NATÁLIA CORREIA
NATÁLIA CORREIA
Na Lagoa das Furnas |
Natália de Oliveira Correia nasceu na Ilha de São Miguel, Açores, em Fajã de Baixo, no
dia 13 de Setembro de 1923.
Na década de 1930, Natália Correia, com a mãe, saiu dos Açores e fixou-se em Lisboa, onde no liceu D. Filipa de Lencastre, já mostrava interesse pelas publicações juvenis.
Na década de
40, foi jornalista na Rádio Clube Português, e assinou as listas do Movimento
de Unidade Democrática (MUD), que se opunha ao Estado Novo.
Em 1946,
publicou num jornal o seu primeiro poema, "Manhã Cinzenta", e também
o romance "Anoiteceu no Bairro".
Colaborou em
diversas publicações e publicou o primeiro livro de poemas, "Rio de
Nuvens", em 1947.
De
reconhecida combatividade política, defensora dos direitos das mulheres, vários
dos seus livros foram apreendidos pela Censura.
Ainda
durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974, participou nas diferentes
campanhas presidenciais da Oposição Democrática, designadamente de Norton de
Matos e Humberto Delgado e, em 1969, integrou a Comissão Eleitoral de Unidade
Democrática (CEUD) que, entre outros nomes, contava com o de Mário Soares.
Em sua casa em Lisboa |
Em 1966,
publicou a "Antologia de Poesia Erótica e Satírica", pela qual viria
a ser julgada em 1970 e condenada a três anos de pena suspensa.
Pouco depois,
seria processada pela responsabilidade editorial das "Novas Cartas
Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa
Horta, publicadas originalmente em 1972.
Em 1968,
publicou o livro de poesia "Mátria", título que dará anos mais tarde
a um programa televisivo de sua autoria, em 1986, na RTP.
Escritora
com obra editada desde 1946, destacou-se na poesia, teatro, romance e ensaio.
Foi também tradutora, jornalista (nomeadamente com colaboração no Diário de
Notícias e A Capital),
guionista e editora.
Promoveu
tertúlias artísticas e literárias, tendo fundado o bar Botequim, juntamente com
Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, em torno do qual gravitava
grande parte da intelectualidade portuguesa nos anos 70 e 80.
Em 1991,
recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo
livro Sonetos Românticos. No mesmo
ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de
Santiago.
Na Assembleia da
República, como deputada, entre 1979 e 1985 e entre 1987 e 1991, como
independente pelos partidos PSD e PRD, que a intervenção política de Natália
Correia ganha a face mais institucional.
Numa clara demonstração do seu carácter irreverente,
veja se a resposta de Natália Correia ao deputado João Morgado (CDS), em 1982
na Assembleia da República, na sequência de um "eloquente" discurso
daquele: «A igreja Católica proíbe o aborto porque entende que o acto sexual é
para se ver o nascimento de um filho». Ao que Natália Correia, ao tempo deputada
do PSD, ripostou:
Já que o
coito diz Morgado
tem como fim
cristalino,
preciso e
imaculado
fazer menino
ou menina
e cada vez
que o varão
sexual
petisco manduca,
temos na
procriação
prova de que
houve truca truca,
sendo só pai
de um rebento,
lógica é a
conclusão
de que o
viril instrumento
só usou
parca ração! uma vez.
E se a
função faz o órgão diz o ditado
consumado
essa excepção,
ficou capado
o Morgado.
Na madrugada de16 de Março de1993, morreu subitamente,
com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de
regressada do Botequim.
A sua morte precoce deixou um vazio na
cultura portuguesa muito difícil de preencher.
Biblioteca de Ponta Delgada nos Açores |
Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte
do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa)
constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos,
iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca
privada.
Texto de Natália Correia, fixado na parede de entrada da biblioteca de Ponta Delgada. |
Se estivesse entre nós, tinha feito na
passada sexta-feira, dia 13 de Setembro 90 anos.
Em sua homenagem, vamos ouvir o seu poema
“Queixa das almas jovens censuradas”, que José Mário Branco notabilizou com
música e voz.
- Bom domingo!
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