11 novembro 2020

ESCOLA PRIMÁRIA DE SANTIAGO DE SUB-ARRIFANA

INAUGURAÇÃO DA ESCOLA PRIMÁRIA

DE SANTIAGO DE SUB-ARRIFANA

 



Para combater o analfabetismo reinante, o antigo regime levou o ensino primário a todo o lado, ficando o mesmo perto das pessoas.


Assim, não havia freguesia que não fosse dotada da sua Escola Primária, muitas delas apetrechadas com cantina, onde os mais desfavorecidos da sociedade, tinham acesso a uma refeição quente, tal como hoje.


Muitas escolas foram construídas por mecenas da terra, que também alimentavam as cantinas das mesmas, estou-me a lembrar das Escolas Primárias de Novelas, Bustelo e Croca.



Quanto ao ensino propriamente dito, a disciplina que tratava dos números era chamado de Aritmética a que hoje chamamos de Matemática. A Tabuada tinha que ser sabida na “ponta da língua” e as contas era feitas na Lousa de ardósia com a respectiva pena da mesma matéria. Os livros de Leitura com textos a fazerem a apologia do regime, a Geografia, com serras e montes, a História de Portugal do Minho a Timor, e a Gramática para aprender a conjugar os verbos. Estou-me a lembrar de um caderno com duas linhas chamado de Cópia, onde aprendíamos a desenhar as letras do abecedário. Sou do tempo em que se usava uma pena de madeira com um aparo de metal na ponta que era molhado no tinteiro e se não fôssemos rápidos a escrever, lá ficava um borratão na folha.



Mas o terror deste ensino, era a palmatória que o professor tombava sobre as nossas tenras mãos de crianças.


Depois deste pequeno introito, vou relatar a homenagem ao Sr. Presidente da Câmara Sr. Capitão Arrochela Lobo, na inauguração da Escola Primária da freguesia de Santiago de Sub-Arrifana, que decorreu no Domingo, 13 de Outubro de 1935.

 



A freguesia de S. Tiago Sub-Arrifana, toda ela lindamente engalanada com ornamentações, bandeiras, festões e arcos com saudações festivas.


O povo da freguesia, com as suas comissões Administrativa da Junta, da União Nacional, Regedor e Pároco, e uma banda de música, aguardavam na ponte sobre o Rio Sousa, à entrada da povoação, os ilustres visitantes, que à medida que iam chegando eram entusiasticamente saudados. A comitiva era composta pelo sr Presidente da Câmara de Penafiel, Capitão Arrochela Lobo, acompanhado por dois colegas seus na Comissão Administrativa do Município, o Sr. Capitão Vasconcelos e o Capitão Padre Rocha, Dr Avelino Soares, Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional e mais dois membros da mesma comissão Dr. Vito Moura de Carvalho e José Adelino Cabral de Noronha e Meneses do secretariado da mesma comissão sr. Fernando Sá Reis, pelo sr. Professor Adriano Pais Neto em representação do sr. Inspector Escolar do Porto, e pelos senhores Dr. José Luís V. Pinto dos Reis e Manuel Moreira Guedes e Melo.


Ás 16 horas organizou-se o cortejo em direcção à Escola Primária com o mais vivo entusiasmo vitoriando o Sr. Presidente da República, António Óscar Fragoso Carmona, o Presidente do Concelho de Ministros, António Oliveira Salazar, ao governo e ao homenageado Capitão Arrochela Lobo, ao mesmo tempo que se fazia ouvir uma banda de música e se queimava muito fogo.


Quando o cortejo chegou à Escola, toda ela ornamentada, as crianças lançavam flores sobre os convidados.


Em seguida, deu-se início à sessão solene, tendo o Presidente da Comissão Administrativa da Junta da Freguesia, convidado para presidir à mesa da sessão o sr. Capitão Arrochela Lobo, que por sua vez, convidou para vogais por sua vez, o Presidente da Junta Sr. Adalberto Teles da Rocha e o Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, Dr. Avelino Soares.


Aberta a sessão, o Presidente da Junta de Santiago, sr. Adalberto Rocha, tomou a palavra e disse:


Ex.mo Sr. Capitão Arrochela Lobo e ilustres visitantes – meus senhores:


Coube-me a mim, o honroso cargo que em nome da Comissão Administrativa da Junta de Freguesia, da qual faço parte, apresentar a Vossas Excelências, em nosso nome e no de seus habitantes, apresentar os nossos respeitosos cumprimentos de boas vindas.

Esta pequena freguesia, que a V. Ex.ª deve a sua autonomia administrativa, de à muito anseia o momento de poder manifestar publicamente a V. Ex.ª o seu reconhecimento agradecido e a sua eterna gratidão.


