01 maio 2024

 

O CÉLEBRE LAMEIRÃO


Há dias quando percorria os canais de televisão, calhei de ver o final de um jogo em que a equipa derrotada, queria ajustar contas em pleno relvado, com o homem do apito.


Já me deixei de bolas pois para mim e até posso estar errado, o futebol deixou de ser um desporto, para ser uma indústria onde até os dirigentes são pagos e bem pagos pelas respectivas SADs.




Com isto acabou o amor à camisola, sendo o mesmo regido pelos euros que rolam por cima ou por baixo da mesa das contratações, embora alguns jogadores batam com a mão no peito e beijem o emblema que ostentam na camisola.




Também me parece que a união do clube à cidade já passou de moda, bastando ver a quantidade de apoiantes que se deslocam ao estádio para ver jogar e apoiar o Futebol Clube de Penafiel. Antigamente, nos domingos em que o Penafiel jogava em casa, era uma autêntica romaria de pessoas que se deslocavam a pé quer chovesse quer fizesse sol, em direcção ao Campo da Bola.




Nessa altura, melhor dizendo, nos anos 60 do século passado, o grande jogador era sem dúvida o Silva Pereira que encantava com o seu futebol, e a equipa era formada por muitos jogadores da terra.




O jogo que vou falar passou-se no domingo de 26 de Fevereiro de 1961, em que o Futebol Clube de Penafiel, defrontou o F. C. de Famalicão, jogo esse arbitrado por Alberto Lameirão de Vila Real, que no decorrer do jogo não só demonstrou pouca honestidade e competência, que nos leva a creditar que ouve propósito nesse procedimento, já que o Sport Clube de Vila Real, clube da sua terra, era um dos representantes em prova. Acontece que só os dois primeiros classificados desta série passariam à fase seguinte.


O Penafiel perdeu por uma bola a zero, arrumando as botas da fase seguinte do Campeonato Nacional da 3.ª Divisão, ficando apurados o Vila Real e o Régua.

O Futebol Clube de Penafiel alinhou com: Avelino (Reis), Machado, Serra e Marocas, Zé Rodrigues e Taco I, Pires, Manuel, Lela, Amândio e Silva Pereira.




No decorrer do jogo, para além de anular um golo ao Penafiel, ficaram por marcar duas grandes penalidades assinaladas por um juiz de linha que ainda manteve a bandeira levantada por algum tempo, mas que o árbitro não ligou patavina ao seu auxiliar continuando o jogo como se nada tivesse ocorrido.


Os ânimos começaram-se a exaltar e um coro de gatuno, e outros adjectivos indecorojos eram endereçados directamente ao árbitro.


Mas se as coisas já estavam a ferver, com a expulsão do guarda redes Avelino tomando o seu lugar Reis e do Taco I, instalou-se a desordem com uma invasão de campo no final do jogo, tendo a GNR de pedir reforços para conter a revolta.




Como o Lameirão era de Vila Real, estava a ser preparada uma espera ao carro que o transportava a Vila Real, numa rampa de um monte (visível na imagem), que unia o lugar do 33 à Rua da Vista Alegre.


Entretanto a GNR apercebeu-se do que se estava a passar, disparou uma série de tiros para o ar, dispersando a multidão.


Perante tudo isto, vários telegramas foram enviados à Federação Portuguesa de Futebol, pelas forças vivas da cidade de Penafiel.


“ Direcção do Futebol Clube de Penafiel, respeitosamente pede justiça protestando junto de V. Ex.ª contra atitude do árbitro jogo disputado ontem Estádio desta cidade único responsável incidentes verificados. Julgamos premeditada sua atitude razões expostas pedido de inquérito segue hoje. Interpretemos viva repulsa cidade Penafiel confiada alto espírito de justiça V. Ex.ª.

Eduardo Peixoto”




“Câmara Municipal de Penafiel interpretando sentir população cidade vem pedir V. Ex.ª justiça e inquérito factos ocorridos desafio de futebol realizado ontem.

Presidente da Câmara de Penafiel

Francisco da Silva Mendes”




“Presidente do Grémio do Comércio de Penafiel, lamente incidentes ocorridos Estádio Municipal culpa exclusivamente árbitro encontro no firme propósito prejudicar grupo local. Interpretando sentir seus agremiados pede justiça inquérito solicitado a bem desporto.

Presidente Grémio Comércio

Boaventura da Silva Alípio Bessa”




“Presidente Sindicato Caixeiros Penafiel, respeitosamente pede a V. Ex.ª factos ocorridos Estádio Municipal causa exclusiva má arbitragem. Paira cidade sentimento viva repulsa atitude premeditada juiz da partida esperando-se justiça confiado alto espírito V. Ex.ª.

Presidente Sindicato Caixeiros

Francisco Inácio Lopes Cepeda”




Apesar de todos estes apelos, a Federação Portuguesa de Futebol castigou o Futebol Clube de Penafiel com dois jogos que foram jogados um em Paredes e outro em Freamunde, assim como os dois jogadores expulsos com a mesma dose.


Resumindo e concluindo, ontem como hoje, o homem do apito continua a “fazer vista grossa” para uns e carrega “forte e feio” nos outros.




Se os campeonatos agora chamados de Liga continuam a serem ganhos pelos grandes clubes, o homem do apito continua ontem como hoje, a dar o seu contributo, segundo as vozes dos entendidos...é claro!.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho