22 abril 2014

AS ÁRVORES DA NOSSA ESCOLA



AS ÁRVORES DA NOSSA ESCOLA


As árvores da nossa escola primária, são centenárias.

Evidentemente que nem todas sobreviveram à motosserra do “progresso”, mas a maioria delas festejaram no dia 15 de Março a bonita idade de cem anos, a embelezar o recreio da nossa escola.

Serviram muitas das vezes de balizas em jogos de futebol organizados pela malta, como paisagem para a foto das classes com os respectivos professores, quantas das vezes graças a elas fintamos os nossos amigos que nos queriam agarrar naquelas correrias de brincadeira, para além das sombras que nos proporcionavam nos dias quentes de Verão, enquanto saboreávamos o lanche, que muitas das vezes não passava de um quarto de sêmea comprada com cinco tostões, no Jerónimo da padaria.

Equipa de futebol. Foto cedida por Beça Moreira

Durante a 1.ª República Portuguesa (5 de Outubro de 1910 a 28 de Maio de 1928), era costume realizar-se a nível nacional a Festa da Árvore.

Assim, no domingo, 15 de Março de 1914, na cidade de Penafiel, com todo o brilho e entusiasmo, os professores das Escolas Centrais, auxiliados pelo hábil e inteligente chefe da banda de infantaria, sr. Baltazar Falcão, não se pouparam a esforços para que a Festa da Árvore fosse um êxito.


Ás 10h 30m deu-se início à sessão solene, que foi aberta pelo zeloso professor regente sr. Belmiro Nogueira Xavier, que agradeceu a presença de todos os convidados e a sua cooperação nesta festa, dando de seguida a presidência ao sr. Major Silva, que representava o comandante do regimento de infantaria 32.

Sua excelência agradeceu o honroso cargo, e convidou para o secretariar o sr. dr. António Guedes Pereira, valioso amigo da instrução popular e o Presidente da Junta de Freguesia de Penafiel, o sr. António Abrantes Ferreira.

Tomando a palavra o professor Belmiro Xavier, principiou por afirmar que os professores oficiais do concelho de Penafiel se achavam altamente melindrados com o vandálico procedimento de alguns fanáticos que, no ano transacto, destruíram todas as árvores plantadas por ocasião desta mesma festa. Mostrando o seu valor cívico, fez ver que devia ser bem recebida pelos adeptos da religião cristã, pois que as árvores exercem poderosa e capital influência no meio de toda a humanidade. Divagou largamente sobre as suas vantagens, e pediu para elas todo o respeito, veneração e cultura. 

Sendo muito aplaudido no final.


Seguiu-se um aluno que pronunciou um discurso alusivo à árvore, o qual lhe mereceu prolongados aplausos.

De seguida tomou a palavra o sr. Manoel Mesquita Monteiro, ilustre capitão de infantaria, que fez algumas referências à Festa da Árvore, falando depois do patriotismo dos nossos antepassados, terminando com um incitamento o povo ao trabalho, principal factor no progresso da nossa Pátria.

O sr. Major Silva, ao encerrar a sessão, incutiu no espírito das criancinhas o amor pela Pátria e pela instrução.

Turma da 1.ª classe com a  professora. Foto de 1957
Depois foram plantadas, no terreno que circunda a escola, algumas árvores cuidadosamente enfeitadas.

O orfeão infantil, regido pelo sr. Baltazar Falcão, entoou admiravelmente, durante os intervalos, a Sementeira, a Portuguesa, o Hino das Árvores, a Palmatória e o Hino das Escolas Centrais desta cidade. 

Aqui fica a letra do Hino das Árvores, de autoria de Olavo Bilac.

O HINO DAS ÁRVORES

Quem planta uma árvore enriquece
a terra, mãe piedosa e boa:
E a terra aos homens agradece,
a mãe aos filhos  abençoa.
A árvore, alçando o colo cheio
de seiva forte e de esplendor,
deixa cair do verde seio
a flor e o fruto, a sombra e o amor.
Crescei, crescei, na grande festa
da luz, do aroma e da bondade,
árvores-glória da floresta!
Árvores-vida da cidade!
Crescei, crescei, sobre os caminhos,
árvores belas, maternais,
dando morada aos passarinhos,
dando alimento aos animais!
Outros verão os vossos pomos!
Se hoje sois fracas e crianças,
nós esperanças também somos:
plantamos outras esperanças!
Para o futuro trabalhamos:
pois, no porvir, nossos irmãos
hão-de cantar sob estes ramos,
e bendizer as nossas mãos!


Infelizmente, quem conheceu Penafiel nos anos 50, do século passado, pode testemunhar nos dias que correm, faltam muitas árvores na nossa cidade.

Ameixoeiras que haviam no Largo da Ajuda
Para todos aqueles que contribuíram para tal situação, desde o Jardim do Sameiro, passando pelo Largo da Ajuda, e acabando na Av. Sacadura Cabral e Egas Moniz, aconselho-os a lerem o Hino das Árvores, para ficarem a saber coisas tão simples como esta: “quem planta uma árvore enriquece a terra”.