17 agosto 2016

O CEMITÉRIO DA SAUDADE

O CEMITÉRIO DA SAUDADE
E A SUA CAPELA

 
Um decreto do reinado de D. MARIA II, no ano de 1846, era Primeiro – Ministro, António Bernardo da Costa Cabral, que proibia os enterros nas Igrejas. 
 
Não foi fácil na altura esta medida ser aceite pela população. O País ainda sangrava da última guerra civil entre os irmãos Rei D. Pedro e o Rei D. Miguel. 
 
As reformas impostas pelo Governo Cartista dos “ Cabrais “ causaram mal-estar no Povo. 
 
O próprio clero mais conservador falava da lei da proibição dos enterros nas igrejas como anti-religiosa e como tendo a chancela do diabo e da Maçonaria. 

Dá-se a revolta do Minho ou da Maria da Fonte que se opõe contras as medidas anunciadas. 
 
Liderada por uma mulher de Póvoa de Lanhoso, esta revolta põe em causa o governo de Costa Cabral. 
 
Por uma questão de saúde pública, são definitivamente proibidos os enterros no interior das igrejas. 

 
Na altura para evitar doenças, havia o hábito de as portas das Igrejas serem abertas algum tempo antes das cerimónias, para evitarem a inalação dos odores que estavam entranhados no interior. 


 
Para evitar mais revoltas arranja-se uma solução intermédia: fazer os enterros nos adros. Mas sabia-se que não era a solução ideal. 
 
Algumas freguesias começam mais cedo a construírem os Cemitérios em campo aberto mas devidamente vedado. 
 
Muitas terras, implantam o seu Cemitério num local bem enquadrado com a Igreja Paroquial, o que não é o caso de Penafiel, já que a Igreja Matriz, está implantada entre o povoado.



O Cemitério na cidade de Penafiel, foi construído na Rua da Saudade, e foram benzidos os canteiros 1 e 2 do mesmo para enterramentos no dia 1 de Novembro de 1870, pelo padre de Santo Ildefonso, no Porto, o sr. Dr. Domingos de Sousa Moreira Freire, que nesta terra viveu os melhores anos da sua infância e adolescência, representando-se já como abade, em cortes como deputado. 

 

Depois os canteiros 3-4 e 5-6 já foram benzidos mais tarde.

Campas do canteiro 6.

A Capela que fica situada do lado direito, de quem entra no portão principal do cemitério, foi sagrada e benzida no dia 1 de Novembro de 1888.



Pelas 10 horas desse dia, efectuou-se a cerimónia da bênção da capela, que se encontrava elegantemente adornada com cortinas, jarras de flores e atapetada, havendo em seguida missa cantada por oito padres e grande instrumental, sendo celebrante o Reverendo Sr. Joaquim Barbosa Leão, capelão do cemitério, auxiliado pelos reverendíssimos srs. José de Sousa Vinhoz e António Teixeira. 
 
A capela achava-se literalmente cheia de indivíduos de várias classes sociais, alguns membros da Câmara Municipal, autoridades civis, etc..

A orquestra da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, mais uma vez firmou os seus créditos, executando primorosamente alguns trechos do seu magnífico reportório, abrilhantando o acto.

O altar-mor, essa antiguidade artística, com a sua soberba obra de talha, foi adquirido no Porto pela Câmara, por baixo preço e num estado lastimável, mas graças a um artista penafidelense que laborioso e pacientemente a pôs no estado em que ela hoje se encontra.

É de salientar que graças aos esforços do Padre Joaquim Barbosa Leão e à Câmara Municipal foi possível concluir tal obra que estava paralisada à mais de dois anos.



Quando da inauguração do Cemitério Municipal, em 1870, ou seja na ocasião do primeiro enterramento ali feito, deram-se alguns distúrbios, que o povo fez, devido à relutância que então havia em trocar, para tal efeito, as igrejas pelo cemitério, sendo apedrejados os edifícios e portas do cemitério, e desacatadas as autoridades civis e eclesiásticas. Por tal motivo houve processos julgados no Tribunal Judicial, sendo patrono dos réus o Dr. António Joaquim de Araújo.

Como sabemos esta mudança não foi pacífica em todo o país, e os penafidelenses não ficaram indiferentes ao verem os seus entes queridos deixarem de serem enterrados nas igrejas, mas sim no cemitério local na Rua Saudade.

Falando cá com os meus botões, parece-me que esta capela no Cemitério da Saudade, onde repousam os restos mortais dos nossos entes queridos, é pena passar a maioria dos dias do ano com as portas encerradas, quanto mais não fosse para arejar.