09 novembro 2016

MÁRIO DE OLIVEIRA REGRESSA AO RIO DE JANEIRO

MÁRIO DE OLIVEIRA
REGRESSA AO RIO DE JANEIRO
E AS SUAS IMPRESSÕES
DA SUA VISITA A PENAFIEL




Quando Mário de Oliveira e sua esposa D. Lícia de Oliveira, chegam a Lisboa, encontra-se atracado no Rio Tejo o navio transatlântico Cap Arcona, um dos mais belos e luxuosos navios da época, bem como o quarto maior navio da marinha mercante alemã.


Nele embarcaram na madrugada de sábado, 12 de Outubro de 1934, com destino ao Rio de Janeiro.


Navio transatlântico Cap Arcona


Para bordo daquele luxuoso paquete foram dirigidos telegramas a Mário de Oliveira de saudação e agradecimento pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Penafiel, Mesa da Santa Casa da Misericórdia, Confraria da Nossa Senhora da Piedade e Santos Passos e Direcção da Associação dos Bombeiros Voluntários de Penafiel, aos quais V. Ex.ª tive a amabilidade de agradecer pela Telegrafia Sem Fios do mesmo vapor.


Pelas 15 horas do dia 27 de Outubro de 1934, chega ao Rio de Janeiro o navio Cap Arcona, onde lança amarras no Cais do Porto, Armazém N.º 1, onde Mário de Oliveira e sua esposa eram esperados por uma enorme multidão de pessoas que, representando desde as mais destacadas hierarquias sociais às mais humildes classes trabalhadoras, ali iam levar ao mais distinto industrial o seu preito de homenagem.


O Sr. Mário de Oliveira foi o primeiro passageiro a desembarcar, não dando tempo a que o fossem cumprimentar a bordo.


Mas ao atravessar a “passerelle” recebia ele, já, de um lado e do outro, apertos de mão comovidos ou abraços afectuosos que retribuía visivelmente emocionado.


Chegada de Mário de Oliveira e esposa ao Rio de Janeiro.

Entre as pessoas que o aguardavam, viam-se os seus dedicados colaboradores Srs. Pinto Júnior, João de Canali e Joaquim Pinto da Fonseca , respectivamente, Director, Gerente e Secretário da Companhia Hanseática, assim como o Sr. Raul Monteiro Guimarães, Director-Gerente do Moinho da Luz, e o filho, seu inteligente auxiliar.


Rodeado de admiradores e amigos, cheios de natural ansiedade de lhe ouvir relatar impressões de viagem.


Mário de Oliveira começa por dizer que Portugal é entre todos os países que acabo de percorrer, aquele de que guardo mais preciosas recordações e mais fundas saudades.


Foi em Penafiel entre localidades das Províncias de Portugal, que melhor oportunidade teve de verificar a obra de reconstrução nacional do actual regime político (Estado Novo). E não admira que assim fosse.


Eu via e sentia-a na cidade de Penafiel, enquadrada num cenário de ternura, que jamais desaparecerá dos meus olhos ou se apagará do meu coração.
Quando entrei em Penafiel senti a mais profunda comoção que tenho experimentado em toda a minha vida.


Primeiramente, cheguei a acreditar que a cidade se adornara e se movimentara com aquele alvoroço e com aquele regozijo para festejar qualquer data de significado na vida nacional.


E foi só depois, que me compenetrei da ideia de ter sido a minha visita a causa única daquele memorável dia de galas e de entusiasmos.
E profundamente comovido, o Sr. Mário de Oliveira acrescenta:

Quase me era impossível agradecer as manifestações carinhosas que de todos os lados me dirigiam. As lágrimas embargavam-me a voz. Sentia-me, infinitamente pequeno diante de tanta grandeza de espírito e de alma. Ah! Não é impunemente que Penafiel ostenta nos seus brasões a legenda de ouro de “fidelidade”.


Ela guarda bem a memória de meu Pai que tanto amor lhe consagrou até ao último suspiro de sua vida.


Foto de Fernando Beça Moreira

Infelizmente nos dias que correm, já não se pode dizer o mesmo, basta ver o que certa gente fez ao busto de Zeferino de Oliveira, retirando-o para um canto sem visibilidade, não tendo o mínimo de consideração e respeito, por quem tanto fez pela Santa Casa da Misericórdia e pela cidade de Penafiel.


Mudando de assunto alguém lhe pergunta à queima-roupa:

- Chegou a ter conhecimento, antes da sua partida de Lisboa, da nova mercê honorífica com que o Governo Português o destingiu?

- Quando parti de Lisboa, desconhecia essa distinção, embora o Secretário do Sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros tivesse ido a bordo, a fim de me apresentar cumprimentos de despedidas, em nome do ilustre titular da pasta. Soube, todavia, da notícia, alguns dias depois, por meio de um rádio expedido para bordo.

Então, na passagem da linha do Equador, os passageiros da primeira, segunda e terceira classes do navio “Cap Arcona”, aproveitando esse ensejo, ofereceram-me uma festa revestida de solenidade e de tocante ternura, à qual se dignou presidir o eminente Sr. Dr. Guerra Duval, Embaixador do Brasil em Portugal.


O Sr. Jaime Loureiro, considerado comerciante português em S. Paulo, e Presidente da Associação Comercial de Pauliceia, tomou, gentilmente, sobre si o encargo de me saudar e de me felicitar, e de tal forma o fez que as suas palavras, calando profundamente na minha alma, deixaram-me, em extremo, penhorado e cativo.


E foi assim que Mário de Oliveira foi contando aos seus amigos brasileiros a sua estadia entre nós.
 
Realmente pensando bem, a maioria dos brasileiros possui duas Pátrias... aquela onde nasceram e aquela de onde provieram os seus antepassados.


Afinal de contas, não é por acaso, que nos tratamos por países irmãos.