe foi restabelecida, Zé Timote fardado à juiz da serpe, apareceu todo altivo de bicorne enfiado na cabeça, dominando de espada em riste este símbolo do mal.
Pelo Natal, apregoa a Lotaria Nacional, com um sorriso a crescer-lhe nas faces, como que a desejar as Boas-Festas e a taluda a todo o mundo.
Sei que o Zé Timote nunca será contemplado na Feira das Medalhas, mas pelo que se vê, não é que seja inferior a muitos laureados.
Também sei, que a cidade existiria na mesma sem homens como o Zé Timote, mas que seria diferente, disso não tenho dúvidas.

Fernando José de Oliveira