LOAS
LOAS
A
NOSSA SENHORA DA SAÚDE
No
meio do verde de montes e campos, lá está imponente o mosteiro e o
convento Beneditino. Já lá vão os tempos em que os cânticos
gregorianos dos monges faziam eco nas penedias.
Se
o patrono é S. Miguel o que lhe dá fama, é sem dúvida a Nossa
Senhora da Saúde.
Segunda-feira
a seguir ao Domingo de Páscoa a cidade de Penafiel, fecha as suas
portas e lá vai com o seu farnel, muita das vezes feito das sobras
do dia anterior rumo a Bustelo.
O
que hoje se faz geralmente de carro, em tempos que já lá vão, as
camionetas da firma Alberto Pinto num vai bem constante lá iam
transportando pessoal de Penafiel, para a festa da Senhora da Saúde
em Bustelo.
Os
pagadores de promessas fazem este percurso a pé. É nesta condição
que aparecem as novenas. São pessoas em número de cinco, sete ou
nove entrelaçadas umas ás outras pelos braços, entoando loas à
Senhora da Saúde, enquanto caminham.
Com
o aparecimento da televisão, não só cada vez se vê menos novenas,
pois é mais fácil ver uma telenovela do que transmitir esta cultura
popular como era apanágio nos velhos serãos, de geração a
geração.
Hoje
tanto a cidade como a aldeia mais remota estão a ser standarizada e
absorvida pelos meios de “progresso”, que pouco preserva de seu,
culturalmente falando.
A
última novena que vi, já lá vão mais de trinta anos, era formada
por moças da freguesia de Duas Igrejas, do concelho de Penafiel.
Eis
alguns versos cantados por elas:
Nossa
Senhora da Saúde
Livrai
os homens da guerra (bis)
Nós
somos de Duas Igrejas
Viva,
viva a nossa terra (bis)
Nossa
Senhora da Saúde
Vota
fitas a voar (bis)
Vota
uma, vota duas
Todas
vão cair ao mar (bis)
Nossa
Senhora da Saúde
Nós
já fomos e viemos (bis)
Vimos
vos pedir perdão
Dos
pecados que fizemos (bis)
Nossa
Senhora da Saúde
As
costas vos vou virar (bis)
Dai-me
vida e saúde
Para
o ano cá voltar (bis)
Nossa
Senhora da Saúde
Nós
cá estamos a chegar (bis)
Deite
o arroz p'rá caçarola
Sopa
seca pró alguidar
Nossa
Senhora da Saúde
Eu
pró ano lá hei-de ir (bis)
Ou
casada ou solteira
Ou
criada de servir (bis)
Foi
esta última quadra que me chamou atenção, pois ouvi-a na Galiza
apenas modificando o 1.º verso ficando assim:
“Orense
que és da raia”
Eu
pró ano lá hei-de ir (bis)
Ou
casada ou solteira
Ou
criada de servir (bis)
Daí
ter concluído que o povo acomoda a letra a qualquer santo ou
santinha ou terra que vão visitar.
- Será
que estes cânticos foram trazidos pelos romanos no período da
romanização até nós?
Mas
outra hipótese se me levanta na mente se não seriam os peregrinos
que calcorreando os Caminhos de Santiago até Compostela os foram
transmitindo de pais para filhos a netos até aos nossos dias.
Destas
maneiras ou de outras, é caso para dizer:
Se
todos os caminhos vão dar a Roma ou a Santiago, também não é
menos verdade, que todos os caminhos vão dar à nossa terra, assim
como estas Loas.
Fernando
Oliveira – Furriel de Julho
2 Comments:
Se a referência às moçoilas da última novena baseia-se na foto, há um equívoco. Eram todas do lugar de Aperrela,freguesia de Penafiel.
Esta foto não é referente à novena que retrato no texto, mas foi só para o ilustrar o mesmo.
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