Seguiram-se no uso da palavra os srs. José Mendes dos Reis, Adriano Pais Neto, Dr. Avelino Soares, Padre António Domingues da Fonseca e a Professora Oficial da Escola Primária de S. Tiago de Sub-Arrifana Sr.ª Dona Maria Adelaide Pereira Bacelar Fernandes de Carvalho, que em voz timbrada pronunciou o seguinte e entusiástico discurso:


Ex.mo Sr. Presidente, digníssimas autoridades, meus senhores e minhas senhoras:


Sejam as minhas primeiras palavras de saudação a todos aqui presentes. A cerimónia que hoje aqui nos reúne, é daquelas cerimónias que nos faz vibrar pelo seu significado e pela lição que encerra, e que devemos tomar com o reflexo com um sentimento de gratidão, predicado exclusivo do coração humano e mui especialmente do coração português. 

 



As digníssimas autoridades desta freguesia em que tenho notado, desde a primeira hora que para aqui vim, todo o interesse, abnegação em bem servir a sua terra, com a inauguração desta escola das fotografias de três vultos que são três ornamentos da República Portuguesa, ministram-nos uma lição de civismo patriotismo, que eu quis que fosse aproveitada por todos mormente pelos alunos desta escola, que serão os continuadores da nossa obra, dos nossos sentimentos e do nosso sangue.


Se todo o Portugal tivesse uma Junta de Paróquia e uma Comissão da União Nacional como tem Santiago de Sub-Arrifana o povo português seria mais feliz, viveria mais confortavelmente, e teria em seu coração mais arreigado o civismo. 

 



Faço estas referências ás autoridades da minha freguesia, ao senhor Capitão Arrochela Lobo, não por um sentimento de lisonjeada bajulação, mas por um princípio de justiça que honrar quem louvores merece.


Supérfluo seria falar dos homenageados. A sua vida pública, os seus actos são de tal sorte nossos conhecidos que lembrá-los uma vez mais seria ofuscar-lhes o brilhar de Carmona e Salazar, que fale deles a História, o mundo inteiro. Do Sr. Capitão Arrochela Lobo fala bem alto a nossa terra. S. Tiago e todo o Concelho de Penafiel, pela voz eloquente das obras que a sua ex.ª se devem.


S. Tiago considera-o como um benemérito seu, e sinto orgulho em colocá-lo ao lado dos dois grandes vultos que o Mundo inteiro admira.


Sirva-nos o exemplo destes homens, meus alunos, como que um raio de luz a iluminar-nos o espírito durante a vida, porque, se é nosso dever legar-vos um património nacional que vos imponha ao prestígio do Mundo, é vosso dever dar à nossa obra sequência e progresso.


O amor é uma cousa que só se prova e justifica, quando se entrega estoica e abnegadamente à mesma causa.


Exemplos não vos faltam, meus alunos, quer no passado, quer no presente.


Por fim o Capitão Arrochela Lobo agradeceu como representante do governo todas as manifestações de homenagem dispensadas ao Chefe de Estado e ao Presidente do Conselho de Ministros, agradecendo também a honra que lhe conferem colocando o seu retrato naquela sala ao lado daqueles eminentes homens públicos, homenagem que diz imerecida.


Procedeu-se em seguida ao descerramento dos retratos dos Ex.mos Srs. General Carmona, ilustre Presidente da República e do Dr. Oliveira Salazar, ilustre Presidente do Conselho de Ministros e Arrochela Lobo, Presidente da Câmara Municipal de Penafiel, que a assistência coroou com uma prolongada salva de palmas.


Encerrada a sessão, os visitantes e muito povo acompanhados por uma banda de música, dirigiram-se ao lugar de Outeiro para inaugurarem um fontanário, lavadouro e bebedouro.


Depois retrocedem ao lugar da Ponte, junto ao apeadeiro do Caminho de Ferro, onde já quase noite, é inaugurado o Posto Médico dos pobres, tendo usado da palavra o Sub-Delegado de Saúde, o sr. Dr. Pinto dos Reis, que promete prestar toda a sua dedicação e carinho à causa da assistência ás classes pobres.


Findas as cerimónias foi servido aos visitantes um lauto banquete em casa do sr. Presidente da Junta de Freguesia Adalberto Teles da Rocha.

 



Hoje, não só muitas destas Escolas Primárias desapareceram para o ensino, sendo convertidas em sedes de qualquer coisa, como também desapareceram do mapa muitas destas freguesias, como é o caso da de Santiago de Sub-Arrifana, criada em 6 de Março de 1934, sendo agregada à freguesia de Penafiel em 28 de Janeiro de 2013, às ordens dos sabichões da capital do reino, que ontem como hoje, tratam o resto do país como paisagem, e o povo que apenas é lembrado e acariciado em tempos eleitorais, continua a ser feliz com os 3 efes do antigamente, acrescidos agora com telenovelas.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho