ESTA GENTE EXISTIU
ESTA
GENTE EXISTIU
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Através do telejornal,
fiquei a saber que muitas cantinas escolares vão continuar a laborar nestas
férias da Páscoa, para servirem refeições a alunos que de outra maneira estavam
condenados a passarem a Páscoa com fome.
Se esta situação não é
nova no país, pois já no tempo da Guerra Civil de Espanha (1936-1939), enquanto
se enviavam as sobras de Portugal para as tropas de Franco, graças à
solidariedade e boa vontade de certas pessoas o caso da fome nas escolas se ia
resolvendo.
Escola da Bustelo. Foto cedida por Reinaldo Meireles |
Estou-me a lembrar do
benemérito Manuel da Rocha Melo, que às suas custas financiou a construção e o funcionamento
das cantinas de Novelas e Bustelo, assegurando refeições gratuitas aos alunos
que delas necessitavam nestas freguesias do concelho de Penafiel.
À Cantina de Novelas
deu-lhe o nome de sua esposa América Cardeal da Rocha Melo e à de Bustelo
baptizou-a com o nome da sua filha Maria do Carmo da Rocha Melo.
Ao desfolhar o jornal
“O Tempo de 1938”, encontrei dois acrósticos assinados por um tal CABANAS, que
retrata desta forma literária a solidariedade desta família, para com os seus
conterrâneos.
O primeiro dedicado a
América Cardeal da Rocha Melo, e o segundo a Maria do Carmo da Rocha Melo e
rezam assim:
Escola de Novelas. Foto cedida por Reinaldo Meireles |
Alma
santa nos ensina
Mestra
em filantropia
Em
escola e em cantina,
Real,
bondade e valia.
Ilustrando-se
as crianças,
Com
a luz que forma estrelas,
Acendem-se
as esperanças,
Com
o bem que tem Novelas.
Assim
já iluminassem
Ricas
luzes de instrução
De
toda a parte irradiassem
Estes
bens do coração.
A
grandeza que encerra
Lá
ao mais alto ascendendo
Desta
acção da vossa terra
Anda
Deus agradecendo.
Risonhos
anjos, lá há,
Ofertam
ventura imensa,
Carinhos,
risos, e, já,
Há
no céu a recompensa
A
tal Mãe deles, de cá.
Minha
pena assim pudesse
Erguer-vos
um monumento
Literário,
sucedesse
O
ter eu maior talento.
CABANAS
Escola de Bustelo. Foto cedida por Reinaldo Meireles |
Mãe
dos pobres de Bustelo
Alma
isenta de egoísmo
Ruma
neste bem mais belo
Incensada
de humanismo
Aqui
vos presto o meu preito,
Dedicado
a vosso zelo,
Orientado
pelo feito
Conferido
ao Bustelo
A
escola e a cantina
Revela-se
assim já tanto,
Maria, qual Mãe divina,
O
teu nome será santo.
De
ventura cobrirá
As
tuas acções tão nobres,
Rei
dos Céus, Deus, te dará
O
lugar da Mãe dos pobres
Clarim
de mores talentos,
Havia
de ser, Senhora,
A
chamar, aos avarentos,
Egoístas
d’esta hora.
Mas
ao culto da bondade,
Eu,
embora sem talento,
Lembrarei
à humanidade
O
vosso merecimento.
CABANAS
Dizem-me que gente
desta categoria já não existe, o que até pode ser verdade, mas antes que os
apagadores da história actuem, aqui fica um registo para que os vindouros
saibam, que esta gente existiu, e nem precisam de um busto, nem de serem
medalhados para serem lembrados, respeitados e acarinhados, já que as suas obras
falam mais alto.
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