15 setembro 2013

NATÁLIA CORREIA



NATÁLIA CORREIA

Na Lagoa das Furnas

Natália de Oliveira Correia nasceu na Ilha de São Miguel, Açores, em Fajã de Baixo, no dia 13 de Setembro de 1923.

 
Casa onde Nasceu Natália Correia

Na década de 1930, Natália Correia, com a mãe, saiu dos Açores e fixou-se em Lisboa, onde no liceu D. Filipa de Lencastre, já mostrava interesse pelas publicações juvenis.

 
Natália Correia ainda jovem

Na década de 40, foi jornalista na Rádio Clube Português, e assinou as listas do Movimento de Unidade Democrática (MUD), que se opunha ao Estado Novo. 

Em 1946, publicou num jornal o seu primeiro poema, "Manhã Cinzenta", e também o romance "Anoiteceu no Bairro".

Colaborou em diversas publicações e publicou o primeiro livro de poemas, "Rio de Nuvens", em 1947.

De reconhecida combatividade política, defensora dos direitos das mulheres, vários dos seus livros foram apreendidos pela Censura. 

Ainda durante o regime anterior ao 25 de Abril de 1974, participou nas diferentes campanhas presidenciais da Oposição Democrática, designadamente de Norton de Matos e Humberto Delgado e, em 1969, integrou a Comissão Eleitoral de Unidade Democrática (CEUD) que, entre outros nomes, contava com o de Mário Soares.

Em sua casa em Lisboa

Em 1966, publicou a "Antologia de Poesia Erótica e Satírica", pela qual viria a ser julgada em 1970 e condenada a três anos de pena suspensa.

Pouco depois, seria processada pela responsabilidade editorial das "Novas Cartas Portuguesas", de Maria Isabel Barreno, Maria Velho da Costa e Maria Teresa Horta, publicadas originalmente em 1972.

Em 1968, publicou o livro de poesia "Mátria", título que dará anos mais tarde a um programa televisivo de sua autoria, em 1986, na RTP.


Escritora com obra editada desde 1946, destacou-se na poesia, teatro, romance e ensaio. Foi também tradutora, jornalista (nomeadamente com colaboração no Diário de Notícias e A Capital), guionista e editora.

Promoveu tertúlias artísticas e literárias, tendo fundado o bar Botequim, juntamente com Isabel Meireles, Júlia Marenha e Helena Roseta, em torno do qual gravitava grande parte da intelectualidade portuguesa nos anos 70 e 80.

Em 1991, recebeu o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro Sonetos Românticos. No mesmo ano foi-lhe atribuída a Ordem da Liberdade; era já detentora da Ordem de Santiago.




Na Assembleia da República, como deputada, entre 1979 e 1985 e entre 1987 e 1991, como independente pelos partidos PSD e PRD, que a intervenção política de Natália Correia ganha a face mais institucional.

Numa clara demonstração do seu carácter irreverente, veja se a resposta de Natália Correia ao deputado João Morgado (CDS), em 1982 na Assembleia da República, na sequência de um "eloquente" discurso daquele: «A igreja Católica proíbe o aborto porque entende que o acto sexual é para se ver o nascimento de um filho». Ao que Natália Correia, ao tempo deputada do PSD, ripostou:

Já que o coito diz Morgado
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menino ou menina
e cada vez que o varão
sexual petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca truca,
sendo só pai de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou parca ração! uma vez.
E se a função faz o órgão diz o ditado
consumado essa excepção,
ficou capado o Morgado.


Na madrugada de16 de Março de1993, morreu subitamente, com um ataque cardíaco, em sua casa, depois de regressada do Botequim.
A sua morte precoce deixou um vazio na cultura portuguesa muito difícil de preencher. 

Biblioteca de Ponta Delgada nos Açores

Legou a maioria dos seus bens à Região Autónoma dos Açores, que lhe dedicou uma exposição permanente na nova Biblioteca Pública de Ponta Delgada, instituição que tem à sua guarda parte do seu espólio literário (que partilha com a Biblioteca Nacional de Lisboa) constante de muitos volumes éditos, inéditos, documentos biográficos, iconografia e correspondência, incluindo múltiplas obras de arte e a biblioteca privada.

Texto de Natália Correia, fixado na parede de entrada da biblioteca de Ponta Delgada.

Se estivesse entre nós, tinha feito na passada sexta-feira, dia 13 de Setembro 90 anos.
Em sua homenagem, vamos ouvir o seu poema “Queixa das almas jovens censuradas”, que José Mário Branco notabilizou com música e voz.


- Bom domingo!