07 maio 2021

O CRISMA NAS FREGUESIAS DE SANTIAGO E NOVELAS

 O CRISMA NAS FREGUESIAS

DE SANTIAGO E NOVELAS

 


No tempo da outra senhora, quando ainda existiam as freguesias de Novelas e Santiago, no dia 23 de Abril de 1933, ou seja no domingo de pascoela (domingo seguinte ao de Páscoa), sua Excelência D. António Augusto de Castro Meireles, ilustre bispo da diocese do Porto, visitou estas duas freguesias do Concelho de Penafiel, ambas anexadas eclesiasticamente, e por consequência subordinadas ao mesmo pároco, Padre José Luís Vieira da Silva. D. António Augusto de Castro Meireles, nasceu no concelho de Lousada, na freguesia de Boim, a 15 de Agosto de 1885. Fez os seus estudos primários em Penafiel, e os estudos secundários no Colégio de Nossa Senhora do Carmo nesta mesma cidade. Depois ingressou no Seminário dos Carvalhos, sendo ordenado padre a 22 de Abril de 1908. A 20 de junho de 1928 foi nomeado bispo coadjutor do Porto, função que, por inerência, lhe conferia a sucessão. Assim, a 21 de julho de 1929, tornou-se Bispo do Porto, um cargo que ocupou até 29 de Março de 1942, data do seu falecimento.


Foi a primeira vez, que Santiago recebeu a visita de um Bispo desde que é freguesia, e mesmo não há registo de outra se ter realizado antes de o ser, sendo assim um acontecimento memorável, tendo D. António Meireles, sido recebido com o máximo de brilhantismo pelos santiaguenses.

A senhora D. Maria Viana de Lemos Peixoto, abastada proprietária da Casa Monterroso, nesta freguesia, e as suas duas filhas, foram os elementos primordiais desta festa, contribuindo de uma maneira muito especial para que tudo se fizesse com a piedade e brilhantismo que, a tais actos do culto é exigido.

E, assim, tendo-se efectuado uma série de conferências religiosas e doutrinais de liturgia católica, a cargo do ilustre sacerdote, professor de Seminário do Porto, na Igreja de Santiago e em todos os dias da semana precedente, como preparação ao Crisma a conferir pelo sr. Bispo e demais actos inerentes ao culto, foi, na Casa de Monterroso, que aquele eclesiástico se hospedou, durante os doze dias em que aqui se conservou, para esse efeito.

Portanto, ás 9,30 horas do referido dia 23 de Abril de 1933, por feliz acaso da Providência, um verdadeiro dia de Primavera, em evidente contradição de todos aqueles da semana finda, chegou sua Excelência D. António Meireles, Bispo do Porto, à Casa de Monterroso, onde era aguardado pela ilustre família, e bem assim por uma multidão de pessoas, com a Banda de Música dos Bombeiros Voluntários de Paredes, que à sua chegada, anunciada por uma salva e foguetes, fez ouvir os seus acordos deliciosos.



Após uma pequena demora para o sr. Bispo envergar as suas vestes prelatícias, na capela da casa, que além da recente restauração sofrida se achava belamente ornamentada, seguiu Sua Ex.ª dali, em procissão para a Igreja de S. Tiago sob o pálio, ladeado por oito eclesiásticos e seguido por um numeroso e bem organizado acompanhamento constituído pelas corporações religiosas da freguesia, com as suas insígnias respectivas e grande quantidade de pessoas, que ansiosamente se aglomeravam durante o trajecto, com o maior respeito e entusiasmo.


Todo o longo literário percorrido, achava-se engalanado com bandeiras, flores, cinco arcos artisticamente modelados a capricho e profusamente tapetados de verdes, como ainda de grande parte das janelas, pendiam colgaduras de variadas cores, imprimindo ao acto aquele tradicional aspecto regional, de festa e alegria, que jamais esquece com saudade, na celeridade dos tempos que vão correndo à nossa frente.


Na igreja, antes de começar a missa solene, que um grupo de senhoras, da localidade, se prestou a acompanhar a canto coral e órgão harmónio segundo os preceitos da moderna liturgia, o sr. Bispo, evidenciando a sua agradável impressão, por toda aquela gloriosa jornada de religião e fé, que vinha presenciando endereço os meus melhores agradecimentos a todos os que para isso contribuíram tão devotadamente.


A meio da missa voltou S. Excelência a deliciar o numeroso e selecto auditório que atentamente o escutava, e, com a sua palavra fluente e cadenciada, produziu uma homilia magistral, cheia de conceitos judiciosos e adaptados ao Evangelho do dia, por forma que em todos deixou plenamente confirmada a sua justa reputação de fiel burilador da oratória sacra.


No fim da missa, e depois de efectuada a procissão Eucarística, à volta da Igreja, procedeu sua Excelência o sr. Bispo a imposição do Crisma, a centenas de pessoas, que a solicitaram, terminando com uma alocução referente àquele acto.


Foto cedida por: Joaquim Pinto Mendes

Seguidamente na Casa de Monterroso, foi servido um almoço ao Sr Bispo, a todo o clero assistente, e a outros convidados, findo o qual, seriam 16,30h, seguiu sua Exc.ª para a freguesia de Novelas, onde era esperado na Casa do Cruzeiro, pelas corporações religiosas locais com as suas insígnias, muito povo, e dali seguiu sob o pálio processionalmente, em direcção à Igreja paroquial, encontrando-se todo o caminho do seu trajecto lindamente ornamentado.


Foto cedida por: Joaquim Pinto Mendes


Depois de proceder ás costumadas cerimónias litúrgicas, a administração do Crisma, na igreja, foi organizada uma procissão até ao cemitério, terminando assim as festas religiosas, que, por motivo da visita do sr. Bispo deram aos paroquianos das duas freguesias, algumas horas de agradável satisfação, como recompensa de tantos trabalhos que tiveram.


No final, o Rev. Pároco José Luís Vieira da Silva, mandou servir na sua residência, um jantar lauto ao sr. Bispo do Porto, D. António Augusto de Castro Meireles, a todo o clero assistente, e algumas pessoas das suas relações mais próximas. 

 




Se esta visita se viesse a dar nos dias de hoje, a mesma seria à freguesia de Penafiel, já que estas duas freguesias Novelas e Santiago de Subarrifana, banhadas pelo Rio Sousa, foram extintas em 2013, e anexadas à freguesia de Penafiel em plena “democracia”, sem que para tal, os seus habitantes fossem ouvidos e achados. 

 



Agora que muito se fala em Descentralização, não faz qualquer sentido, fazer a mesma, sem começar por restaurarem todas as ditas freguesias anexadas neste país.

- Ou será que sim?


Fernando_Oliveira – Furriel de Junho