27 julho 2016

RUA DO PAÇO


A RUA DO PAÇO
A RUA QUE ANTES DE O SER,
JÁ O TINHA SIDO



Reinava em Portugal o Rei D. José I, e no governo o Marquês de Pombal.

Este último não se dava lá muito bem com a Diocese do Porto, e vai tramá-la, passando a 3 de Março de 1770 a vila Arrifana de Sousa a cidade com o nome de Penafiel, e em 21 de Junho de 1770 cria a Diocese de Penafiel, sendo nomeado Bispo de Penafiel Frei Inácio de S. Caetano, que pelo sinal nunca cá pôs os pés.

A Catedral do Bispo de Penafiel, era a actual Igreja da Misericórdia, que nessa época se chamava de Nossa Senhora e S. José.

O Paço Episcopal era na parte antiga do prédio onde hoje funciona uma Escola de Enfermagem da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário - CESPU .



Com a morte de D. José I, e a queda do Marquês de Pombal, Frei Inácio de S. Caetano, Bispo de Penafiel, renuncia ao cargo de que o Papa Pio VI aceita e suprime ao mesmo tempo a Diocese de Penafiel a 9 de Dezembro de 1778.

Apesar de esta curta duração da Diocese de Penafiel 1770-1778, em que mesmo o próprio Bispo de Penafiel, nunca se dignou entrar no seu Paço Episcopal, foi o tempo suficiente para virar nome de rua, Rua do Paço, que une a Rua Direita ao Largo da Ajuda.

Neste anúncio assinala antiga Rua do Paço


Na Sessão de Câmara de Penafiel de 7 de Abril de 1910, o vereador Coelho da Silva, propôs que à Rua do Paço se desse o nome do escritor Alexandre Herculano, associando-se assim o município de Penafiel às comemorações do centenário do nascimento deste grande historiador, que decorriam em vários pontos do país.

Foto Borges na Rua Alexandre Herculano


Assim a partir de 1910, a Rua do Paço passa a ser designada Rua Alexandre Herculano.

Na acta da Sessão de Câmara de 23 de Janeiro de 1943, o vereador José Adelino Cabral de Noronha e Meneses, propôs e foi aceite que a Rua Alexandre Herculano, passasse a designar-se Rua do Paço.

E foi assim no ano de 1943, a Rua que já tinha sido do Paço, voltasse de novo a essa designação.

Foto Borges agora  na Rua do Paço


A polémica instala-se nos jornais locais como no artigo publicado no jornal “O Tempo” de 24 de Janeiro de 1943 com o título “Porto, tantos de tal” e o subtítulo “Rua do Paço? Não!”, que a dada altura diz o seguinte:

“... Permitam-nos que publicamente discordemos desta resolução.
Alexandre Herculano foi e eternamente será um símbolo das letras portuguesas. Deixou um rasto de tal modo fulgurante, que jamais se apagará, ainda mesmo que risquem o seu nome das esquinas das ruas.

O Paço é coisa que efemeramente existiu em Penafiel e não tem possibilidade alguma de voltar a ser instalado: mas, ainda mesmo que fosse, ainda mesmo que existisse, não era o caso em nossa modesta opinião, para riscar o nome do grande historiador, alma da literatura portuguesa das paredes duma rua que há vários decénios o possuía.
Assim diremos: - Rua do Paço? – Não!”

Em resposta a este texto, foi publicada uma carta no jornal “O Tempo” de 7 de Fevereiro de 1943, assinada por José Adelino Cabral de Noronha e Meneses.

“Cabe a mim a responsabilidade de como vereador, ter submetido à apreciação e aprovação da Ex.ma Câmara deste concelho uma proposta para fazer substituir por Rua do Paço a designação da rua, até agora conhecida por de Alexandre Herculano.”

Texto da proposta:

“Embora o hábito se tenha encarregado de nos familiarizar com os nomes que foram dados a determinadas ruas desta cidade, talvez que, ainda seja oportunidade de pensar-se numa revisão toponímia, não porque se tenham tornado indignos à nossa consciência os motivos que levaram a adoptá-los mas porque parece ser corrente com o nosso bairrismo, guardar recordações que nos são agradáveis e que, poderão concorrer para despertar em nós  nos que aqui vem, a curiosidade de procurarem saber a causa porque, determinada artéria desta cidade tem este ou aquele nome, curiosidade essa que nos será lisonjeiro satisfazer.

Dentre as diversas ruas da cidade que estão nestas condições, encontra-se a de Alexandre Herculano. 

A história já tomou sobre si o encargo de  consagrar a forte personalidade deste insigno vulto das letras Pátrias, não sendo, por isso legítimo pensar-se que a substituição do seu nome, numa rua a que se encontram ligadas recordações que, a nós penafidelenses é lícito conservarmos bem latentes, concorra para ofuscar e lançar ao esquecimento a figura daquele grande português, assim tenho a honra de propor:
- Que a artéria desta cidade que tem o nome de Rua Alexandre Herculano, passe a designar-se Rua do Paço!”


E assim ficamos a saber que a Rua do Paço, antes de o ser já o tinha sido.