MÁRIO DE OLIVEIRA REGRESSA AO RIO DE JANEIRO
MÁRIO DE
OLIVEIRA
REGRESSA
AO RIO DE JANEIRO
E AS SUAS
IMPRESSÕES
DA SUA
VISITA A PENAFIEL
Quando Mário de Oliveira e sua esposa
D. Lícia de Oliveira, chegam a Lisboa, encontra-se atracado no Rio
Tejo o navio transatlântico Cap Arcona, um dos mais belos e luxuosos
navios da época, bem como o quarto maior navio da marinha mercante
alemã.
Nele embarcaram na madrugada de sábado,
12 de Outubro de 1934, com destino ao Rio de Janeiro.
Navio transatlântico Cap Arcona |
Para bordo daquele luxuoso paquete
foram dirigidos telegramas a Mário de Oliveira de saudação e
agradecimento pela Comissão Administrativa da Câmara Municipal de
Penafiel, Mesa da Santa Casa da Misericórdia, Confraria da Nossa
Senhora da Piedade e Santos Passos e Direcção da Associação dos
Bombeiros Voluntários de Penafiel, aos quais V. Ex.ª tive a
amabilidade de agradecer pela Telegrafia
Sem Fios
do mesmo vapor.
Pelas 15 horas do dia 27 de Outubro de
1934, chega ao Rio de Janeiro o navio Cap Arcona, onde lança amarras
no Cais do Porto, Armazém N.º 1, onde Mário de Oliveira e sua
esposa eram esperados por uma enorme multidão de pessoas que,
representando desde as mais destacadas hierarquias sociais às mais
humildes classes trabalhadoras, ali iam levar ao mais distinto
industrial o seu preito de homenagem.
O Sr. Mário de Oliveira foi o primeiro
passageiro a desembarcar, não dando tempo a que o fossem
cumprimentar a bordo.
Mas ao atravessar a “passerelle”
recebia ele, já, de um lado e do outro, apertos de mão comovidos
ou abraços afectuosos que retribuía visivelmente emocionado.
Chegada de Mário de Oliveira e esposa ao Rio de Janeiro. |
Entre as pessoas que o aguardavam,
viam-se os seus dedicados colaboradores Srs. Pinto Júnior, João de
Canali e Joaquim Pinto da Fonseca , respectivamente, Director,
Gerente e Secretário da Companhia Hanseática, assim como o Sr. Raul
Monteiro Guimarães, Director-Gerente do Moinho da Luz, e o filho,
seu inteligente auxiliar.
Rodeado de admiradores e amigos, cheios
de natural ansiedade de lhe ouvir relatar impressões de viagem.
Mário de Oliveira começa por dizer
que Portugal é entre todos os países que acabo de percorrer, aquele
de que guardo mais preciosas recordações e mais fundas saudades.
Foi em Penafiel entre localidades das
Províncias de Portugal, que melhor oportunidade teve de verificar a
obra de reconstrução nacional do actual regime político (Estado
Novo). E não admira que assim fosse.
Eu via e sentia-a na cidade de
Penafiel, enquadrada num cenário de ternura, que jamais desaparecerá
dos meus olhos ou se apagará do meu coração.
Quando entrei em Penafiel senti a mais
profunda comoção que tenho experimentado em toda a minha vida.
Primeiramente, cheguei a acreditar que
a cidade se adornara e se movimentara com aquele alvoroço e com
aquele regozijo para festejar qualquer data de significado na vida
nacional.
E foi só depois, que me compenetrei da
ideia de ter sido a minha visita a causa única daquele memorável
dia de galas e de entusiasmos.
E profundamente comovido, o Sr. Mário
de Oliveira acrescenta:
Quase me era impossível
agradecer as manifestações carinhosas que de todos os lados me
dirigiam. As lágrimas embargavam-me a voz. Sentia-me, infinitamente
pequeno diante de tanta grandeza de espírito e de alma. Ah! Não é
impunemente que Penafiel ostenta nos seus brasões a legenda de ouro
de “fidelidade”.
Ela guarda bem a memória de meu Pai
que tanto amor lhe consagrou até ao último suspiro de sua vida.
Foto de Fernando Beça Moreira |
Infelizmente nos dias que correm, já
não se pode dizer o mesmo, basta ver o que certa gente fez ao busto
de Zeferino de Oliveira, retirando-o para um canto sem visibilidade,
não tendo o mínimo de consideração e respeito, por quem tanto fez
pela Santa Casa da Misericórdia e pela cidade de Penafiel.
Mudando de assunto alguém lhe pergunta
à queima-roupa:
- Chegou a ter conhecimento, antes
da sua partida de Lisboa, da nova mercê honorífica com que o
Governo Português o destingiu?
- Quando parti de Lisboa,
desconhecia essa distinção, embora o Secretário do Sr. Ministro
dos Negócios Estrangeiros tivesse ido a bordo, a fim de me
apresentar cumprimentos de despedidas, em nome do ilustre titular da
pasta. Soube, todavia, da notícia, alguns dias depois, por meio de
um rádio expedido para bordo.
Então, na passagem da linha do
Equador, os passageiros da primeira, segunda e terceira classes do
navio “Cap Arcona”, aproveitando esse ensejo, ofereceram-me uma
festa revestida de solenidade e de tocante ternura, à qual se dignou
presidir o eminente Sr. Dr. Guerra Duval, Embaixador do Brasil em
Portugal.
O Sr. Jaime Loureiro, considerado
comerciante português em S. Paulo, e Presidente da Associação
Comercial de Pauliceia, tomou, gentilmente, sobre si o encargo de me
saudar e de me felicitar, e de tal forma o fez que as suas palavras,
calando profundamente na minha alma, deixaram-me, em extremo,
penhorado e cativo.
E foi assim que Mário de Oliveira foi
contando aos seus amigos brasileiros a sua estadia entre nós.
Realmente pensando bem, a maioria dos
brasileiros possui duas Pátrias... aquela onde nasceram e aquela de
onde provieram os seus antepassados.
Afinal de contas, não é por acaso,
que nos tratamos por países irmãos.
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