05 março 2021

O CARRO DE BOIS MEIO DE TRANSPORTE FORA DE CIRCULAÇÃO

 O CARRO DE BOIS

MEIO DE TRANSPORTE

FORA DE CIRCULAÇÃO

 


Nas velhinhas ruas da cidade de Penafiel, nos anos 50 do século passado, era muito comum circularem carros de bois, como meios de transporte de mercadorias.

 



Também a urbe nesse tempo, era cercada por campos e quintas cultivadas, onde geralmente fazia parte dessa paisagem rural o carro e a sua junta de bois, que eram utilizados, sobretudo para os trabalhos agrícolas, puxando o arado, a grade ou a charrua, nos campos ao mando do lavrador, que os tocava com uma vara.


Por isso a venda e compra de bois, era muito animada nas feiras de gado, que se realizavam no Largo Conde de Torres Novas, vulgarmente chamado de Campo da Feira.

 



Em Portugal, o carro de bois, foi no passado um instrumento importante no desenvolvimento do país e da sociedade, assegurando o transporte dos produtos necessários ao do dia-a-dia das populações, da floresta ou do campo bem como da matéria prima necessária à construção das cidades, vilas e aldeias, como pedra, madeira, areias, etc.



Estou-me a lembrar do carrilhão de sinos para o Santuário de Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos, que chegaram a Novelas no dia 25 de Outubro de 1908, e foram transportados em dez carros de bois, desde a estação do caminho de ferro ao alto do Parque Zeferino de Oliveira, onde foi construído o Santuário.



Ainda de madrugada, os carros de bois vindos de Pussos, atravessavam a cidade rumo ao monte para cortar mato que cresceu durante o inverno.

Levavam aguardente e broa cozida em casa, para o mata bicho, chouriços e salpicões para o almoço e a merenda, e como não podia faltar o garrafão de vinho verde, assim como cordas, sacholas e forquilhas, ferramentas utilizadas no roçar do mato.

 


À tarde, os molhos de mato roçado durante o dia, eram lançados pelas forquilhas para cima do carro de bois. Quando o carro estava totalmente carregado, eram lançadas as cordas que depois de esticadas e presas, davam mais segurança à carga e estabilidade ao carro.

Ao fim da tarde, lá chegavam ao Largo da Ajuda, e nós miúdos interrompíamos as nossas brincadeiras para vermos o carro de boi passar no túnel, já que o volume da carga não passava. Muita dela era deitada abaixo e quando calculavam que já passava, um homem puxava a parelha dos bois, enquanto os outros homens empurravam também o carro que entretanto deixava cair mais carga. Mal passava o túnel o mato era novamente recolocado no carro de bois e lá seguiam caminho. O mato era para o lavrador fazer a cama dos animais, e mais tarde retirado como estrume para os campos.

 



Muitos penafidelenses ainda se lembram de ver os lavradores com os seus carros de bois carregados de cebolas para a Feira de S. Bartolomeu no Largo da Devesa, assim como melões de casca de carvalho e melancias que eram apregoadas e vendidas, em cima dos próprios carros de bois, na Av. Gaspar Baltar.

 



Naquele tempo ainda era autorizado o lavrador vender o seu próprio vinho em pipas. Por vezes lá passava um carro de bois transportando uma pipa em direcção â Casa de Pasto ou tasca, como lhe queiram chamar, onde o néctar da uva saía directamente da torneira colocada na pipa, para a caneca do freguês.
 



Até estes veículos tinham que estar registados nas respectivas Câmaras Municipais, para poderem circular na via pública. 

 

Ainda hoje, nas Festas da Cidade de Penafiel, o carro de bois, aparece na procissão do Corpo de Deus, como Carro Triunfante, encimado pela figura da cidade e um grupo de crianças vestidas de branco, que vão lançando pétalas de flores à sua passagem, sobre a multidão que assiste.

 



Os carros de bois quando andavam vazios faziam uma chiadeira infernal. Em 1909, alguns moradores de Entre os Rios incomodados pelo barulho dos eixos, dos carros de bois que se dirigiam ao areal para o carregamento de pipas ou mercadoria trazida pelos barcos, queixaram-se à Câmara Municipal de Penafiel. Tendo em conta o importante que era este meio de transporte para a economia da cidade e do agregado familiar do carreteiro a queixa não foi atendida. Para minimizar tal chiadeira, os carreteiros e os lavradores, começaram a untar os eixos com gordura.



Com o aparecimento do tractor, o carro de bois, foi lentamente desaparecendo, e a sua chiadeira dando lugar ao roncar de um motor.

E com tantas voltas e reviravoltas que a vida dá, nos tempos que correm, até há quem ponha, “o carro à frente dos bois”.


Fernando Oliveira – Furriel de Junho

1 Comments:

Blogger Rui Ribeiro da Costa said...

Nos anos 80 ainda eram comuns os carros de bois na nossa cidade. Lembro - me de num dia à tarde, estar numa aula de Português na Escola Secundária e ver-mos passar a descer ou a subir a R. Dr. Alves Magalhaes um desses carros de bois, e tal visão merecer o seguinte comentário da professora : " Penafiel é mesmo uma cidade rural *
Onde já vai tal cidade!
É nós anos 70 quando ia para a escola primária lembro-me da bosta que os bois deixavam ao longo da Sacadura Cabral. Hoje quanto muito nas nossas ruas é só rastos de pneus.

5:19 da tarde  

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