MÁRIO COELHO BABO
Como Rentabilizar o tempo
( A Nossa Gente)
Quando o dia ainda era uma criança e eu ainda me deslocava a calcantes para o meu local de trabalho em Agra-Penafiel, muitas vezes me cruzei com o Sô Mário.
Àquela hora, já vinha ele agarrado ao seu carro de mão, ora carregado de lenha para alimentar o lume da lareira de sua casa, ora transportando bugigangas para engrossar o seu stock sucatal no quintal circundante à sua moradia.
Sô Mário, não é homem de capinar sentado como diz o brasileiro.
Nascido a 28 de Maio de 1923, Mário Coelho Babo, desde muito novo, a dureza do trabalho entrou na sua vida. Apesar das suas 82 bonitas primaveras, ainda hoje é o dia que continua a trabalhar. Ainda criança ajudava a família nas tarefas dos trabalhos do campo. Aos sete anos foi para a Escola Primária, aonde aprendeu as letras e a dominar os números com destreza. De papel e lápis na mão, ainda hoje pede meças a qualquer um mesmo apetrechado de máquina de calcular. Em 1944 vai para a vida militar, a qual terminada resolve dar um novo rumo à sua vida. Assim, a 15 de Abril de 1950, entra para a extinta companhia de electricidade Eléctrica Duriense, pois esta fundiu-se na E.D.P.. Aí é um verdadeiro faz de tudo, ou como se diz nos dias que correm um polivalente. Desde trolha, serralheiro, carpinteiro a guarda fios, o nosso amigo Mário topa a tudo, até ao ano de 1983 em que entra para a aposentação.
A partir desse dia vai desenvolver e dedicar-se a tempo inteiro o que já tinha começado nos tempos livres, o entretimento da sucata. Na montra da sucata ou seja na parte mais visível da mesma, muitos utensílios da lavoura usados pelos nossos avós, são colocados e vendidos não para o fim a que foram fabricados, mas para adornarem restaurantes e jardins de algumas vivendas. Tem uma memória prodigiosa, já que fala de peripécias que se passaram à muito tempo com precisão. Entre elas, contou-me uma que não podia deixar de partilhá-la convosco. Decorria o ano de 1978 e nas instalações da Eléctrica Duriense no lugar da Agra, foi realizada uma reunião com todos os trabalhadores da empresa. Estando no uso da palavra a engenheira Delmina, a dada altura foi interrompida pelo colega Rodrigues de apelido o farelo, o qual de imediato foi chamado à atenção pela palestrante para a não interromper. Então, o Rodrigues justificou-se dizendo que todos nós temos uma hora de burro por dia e ele (Rodrigues), com certeza estava na dele. Como vêm, aqui está uma boa maneira de dar uma data de burrice a toda a gente.
Esse tempo que por nós passa e nos faz do cimo da cabeça à ponta dos pés, e nos molda a maneira de ser, também deu força engenho e arte ao Sô Mário, para saber rentabilizá-lo.
Fernando José de Oliveira
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