O CEMITÉRIO DA SAUDADE
O
CEMITÉRIO DA SAUDADE
E A SUA CAPELA
Um
decreto do reinado de D. MARIA II, no ano de 1846, era Primeiro –
Ministro, António Bernardo da Costa Cabral, que proibia os enterros
nas Igrejas.
Não
foi fácil na altura esta medida ser aceite pela população. O País
ainda sangrava da última guerra civil entre os irmãos Rei D. Pedro
e o Rei D. Miguel.
As
reformas impostas pelo Governo Cartista dos “ Cabrais “ causaram
mal-estar no Povo.
O
próprio clero mais conservador falava da lei da proibição dos
enterros nas igrejas como anti-religiosa e como tendo a chancela
do diabo e da Maçonaria.
Dá-se
a revolta do Minho ou da Maria da Fonte que se opõe contras as
medidas anunciadas.
Liderada
por uma mulher de Póvoa de Lanhoso, esta revolta põe em causa o
governo de Costa Cabral.
Por
uma questão de saúde pública, são definitivamente proibidos os
enterros no interior das igrejas.
Na
altura para evitar doenças, havia o hábito de as portas das Igrejas
serem abertas algum tempo antes das cerimónias, para evitarem a
inalação dos odores que estavam entranhados no interior.
Para
evitar mais revoltas arranja-se uma solução intermédia: fazer os
enterros nos adros. Mas sabia-se que não era a solução ideal.
Algumas
freguesias começam mais cedo a construírem os Cemitérios em campo
aberto mas devidamente vedado.
Muitas
terras, implantam o seu Cemitério num local bem enquadrado com a
Igreja Paroquial, o que não é o caso de Penafiel, já que a Igreja
Matriz, está implantada entre o povoado.
O
Cemitério na cidade de Penafiel, foi construído na Rua da Saudade,
e foram benzidos os canteiros 1 e 2 do mesmo para enterramentos no
dia 1 de Novembro de 1870, pelo padre de Santo Ildefonso, no Porto, o
sr. Dr. Domingos de Sousa Moreira Freire, que nesta terra viveu os
melhores anos da sua infância e adolescência, representando-se já
como abade, em cortes como deputado.
Depois
os canteiros 3-4 e 5-6 já foram benzidos mais tarde.
Campas do canteiro 6. |
A
Capela que fica situada do lado direito, de quem entra no
portão principal do cemitério, foi sagrada e benzida no dia 1 de
Novembro de 1888.
Pelas
10 horas desse dia, efectuou-se a cerimónia da bênção da capela,
que se encontrava elegantemente adornada com cortinas, jarras de
flores e atapetada, havendo em seguida missa cantada por oito padres
e grande instrumental, sendo celebrante o Reverendo Sr. Joaquim
Barbosa Leão, capelão do cemitério, auxiliado pelos
reverendíssimos srs. José de Sousa Vinhoz e António Teixeira.
A
capela achava-se literalmente cheia de indivíduos de várias classes
sociais, alguns membros da Câmara Municipal, autoridades civis,
etc..
A
orquestra da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo,
mais uma vez firmou os seus créditos, executando primorosamente
alguns trechos do seu magnífico reportório, abrilhantando o acto.
O
altar-mor, essa antiguidade artística, com a sua soberba obra de
talha, foi adquirido no Porto pela Câmara, por baixo preço e num
estado lastimável, mas graças a um artista penafidelense que
laborioso e pacientemente a pôs no estado em que ela hoje se
encontra.
É
de salientar que graças aos esforços do Padre Joaquim Barbosa Leão
e à Câmara Municipal foi possível concluir tal obra que estava
paralisada à mais de dois anos.
Quando
da inauguração do Cemitério Municipal, em 1870, ou seja na ocasião
do primeiro enterramento ali feito, deram-se alguns distúrbios, que
o povo fez, devido à relutância que então havia em trocar, para
tal efeito, as igrejas pelo cemitério, sendo apedrejados os
edifícios e portas do cemitério, e desacatadas as autoridades civis
e eclesiásticas. Por tal motivo houve processos julgados no
Tribunal Judicial, sendo patrono dos réus o Dr. António Joaquim de
Araújo.
Como
sabemos esta mudança não foi pacífica em todo o país, e os
penafidelenses não ficaram indiferentes ao verem os seus entes
queridos deixarem de serem enterrados nas igrejas, mas sim no
cemitério local na Rua Saudade.
Falando
cá com os meus botões, parece-me que esta capela no Cemitério da
Saudade, onde repousam os restos mortais dos nossos entes queridos, é
pena passar a maioria dos dias do ano com as portas encerradas,
quanto mais não fosse para arejar.
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